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O espectáculo tem de continuar

Rui Gomes, em 05.01.22

Era inevitável que a explosão de casos positivos de Covid-19 no país, potenciada pela variante Ómicron, se reflectisse no futebol.

Aliás, considerando as previsões que apontam para um pico de infecções mais adiante no mês, é provável que o recente surto no Estoril não seja o último a ameaçar a normalidade do campeonato.

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Depois da vincada vergonha a que se assistiu no Jamor, no já infame Belenenses-Benfica, os clubes deliberaram no sentido de evitar que volte a ser possível um espectáculo daquele calibre. O novo mínimo de treze jogadores disponíveis, incluindo pelo menos um guarda-redes, procura estabelecer um compromisso inevitavelmente delicado entre a salvaguarda da competitividade dos jogos e a protecção possível de um calendário bem espremido pelas várias competições que têm de caber nos nove meses disponíveis. Claro que uma equipa reduzida a 13 opções, incluindo elementos das equipas de sub-23, estará sempre muito limitada na resposta que pode oferecer, mas o calendário não aguenta uma avalanche de adiamentos, pelo menos não sem comprometer a própria conclusão das competições e, com isso, as receitas que dependem da realização dos jogos e sem as quais, num cenário de crise generalizada, os clubes não podem passar.

E é por isso que, considerado individualmente, o eventual adiamento do Estoril-FC Porto do próximo sábado não é um drama. Para um jogo, há de arranjar-se uma data disponível. Mas se a progressão desta vaga da pandemia corresponder às previsões mais pessimistas e casos semelhantes se multiplicarem, ou os clubes assumem de uma vez por todas que este é mesmo o novo normal e que o espectáculo tem de continuar desde que, como decidiram livremente, haja treze jogadores disponíveis, ou correm o risco de comprometer a própria sobrevivência.

Artigo da autoria de Jorge Maia, em O Jogo

publicado às 04:18

Fernando Santos comentou o sorteio da Liga das Nações dizendo o óbvio: "Daqui até lá, muita coisa pode mudar".

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De facto, pode mudar desde logo o seleccionador, que depende muito do resultado do play-off de apuramento para o Mundial que se disputa em Março. Fernando Santos já confirmou que sairá pelo próprio pé se não garantir a presença no Qatar, pelo que todo o contexto em que será disputada a fase de grupos da Liga das Nações está em aberto.

Caso Portugal se apure para o Mundial 2022, batendo a Turquia primeiro e a Itália ou a Macedónia do Norte logo a seguir, a Liga das Nações não se esgotará em si própria e pode muito bem ser uma excelente plataforma de lançamento para o Qatar. Jogos em Junho e Setembro, com equipas do calibre da Espanha, de Suíça e da República Checa serão, desde logo, uma boa forma de avaliar o nível da Selecção Nacional, a eficácia das alterações que o seleccionador já prometeu introduzir e então a necessidade de eventuais afinações antes do Mundial.

Por outro lado, caso Portugal não se apure para o Qatar, a Liga das Nações será a primeira competição de um novo seleccionador nacional, o arranque oficial de um novo ciclo para Portugal e, pelos exactos mesmo motivos enunciados acima - a indiscutível qualidade dos adversários - um baptismo de fogo para a esperada renovação, se não tanto dos jogadores, pelo menos da filosofia de jogo que uma larguíssima parte da crítica exige.

Até porque, sem o Mundial no horizonte à vista, a Liga das Nações passa a ser o primeiro objectivo da Selecção e uma prioridade absoluta para o novo seleccionador. Ora, todos sabemos que não há uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão. O que, provavelmente, significa que até o eventual sucessor de Fernando Santos está a torcer para que ele se dê bem no play-off de Março.

Artigo de Jorge Maia, em O Jogo

publicado às 03:30

21768990_HZTHy.jpegAparentemente, um erro de software obrigou à repetição do sorteio da Champions. Sim, pelos vistos, é preciso um programa de software para realizar um sorteio entre 16 equipas com um par de condicionantes: as equipas dos mesmos países e aquelas que se enfrentaram na fase de grupos não podem jogar entre si. Ridículo.

De resto, um ridículo que expôs a UEFA às críticas, lideradas por Real Madrid e Juventus que, para além de não terem gostado nada do resultado do sorteio definitivo, mantêm a Superliga no bolso para sacar à primeira oportunidade.

O Benfica não se queixou, mas é irresistível supor que Jesus tenha ficado desapontado. O treinador encarnado tinha garantido que, se o sorteio lhe atirasse o Real Madrid para a frente, era para passar e quase lhe saía a sorte grande. Sobre o Ajax, não se conhece o pensamento do técnico das águias, mas sabe-se que os neerlandeses venceram o grupo C com seis triunfos, incluindo duas goleadas ao Sporting, o que não deixa de ser um cartão-de-visita impressionante.

Os leões também não têm motivos para sorrir. A Juventus, que foi a escolha do sorteio invalidado, é uma equipa em crise: o Manchester City é precisamente o contrário. Se não for mais nada, e este Sporting já provou que todas as previsões podem ser precipitadas, a eliminatória com o colosso inglês é mais uma oportunidade de crescimento para uma equipa que, em Portugal, já não tem grande coisa a aprender.

