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Relatório & Contas, 1º Trimestre

Rui Gomes, em 02.12.16

 

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“…a tendência da natureza em utilizar a evolução criativa para formar

um «todo», que é maior do que a soma de todas as partes”.

 

Jan Christiaan Smuts, em "Holism and Evolution"

 

 

O Sporting enviou à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) o Relatório e Contas relativo ao primeiro trimestre da época 2016/17. Conforme refere o documento, a SAD anuncia resultados positivos de 62,932 Milhões de Euros, “o melhor resultado de sempre desde que foi constituída a sociedade anónima desportiva”. Uma notícia cuja continência será do agrado de todos, sendo que conforme temos conhecimento, o Sporting procura recuperar de todo um percurso financeiramente sinuoso, onde o passado é por diversas vezes apontado como responsável.

 

Do passado, devemos sempre retirar as ilações. Foram muitos anos a investir a fundo perdido, sendo que a maior causa de défice reside efectivamente no mau planeamento estratégico do Clube, sem razoabilidade ou retorno de todos os seus recursos utilizados. Formador por natureza, por diversas vezes o Leão se esqueceu de si próprio, comprando jogadores em ansiedade, fundamentando o nosso fechar de olhos na necessidade imediata de ganhar. A verdade é que pouco ganhámos, e quase nada rentabilizámos. Tal como na vida, tudo tem um preço, mas também tudo tem um custo.

 

Como se obtiveram €62,932 Milhões positivos?

 

A base deste resultado positivo está totalmente ligada ao desempenho da equipa de futebol na época 2015/16. Sim, o Sporting ficou em 2º lugar no campeonato, não vencendo qualquer competição digna de registo, porém quatro cenários se materializaram:

 

- Os adeptos “investiram” mais 20% no Clube neste trimestre (quase €350 mil por mês), do que no período homólogo.

 

- As denominadas receitas clássicas (Direitos TV, Bilheteira, Patrocínios, etc.) renderam ao Clube cerca de €5.562 Milhões/mês, mais €1.300 Milhões/mês do que em 2015.

 

- A entrada directa para a Champions League, juntando a performance na competição até ao momento, já atribuíram ao Sporting €14.646 Milhões, versus os €3.000 Milhões do Play-Off do ano transacto, mais os €3.427 Milhões da participação UEFA.

 

- A valorização do plantel, face às exibições de alguns atletas tanto no campeonato como no Europeu, permitiram um encaixe de transações de jogadores na ordem dos €56.353 Milhões (após respectivas deduções com imparidades no plantel e custos).

 

Ou seja, enumerando os valores globalmente mais importantes neste R&C apresentado:

 

Receitas Clássicas – €16.686 Milhões (mais €4.034 Milhões que 2015).

Performance UEFA – €14.646 Milhões (mais €8.219 Milhões).

Cedências Jogadores e Outros – €901 Milhares (mais €514 Milhares)

Vendas de Atletas – €56.353 Milhões (mais €55.881 Milhões).

 

Assim, observamos que na globalidade, a SAD do Sporting obteve um total de proveitos acima dos €88 Milhões. Se a este valor retirarmos o total dos Custos Operacionais do período em análise, alcançamos então os tais €62.932 Milhões. Bom? Na realidade, seria óptimo! Se assim fosse.

 

€62.932 Milhões… de certeza?

 

Estes documentos vulgarmente conhecidos por Relatório & Contas devem ser lidos e analisados sempre como um todo. Se estes tiverem 100 páginas, quem tiver acesso e interesse à análise, deverá proceder a uma observação minuciosa das 100 páginas. Porque se assim não for, as informações tornam-se vagas e induzem em lapso. Como? Existem valores de duas vias cuja disposição no documento não é linear. Assim, é fácil cair no erro de não consideramos custos de investimentos (a designação dada à compra de atletas) como encargos do Clube. De tal modo, que os €62.932 Milhões não contemplam sequer as custas de aquisição de Bas Dost ou Castaignos – entram no Relatório como Activo de Investimento e não como Custo Operacional. Por outro lado, os €62,932 Milhões são um valor formal, pois grande parte desse dinheiro assenta numa previsão de entrada a médio prazo, não estando no seu todo sequer, à disposição do Clube. Na realidade, o saldo bancário real do Clube pouco mais permite pagar do que os encargos anuais com os Órgãos Sociais – quase €400 Mil. Existe depois um valor à ordem, caucionado, orientado para todos aqueles encargos mensais correntes, nomeadamente vencimentos dos atletas e outros encargos fixos correntes.

