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Futebol com humor à mistura (9)

Rui Gomes, em 23.10.17

 

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Rogério Casanova, jornal Expresso, com a sua análise humorística à performance dos jogadores do Sporting, através da qual, a brincar, se diz muitas verdades. O seu alvo neste dia, o jogo com o Desportivo de Chaves.

 

Rui Patrício

 

Um jogo agradável como elemento mais recuado do meio-campo ofensivo, dando sempre linhas de passe aos colegas e revelando segurança com a bola no pé. Falta-lhe algum rasgo para arriscar mais no drible, no remate, e nos cruzamentos, mas no geral esteve bem nas suas novas funções. Nos últimos minutos recuou para guarda-redes, onde voltou a mostrar que não possui a característica essencial que, como aprendemos esta semana, distingue os grandes guarda-redes: ter culpa nos golos sofridos.
 
 
Cristiano Piccini
 
O tipo de exibição que deve obrigatoriamente levar muitos adeptos a levar à mão à consciência e a pistola ao cepticismo. Eu próprio faço desde já um mea culpa, autorizando que Piccini, a partir de hoje, possa ser valorizado em três milhões oitocentos e setenta e cinco mil euros. Insuperável no 1x1, mesmo dentro da área, a qualidade habitual na recepção com pé, coxa e peitorais, e intervenção directa em três dos golos, a última das quais com uma daquelas situações em que um futebolista profissional encosta o pé a uma forma esférica no sítio correcto e com força suficiente para fazer essa forma esférica sobrevoar um grupo de cidadãos adversários até chegar à cabeça de um cidadão amigo.Há um nome para isso, que nunca será escrito neste espaço, pelos mesmos motivos que os actores nunca dizem o nome de uma certa peça de Shakespeare, chamando-lhe sempre "a peça escocesa".
 
 
Sebastián Coates
 
Negou o direito à auto-determinação dos avançados flavienses e tomou todas as medidas necessárias durante o jogo para subjugar pontuais focos independentistas, administrando com tranquilidade a sua zona de soberania. Ao minuto 69 foi dar uma perninha ao meio-campo e fez uma pirueta por entre dois elementos subversivos, um dos quais o derrubou em falta. Revejam o sorriso que Coates esboçou nesse momento: é aquele o rosto do Poder; é assim que o Leviathan arreganha os dentes quando algo o diverte.
 
 
Jérémy Mathieu
 
Mathieu fez hoje um jogo esquisito. Quanto mais penso no assunto, mais esse me parece o termo técnico adequado para descrever o seu jogo hoje.
 
 
Fábio Coentrão
 
Voltou a sair a 10 minutos do fim, e a equipa voltou a sofrer um golo. Era certamente isto que imaginava o Dr. Alfredo Augusto das Neves Holtreman, quando numa luminosa manhã estival há cento e onze anos decidiu emprestar dinheiro ao seu visionário sobrinho para que este fundasse um clube tão grande como os maiores da Europa: que um século mais tarde esse clube conseguisse lutar arduamente para se reposicionar na senda dos triunfos domésticos - DESDE QUE ESTEJA SEMPRE TUDO RESOLVIDO AO MINUTO 79.
 
 
William Carvalho
 
Estão a ver aqueles dias em que William encarna uma presença remota e autónoma, como se impelida por forças estritamente naturais - o resultado de equações intemporais e não de algo tão banal como "características técnicas" ou "indicações tácticas" - preenchendo o firmamento com a cintilante astronomia das suas aberturas por alto, desenhando uma canópia de ângulos e perspectivas convergentes, e efectuando translações incandescentes sobre o seu próprio eixo, numa órbita de adversários pálidos que circundam o seu corpo com o respeito equidistante típico dos anéis de Saturno?... Hoje não foi um desses dias.
 
 
Gelson Martins
 
Como um blogger libertário ou praticamente qualquer colunista nacional, Gelson comportou-se hoje como um iconoclasta: uma voz livre contra o consenso bien pensant, uma viatura em controversa contra-mão perante o fluxo de ideias feitas e opiniões não-examinadas. Se o lugar-comum da ocasião é que os centros devem ser feitos de uma maneira, lá vai Gelson fazê-los de outra maneira. Se o rebanho determina que a bola deve ir numa determinada direcção, lá vai Gelson atirá-la numa direcção oposta. A postura serviu-lhe para falhar inúmeros passes, contabilizar uma assistência, ajudar q.b. na defesa da causa defensiva, e sair de campo convencido de que, ame-se ou odeie-se a sua exibição, "não deixou ninguém indiferente".
 
