Já há meses que não é possível negar a existência de um plano, estratégia, projecto, difusão de marca (o que quiserem chamar-lhe) do Benfica para estender a sua rede de influências. Podemos ver essa ideia pelos olhos de um benfiquista, que só destrinçará o maior clube português a tirar rendimento legítimo do seu tamanho e da variedade das simpatias que colhe em todos os círculos. Ou podemos vê-la pela perspectiva dos adversários, que imaginam em cada adepto do Benfica uma potencial vantagem desonesta, seja nos tribunais, nos governos, nas grandes empresas, na Imprensa, nos escritórios de advogados ou nos conselhos de disciplina e arbitragem.
Em qualquer dos casos, falamos de poder e o problema de todos estes meses, já quase um ano, não está tanto no que os órgãos oficiais da área fizeram para confirmar que o Benfica tem, de facto, poder sobre eles, apesar do comportamento reiterado e até chocante do Instituto Português do Desporto e da referência despropositada do primeiro-ministro ao "clube que nos é querido". O problema está no que não se fez para deixar claro o contrário.
Apesar de múltiplos ataques ao Sporting e ao FC Porto, em críticas directas ou sugestões descaradas, por várias figuras com responsabilidade institucional e até em locais como a Assembleia da República, nem uma vez qualquer delas tocou o nome do Benfica ou reagiu a uma qualquer acção do Benfica. Os timings escolhidos foram sempre de maneira a que parecessem respostas a acções de FC Porto ou Sporting.
Podem negar, mas são factos comprováveis: houve vários episódios de ousadia, e até rebeldia, para com FC Porto e Sporting e apenas respeitáveis generalizações quando as culpas apontaram para a Luz (na Liga, por exemplo, o Benfica ganhou influência neste período, enquanto FC Porto e Sporting a perderam).
Dez meses de tanto silêncio revelam bem mais do que mil emails.
José Manuel Ribeiro, jornal O Jogo