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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
No dia que se apresentou como candidato oficial à presidência do Sporting, Bruno de Carvalho trouxe consigo a entusiasmante sensação de novo sangue e novas ideias, onde se elogiava no debate o seu conhecimento aprofundado sobre o estado do Clube. O jovem candidato, de discurso objectivo e argumentos fechados (os pontos de acusação à anterior gestão eram evidentes e factuais), em tudo beneficiou do questionável status operativo de Godinho Lopes: desportivamente e financeiramente, embora não estando necessariamente à deriva, o Sporting resumia-se a uma estratégia já esgotada. Restava apenas o último bastião do engenheiro Godinho Lopes – a reestruturação financeira do Clube, prestes a desenhar-se por aqueles que mais tarde a concluiriam.
“Mãe, tive um 20 a Matemática…”
Este tema da “reestruturação financeira” do qual o universo sportinguista acredita ter conhecimento, é para além de vago, sobejamente discutível. Dissimula um rol de ligações sigilosas e quase clandestinas do qual o Clube viveu entre 1984 e 2015, onde todos os Presidentes (sem excepção) desfrutaram ou fizeram parte. A imoralidade do acto constata-se quando, tanto os conhecedores do processo de revitalização do Clube como os maiores ou menores accionistas dos principais credores do Sporting, assumem e aceitam que saíram a perder, de uma forma ou de outra. O leitor, que a título de exemplo detém uma participação nas entidades bancárias através de qualquer aplicação de capital investido, simplesmente desespera pela remuneração do mesmo enquanto o BCP transforma em activo mais de 50 milhões de dívida que o Sporting tem para com esta entidade. Ao proceder deste modo, a Banca nacional beneficia do descalabro do panorama económico português, ávido de se entregar ao capital privado estrangeiro para própria salvação. Agradeceu o Dr. Carlos Costa e o Banco de Portugal, assim como a própria Comissão de salvação nacional (a TROIKA). E agradecem todos os ingleses que validaram o Brexit, que simplesmente se recusam continuar a apoiar o regabofe que existiu durante mais de 40 anos no sector bancário dos países economicamente mais frágeis e sujeitos a uma “gestão de lobby” dos seus próprios governantes.
A Saber…
– A Banca prejudicou o Sporting quando decidiu transformar uma dívida incobrável em activo próprio. Qual manual “Como Transformar Passivo Em Activo Em 5 Minutos”, usou tal engenho para se mostrar às Agências de Ratings mundiais, afim de melhorar a sua cotação de “Lixo” para “Um-Pouco-Mais-Do-Que-Lixo”.
– Para alguns, as aparências são fundamentais. Estas medidas revelaram-se de fútil utilidade à Banca no que objectivava uma demonstração de “recuperação” ao investidor internacional. Porém, útil à Direcção do Sporting: vociferou-se uma “recuperação” financeira do Clube aos seus associados, e quase todos engoliram.
– Em 2013, Bruno de Carvalho prejudicou o Sporting para beneficiar a sua estratégia falida de “investidores”, quando obrigou a Banca a fazer o papel de “russo”, exigindo não as verbas acordadas entre estes e o Clube afim de garantir solvabilidade do nosso emblema até ao fim da época, mas o suficiente para pagar ordenados elevados e investir em atletas na época seguinte, tal como se dizia capaz pelos próprios meios. O resultado, é este: 3 treinadores no Futebol, pouco acerto em contratações e o plantel que temos.
– O Sporting vai proceder a um aumento de Capital tendo em vista uma futura “Operação-Harmónio”; os Sócios que estejam atentos.
– Pedro Madeira Rodrigues – ou qualquer outro candidato que entretanto surja – não poderá usufruir destas acrobacias que tanto ajudaram à criação de um mito. 2013 era o momento para alguém cair na lama e alguém brilhar. Hoje, o Sporting para além de estar penhorado, está de mão atadas o que respeita à sua independência financeira.
– Os leitores devem evitar procedimentos, argumentos e debates heróicos ao compararem períodos homólogos de trimestres, semestres ou anuais de Relatório & Contas do Sporting. Devem utilizar sim ferramentas ao dispor de Economistas (ex: o índice de Sharpe) úteis para combater a demagogia perante plateias. O Rácio de Solvabilidade do Sporting é miserável, depende de uma economia que não a sua. Se o Sr. Carlos Vieira estiver disposto a rebater esta realidade na nossa caixa de comentários (e não como os habituais comentadores/economistas de vão-de-escada que surgem munidos dialéctica de jornal desportivo), será bem-vindo.
“Mãe, tenho um Curso de Gestão de Empresas…”
Um dos maiores problemas no nosso País é a Dissonância Cognitiva que existe entre o querer e o poder. É a profissionalização do Lobby nas instituições que deveriam servir as causas e não os seus próprios executivos. É a dificuldade em ler contratos e respeitar cláusulas. É a dificuldade em executar dentro dos parâmetros, sem excepções. É a dificuldade em planificar e estruturar. É o acreditar que somos os melhores do mundo a desenrascar, acreditando tal como o Sapateiro que também é Político nas horas vagas, que percebemos de tudo um pouco. Este é igualmente um dos problemas que sempre existiu no Sporting, e continua insistentemente a existir.
Bruno de Carvalho, para além de não ter resolvido os problemas estruturais do Sporting neste mandato, delapida continuamente a sua capacidade autónoma de decisão como Presidente, associando-se exclusivamente a um caminho pessoal e intransmissível do qual o Sporting penou no passado, hoje personificado pelo próprio e pelo treinador. Para a dimensão do nosso Clube, convenhamos que depositar a fé em apenas 2 interpretes é manifestamente pouco – num Sporting de vídeo-jogo até poderia resultar, mas nunca na instituição real. Pode o leitor esclarecer-me como se controla num video-jogo apenas metade de uma equipa a agradecer aos adeptos no final do último jogo, com um presidente perdido ao lado destes? O “modelo-Carvalho” está esgotado, porque pura e simplesmente falhou. Para quê fazer disto um drama? Se somos do Sporting, só não podemos é continuar a tolerar mentiras. Seja a este, seja ao próximo, seja a qual presidente for.
“Mãe, afinal estava a sonhar…”
O Clube está num estado tóxico, embrionado numa utopia de emoção e demagogia, do qual nenhum de nós se orgulha. Os mais racionais já não sabem o que sentem ou o que pensam acerca deste momento. Os energúmenos pedem aos pobres jogadores que “joguem à bola” tanto quanto o “desliga essa m…” para os operadores de órgãos de comunicação. O Clube está em Black-Out, mas procede ao levantamento do mesmo, afim de publicar romances pelo Facebook. Bruno de Carvalho gesticula para César. Octávio olha e sorri. Até o Saraiva já fuma cigarro electrónico. Um Clube moderno portanto, à imagem de Homero e da sua Odisseia.
A manutenção do perfil organizacional e estrutural do Sporting a médio-longo prazo depende não apenas do seu comportamento como actor económico na próxima década, mas de um definitivo amadurecimento desta “criança-que-existe-em-nós”. O estado de graça das presidências no Clube estão a durar cada vez menos, porque é tudo “mais-do-mesmo”, é tudo uma mentira que nem de organizada se define. Como se atrai investidores, se nem homens de excelência o Sporting atrai para o ajudar? O Sporting tem de abolir estes regimes presidencialistas de “salvação” e permitir ao invés que se desenvolvam comissões administrativas por excelência, nomeadas por capacidade comprovada nos sectores dos quais o Sporting precisa.
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