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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Há algum tempo, escrevi neste espaço, que a época futebolística estava a correr bem. Esse período coincidiu com o silêncio (estranho) de Bruno de Carvalho. Se havia ou não relação directa é impossível comprovar, mas se fosse como fosse, criou-me algumas expectativas positivas sobre as atitudes do Presidente. Lamento dizê-lo, mas essas expectativas foram apenas fogo fátuo. Mais cedo que tarde, o Presidente-espectáculo, regressou em todo o seu esplendor.
Utilizando a Sporting TV como uma coutada pessoal , e como um odre que foi enchendo, despejou todas as suas diatribes de uma só vez. Falou e falou bem, como um rei absoluto, para os súbditos fiéis e acríticos. O mesmo discurso vago e vazio de conteúdo e (digo-o com tristeza) ridículo na forma.
“EU sou o que sou”, como se a assunção da autocracia, do desrespeito, da presunção, fossem virtudes. Os seus acólitos batem palmas. “EU salvei o Sporting”. Um mito. "O William DEVE-ME a carreira”. Outro mito. Este homem julga viver no Olimpo, vedado aos comuns mortais, mas quem conhece um pouco a mitologia clássica sabe que os deuses tinham defeitos, tal como os homens, e que não os desconheciam. Contudo, BRUNO está muito acima. Nunca erra, nunca mente, foi criado sem pecado original. Veio para salvar o Sporting e todo o futebol. E reconheço que há quem acredite nisto. Veio para moralizar, mas não tem mostrado ponta de moral. Quando muito, pretendia ocupar o espaço que outros, subtilmente, ocupam.
Até agora apenas se salvou a si próprio. O Sporting com mais de cem anos, não precisa, nem nunca precisou de salvadores. Precisa e precisou de homens comuns, com virtudes e defeitos, e que trouxeram o clube, com mais ou menos dificuldades, até aos nossos dias. O Sporting não estava nem nunca esteve para acabar, como afirmam os seus defensores acérrimos.
Depois do que escrevi, decerto que sou insuspeito se disser que Bruno até começou bem. Concretizou a inevitável reestruturação financeira. Mesmo que tivesse sido eleito José Couceiro teria que a fazer. Ajustou, por imposição dos credores, mas ajustou , as despesas à realidade. De motu próprio, ou bem aconselhado, traçou uma estratégia desportiva assente numa progressiva e consistente aproximação aos adversários directos, com a contratação de técnicos competentes e acessíveis aos meios existentes. Essa política, aplicada ao futebol, estava a dar frutos. Um segundo lugar no campeonato e uma taça de Portugal, comprovam-no. Estou convencido que se não tivesse sido interrompida outros títulos teriam sido conquistados.
Num ápice, deitou todo o bom trabalho para o lixo. Numa mudança de rumo abrupta, contratou o técnico mais caro a trabalhar em Portugal, e comprou activos de duvidosa qualidade. Na linha de quem age por impulsos emocionais, convenceu-se que com o novo treinador os títulos estavam garantidos. Usando um pouco de racionalidade e analisando a razão porque os ganhou, no clube de onde veio, não teria dado esse passo. E este, na minha opinião, foi o grande erro capital de Bruno de Carvalho, por ser como é.
Agora continua numa fase de fuga para a frente, de tudo ou nada. Mostra incapacidade de aprender com os erros. Cinco anos depois recusa adequar-se à realidade. Vive num mundo que apenas existe na sua imaginação. Quer estar acima das leis, boas ou más, que regem a indústria do futebol. Com os seus 18 mil votos em três milhões de sportinguistas considera-se intocável. Com a fidelidade incondicional dos que continuam a arranjar argumentos para o defender, mesmo quando não tem razão, mantém a cruzada contra moinhos de vento. E no meio deste reino de loucura está a instituição centenária chamada Sporting Clube de Portugal. Seguramente não irá acabar, mas corre sérios riscos.
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