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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O longo monólogo de Bruno de Carvalho à Sporting TV na passada 3ª feira inseriu-se na estratégia de reforço do pacto de auto-engano que mantém com o seu círculo interno de dirigentes e de fiéis seguidores. É o lado negro do modelo de gestão que adoptou. Na realidade, neste momento da pré-época, imaginar-se-ia o presidente focado naquilo que é essencial e indispensável. Da equipa de futebol quase que não falou, para além das atoardas e gabarolices habituais. As modalidades desportivas pouco foram mencionadas, mas referiu-se (e muito) a assuntos internos do Clube. A razão principal da entrevista residiu no tacticismo subterrâneo permanente de Bruno de Carvalho.
Para ele, adeptos, jogadores, treinadores e outros membros dos órgãos sociais são meros figurantes do seu projecto pessoal. Por serem figurantes mandou calar sportinguistas durante um jantar num Núcleo, ameaçando ir-se embora, ou decidiu que o adepto perfeito é aquele que fala, lê e ouve como o “Vasco”. Ou revelou-se na forma como afirmou que deu indicações a Leonardo Jardim e despachou William Carvalho proclamando que este lhe é devedor da sua carreira de futebolista.
Bruno de Carvalho considera o Sporting como uma coutada sua. A propósito de um processo a José Manuel Meirim, presidente do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, garantiu que “vou colocar os meus advogados a trabalhar nesta atuação muito parcial no que à minha pessoa diz respeito”. Na verdade, estava a referir-se ao gabinete jurídico do Sporting e não a advogados cujos honorários paga do seu bolso. Há algum tempo falou com evidente volúpia do “meu treinador”. No monólogo de 3ª feira referiu-se ao “meu Estádio”.
Acontece com frequência que a cadeira do poder faça o seu “ocupante” perder a própria identidade pessoal e assumir uma outra identidade determinada pela "forma" e pelo “modelo” de governo. O que se passa com Bruno de Carvalho é algo bem diferente, pois ele limitou-se a refinar as características pessoais que já possuía.
Ele tem a necessidade de criar um clima que iluda o seu receio de fracasso depois de quatro anos na presidência, e de manter os sportinguistas na ilusão e na esperança do sucesso. Como vive obcecado com o reconhecimento forte por parte dos sportinguistas, desespera por ter uma impressão favorável entre os adeptos. Mas, de tanto pretender domesticar a realidade corre o risco de descolar dessa mesma realidade.
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