 

Não pretendo deste modo colocar em causa a seriedade do R&C apresentado – são dados contabilisticos que servem para análise e observação alheia aos mais impressionáveis, esta é a verdade. Porque de outro modo a sua publicação nunca seria tornada pública. Por outro lado, são claramente notórios os interesses da comunicação social portuguesa não especializada em matérias financeiras, afim de "agradar" ou manipular os seus interesses, com claros objectivos comerciais. Já chega de brincar com os adeptos do Sporting.

 

Quanto custa sustentar a SAD do Sporting?

 

Aconselho agora o leitor a prestar a devida atenção. No anterior exercício, os Custos Operacionais do trimestre cifravam-se nos €18.749 Milhões, indicando-nos que o Sporting tinha em encargos mensais fixos quase €6,3 Milhões. Hoje, a SAD precisa de €8.2 Milhões/mês para se sustentar, dos quais €5 Milhões são destinados a cobrir vencimentos de atletas e técnicos, remanescendo €3,2 Milhões em Custos diversos, alguns mesmo de difícil compreensão. Analisando a dinâmica de Custos ao pormenor, hoje o Sporting tem menos despesas externas (ex: scouting), mas mais encargos internos (vencimentos dos Órgãos Sociais, cedências de atletas). Com cerca de €24.530 Milhões em Custos Operacionais/Trimestre actuais, a minha previsão aponta para que no próximo Exercício Anual, a mesma parcela atinja valores record na ordem dos €73.590 Milhões. Dos cerca de €55 Milhões da época 2015/16, a SAD aumentará os seus custos em quase €19 Milhões anuais. O que significa isto?

 

Significa brincar com o fogo, na minha opinião. Ou então, significa que os adeptos bem podem estar preparados para o próximo passo desta Direcção, que será vender uma participação de larga escala a alguma entidade que surja. Porquê? Porque sem negócios semelhantes aos efectuados neste Verão (João Mário/Slimani), o Sporting não consegue gerar verbas para se auto-sustentar. E isto não é apenas um problema do Sporting, mas de toda a planície desportiva portuguesa.

 

Sem contarmos com as receitas de vendas de atletas, os Proveitos Operacionais da SAD foram de €32.233 Milhões. Se a este valor, retirarmos os €14.646 Milhões da receita UEFA, verificamos que muito dificilmente o Sporting conseguirá um Break-even entre custos e receitas clássicas. Se contarmos com as receitas provenientes da participação na Champions, o Resultado Operacional da SAD foi de apenas €7 Milhões. Ou seja, por muito interessante que seja o aumento de €4 Milhões em Proveitos Operacionais clássicos (sem Champions), ou os €12.017 de aumento em Proveitos Operacionais Globais (com Champions), não se prevê a estabilidade desses valores ano após ano – não podemos aumentar a lotação do Estádio, e mesmo aumentar o custo de Bilheteira poderia provocar um afastamento dos adeptos. O facto de não sermos cabeça-de-série na Champions também não nos favorece – Real Madrid e Borussia Dortmund no mesmo grupo foi muito azar, reduziu-nos drasticamente a possibilidade de angariar mais dinheiro em vitórias ou passagem à fase seguinte.

 

Não obstante de em tempos se ter afirmado que "o Sporting não precisa de vender", como terei referido igualmente no passado, o Sporting terá SEMPRE de vender, ou pelo menos garantir que verbas na ordem dos 40/50 Milhões/Ano entrem nos cofres anualmente, sob formato de receita extraordinária. Agora questiono eu: sem Gelson, Adrien e William, quem vale esse valor no restante plantel? Existe alguma contratação nos últimos 3 anos que valha sequer no mercado, um valor aproximado? Por outro lado, urge inverter esta tendência gastadora do Sporting, porque como percebemos, é bem possível que não se realizem transferências milionárias todos os trimestres, tal como ocorreu na anterior janela de Verão.

 

No Verão e no Natal, os subsídios aumentam o nosso poder de compra. Virtualmente.

 

publicado às 11:03

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124 comentários

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De Sérgio Palhas a 01.12.2016 às 19:07

Estes resultados só apanharam de surpresa quem anda muito distraído (deixarei os meus comentários focando principalmente nos resultados operacionais sem transacções de jogadores).

1. O fantasma do Fair Play Financeiro faz parte do passado ... esperemos que assim continue.

2. Convém reforçar que são resultados do 1º trimestre onde por inerência da participação na CL e na venda de jogadores no final de Agosto temos receitas que "entram" agora em consideração mas que serão diluídas do decurso do exercício anual de Julho a Agosto (que poderiam ter sido realizadas ainda no final do exercício do ano anterior, com isso amenizando ou até ultrapassando os31M€ de resultados negativos, em vez de ter tomado um caminho mais fácil e irresponsável não optou-se por estrategicamente adiar essas vendas até chegarmos às verbas conhecidas .... brilhante!).