 

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Bruno Fernandes
 
Algumas perdas de posse escusadas na primeira meia-hora por apostar demasiado na sua capacidade para se desenvencilhar de situações de inferioridade numérica num centro do terreno com excesso de população. Melhorou quando passou a usar a mobilidade e inteligência para encontrar espaços vazios, e encarregou-se de fazer circular a bola, algo que conseguiu quase sempre, excepto quando, como aconteceu ao minuto 50, o árbitro conseguia interceptar atentamente um dos seus passes. Tentou por duas vezes o remate de longe, algo que claramente não é o seu ponto forte. Aliás, é duvidoso que Bruno Fernandes alguma vez consiga voltar a marcar golos de fora da área. Diria até que é impossível que tal aconteça. Certinho. (Pode ser que resulte).
 
 
Marcus Acuña
 
Um jogo indelével que fica marcado por algo que fez duas vezes - e nem sequer me refiro a ter marcado dois golos. Em duas ocasiões, Acuña foi perseguir desalmadamente uma bola perdida que se encaminhava para fora das quatro linhas com o intuito de impedir um lançamento lateral para o adversário, objectivo que em ambas as ocasiões, falhou por milímetros. Fê-lo quando o resultado estava 3-0, fê-lo quando o resultado estava 4-0, e voltaria a fazê-lo, com o mesmo esforço, com um resultado de 750-0 e no último minuto de descontos, circunstância que considero tão sugestiva, profunda e comovente como o último parágrafo d' Os Maias.
 
 
Daniel Podence
 
Usou os primeiros minutos do jogo para declarar os termos da sua dupla abordagem ao jogo desta noite: sem bola, procurar em velocidade o espaço vazio entre as costas do central e as costas do lateral; com bola, procurar o espaço vazio cinco centímetros à frente do pé ou da cabeça da Bas Dost. Demorou apenas um quarto de hora a unir essas duas propensões, assistindo para o 2-0. Foi o melhor em campo na primeira parte, e saiu cedo para descansar, com o jogo resolvido - uma frase bonita e improvável que não me importaria de repetir imensas vezes.
 
 
Bas Dost
 
Muitas conversas entre um adepto sportinguista que tenta informar outro adepto sportinguista sobre um jogo que o segundo não pode, por algum motivo, acompanhar costumam incluir o seguinte diálogo: "então e depois, o que é que aconteceu?" "O que aconteceu? Bem, não vais acreditar, mas..."
 
Só que o interlocutor normalmente acredita, mesmo que aquilo que lhe é dito seja inacreditável, porque a vida nos foi ensinando coisas suficientes para aprendermos algumas. Bas Dost é o futebolista ideal para o clube porque, tal como nós, nunca parece achar nada "inacreditável". Tal como a Alice de Lewis Carroll, consegue acreditar em seis coisas impossíveis antes do pequeno-almoço: que vai chegar àquela bola antes dos adversários; que um hat-trick é uma resposta perfeitamente natural a 360 minutos com um único remate à baliza; que o País das Maravilhas existe; que a felicidade é possível, mesmo que seja efémera.
 
 
Rodrigo Battaglia
 
Ficou na retina uma jogada ao minuto 83, em que se esfarrapou todo para travar a progressão de Djavan e roubar-lhe a bola, como se o resultado estivesse 0-0 e do sucesso dessa acção dependesse a viabilidade das democracias Ocidentais.
 
 
Seydou Doumbia
 
Estava ainda a pensar na melhor maneira de festejar o golo mais feio da sua carreira quando reparou, com visível e compreensível alívio, que o mesmo fora anulado. Pode assim dormir em paz esta noite.
 
 
Bruno César
 
Não foi um alívio ver que ele ia entrar, mas foi um alívio ver que era ele quem ia entrar, se é que me faço entender.
 

publicado às 04:41

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