3. O Drake focou bem os aspectos positivos relativamente ao aumento de todas as rubricas relativas aos Proveitos Operacionais (excluindo transacções de jogadores), aqui relativamente à participação na CL (facto conhecido no altura em que se formou o actual plantel logo tido em consideração no aumento de ~15% dos CustosComPessoal ) já entraram 12,7M€ (prémio de acesso)+1,5M€ vitória contra o + 0,8M€ Market pool + 0,126M€ de bilheteira (correspondente ao jogo do Legia).

3.1 Penso que será expectável receber ainda algo entre 3M€ a 5M€ respeitantes (a Market Pool + bilheteira dos jogos em casa + possiveis pontos com o Légia) no próximo trimestre (Outubro a Dezembro), no 3º trimestre potenciais verbas só poderão existir caso a equipa consiga o apuramento para a Europa League.

3.2 Ainda sobre as verbas dos direitos TV a diferença sobre o periodo homologo existe essencialmente devido ao facto de ano passado o acordo com a NOS ter sido assinado apenas em Novembro/Dezembro.

Extrapolando para 1 exercício completo será expectável que os 68M€ de resultados do exercício anterior sejam amplamente ultrapassados teremos valores entre os 80M€ a 90M€.

4. No que toca aos Gastos e perdas operacionais sem transacções de jogadores:

4.1 É notório mais uma vez o crescer dos CCP mantendo esta tendencia (acredito em ajustes no mercado inverno com saídas de alguns jogadores possam amenizar um pouco esta tendência)muito provavelmente chegaremos ao nivél de CCP do SLB chegando ao final do ano com ~60M€.

4.2 Os gastos com aquisições não são opacos como o Drake sugere são visíveis na rubrica de Fornecedores que diga-se é a responsável pelo aumento do "Passivo Corrente", sendo como já aqui li são visiveis os valores em ainda em divida, convém reforçar que algumas destas aquisições aconteceram após a concretização das vendas do Slimani e João Mário.

4.3 Extrapulando os atuais Gastos e perdas operacionais sem transacções de jogadores estaremos a falar de algo próximo de 90M€ a 100M€

Considero que este GAP de algo ~10M€ a 15M€ é algo que perfeitamente gerivel para mais quando ao nível das receitas relativas à venda de jogadores temos um saldo liquido de 56M€.

Esta época do ponto de vista financeiro nunca será problemática no entanto será necessário no meu entendimento estabilizar os CCP, isto claro mantendo a actual capacidade de ir aumentando progressivamente as diversas rubricas de receitas.

Respondendo ao Gonçalo que gosta de mandar umas farpas sem ser directo como lhe é tão comum, caso se tivesse verificado o aumento de 5 para 8 M€ de ordenado de JJ tal implicaria um aumento no trimestre na rubrica "Remuneração do Pessoal" de 0,75M€ só relativos a JJ, na realidade registou-se um aumento de ~2,5M€ o que significaria que restariam 1,75M€ para pagar as (enrre entradas/saidas )salários de :
- Bas Dost;
- André;
- Elias;
- Castaignos;
- Campbell;
- Markovic;
- Douglas;
- Petrovic;
- Melli;
- Spalvis;
- Alan Ruiz;

contrabalançando é claro com as saídas de:
João Mário;
Slimani;
Teo;
Aquillani;
Barcos;

deixo à vossa consideração no entanto é certo que "cada cabeça a sua sentença".

SL,
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De Anónimo a 01.12.2016 às 19:12

2. Convém reforçar que são resultados do 1º trimestre onde por inerência da participação na CL e na venda de jogadores no final de Agosto temos receitas que "entram" agora em consideração mas que serão diluídas do decurso do exercício anual de Julho a Agosto, as vendas (que poderiam ter sido realizadas ainda no final do exercício do ano anterior, com isso amenizando ou até ultrapassando os31M€ de resultados negativos, em vez de ter tomado um caminho mais fácil e irresponsável não optou-se por estrategicamente adiar essas vendas até chegarmos às verbas conhecidas .... brilhante!), cobrem + de 70% dos prováveis Gastos Operacionas (sem transações) do exercício completo.
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De Rui Gomes a 01.12.2016 às 19:20

Creio que é o Sérgio Palhas !
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De Sérgio Palhas a 01.12.2016 às 19:39

Certo Rui desculpe a confusão mas não está fácil escrever no tablet o portátil acordou mal disposto.

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