Na Liga Europa o software aguentou-se à bronca e o FC Porto vai jogar com a Lázio, velha conhecida de Conceição. Os dragões têm-se dado bem nos duelos com equipas italianas, os romanos estão no nono lugar da Serie A e há bons motivos para um optimismo moderado que também vale para o Braga, adversário dos moldavos do Sheriff. Desde que o software não falhe.

Artigo de Jorge Maia, em O Jogo

publicado às 04:32

Teoria da evolução aplicada ao VAR

Reconhecer que há problemas de credibilidade que resultam da análise microscópica de cada lance

Rui Gomes, em 18.08.21

Não foi preciso esperar muito: à 2.ª jornada, as polémicas com a arbitragem voltaram à ordem do dia na Liga Bwin, com o VAR inevitavelmente metido ao barulho.

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Entretanto, na Premier League, o uso do videoárbitro foi revisto no arranque desta época com o principal objectivo de evitar a análise microscópica e a respetiva penalização de lances triviais. Seguindo o exemplo da Holanda, linhas mais grossas são usadas para avaliar todas as situações de fora de jogo e, em caso de sobreposição, o benefício volta a ser dado ao atacante, considerando-se o lance legal.

Bruno Fernandes já foi favorecido pelas alterações, ao marcar um dos seus três golos na vitória do Man United sobre o Leeds numa situação que, há um ano, provavelmente teria sido invalidada por deslocação. Claro que as polémicas não vão acabar por causa disso em Inglaterra e menos ainda acabariam por cá, onde a relação dos adeptos com a arbitragem se processa na base de disparar primeiro e fazer perguntas depois.

Ainda assim, é indiscutível que o futebol ganha com o facto de se "perderem" menos golos por uma mera unha. De resto, o mais relevante das experiências holandesas e inglesas é o reconhecimento de que o VAR é uma ferramenta recente que pode e deve ser melhorada. O uso da tecnologia de vídeo no râguebi, por exemplo, levou quase seis anos até atingir a eficácia e aceitação generalizada que se regista atualmente.

Reconhecer que há problemas de credibilidade que resultam da aplicação da tecnologia para uma análise forense de cada lance e assim reduzir a margem para polémicas estéreis protege os árbitros e, sobretudo, o espetáculo. Reconhecê-lo e agir em conformidade é só uma demonstração de bom senso.

Artigo da autoria de Jorge MaiaO Jogo

publicado às 13:30

Futebol sem adeptos: o novo normal

Rui Gomes, em 15.04.20

O futebol jogado à porta fechada e sem adeptos na bancada não é a mesma coisa, mas talvez as coisas nunca mais voltem a ser as mesmas.

Futebol sem adeptos nas bancadas não é bem a mesma coisa. O argumento, incontestável, repete-se um pouco por todo o lado, como reacção à hipótese de reatar as competições com a realização de jogos à porta fechada.

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Há quem vá muito mais longe e sentencie que, sem condições para os adeptos, também não pode haver condições para os outros e que devemos todos esperar que as autoridades declarem o regresso à normalidade. Ora bem... quando se fala de regresso à normalidade, no contexto actual, está a dizer-se o quê, exactamente? Jogos com 50 mil pessoas nas bancadas? Metro e autocarros cheios de adeptos que se acotovelam nas entradas dos estádios? Abraços e beijos nos festejos de cada golo? É que essa normalidade, a normalidade que era normal há três meses, essa não se sabe quando vai regressar.

As perspectivas mais optimistas para se encontrar uma vacina apontam para o final do ano, sendo que, depois de a encontrar, será necessário produzi-la em massa e finalmente vacinar toda a população do Mundo, talvez com a excepção daqueles que por estes dias forem capazes de lutar e vencer o vírus. Enquanto isso não acontecer, o risco de contágio existe e anula qualquer perspectiva de regresso à desejada normalidade, seja a tempo de concluir a actual temporada, seja a tempo de começar a próxima.

Os jogos à porta fechada não são um capricho para resolver um problema imediato que vai desaparecer por decreto governamental: são, muito provavelmente, a real normalidade a que teremos de nos habituar nos próximos tempos se quisermos que o futebol sobreviva ao vírus.

Jorge Maia, jornal O jogo

publicado às 03:48

Rui Pinto: sensibilidade e bom senso

Rui Gomes, em 12.04.20

Rui Pinto vai colaborar com a justiça portuguesa e essa é uma boa notícia, especialmente para a justiça portuguesa.

Rui Pinto encontra-se em prisão domiciliária, num apartamento inteiramente controlado pela Polícia Judiciária, sem acesso directo à Internet e com a obrigação de colaborar com a Justiça.

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Como acontece quase sempre nestas coisas, há quem veja o copo meio cheio e quem o ache meio vazio, discutindo se foi o Ministério Público a ceder ao hacker e à pressão cada vez mais generalizada para que os documentos revelados por ele sejam investigados, ou se foi o próprio a ceder ao MP perante a forte ameaça de ser julgado e condenado, pelos crimes que terá cometido, sem qualquer atenuante.

A verdade é que, pelo menos a esta distância, é pouco mais do que irrelevante saber quem cedeu a quem. Aquilo que realmente interessa sublinhar é que, tanto quanto se sabe até agora, o acordo a que as partes terão chegado defende os melhores interesses da justiça. Desde logo porque garante que Rui Pinto continuará a ter de responder pelos crimes de que é acusado até ao momento e, logo a seguir, porque abre a porta à possibilidade de investigação e eventual acusação de pessoas responsáveis por crimes tão ou mais graves ainda.

Aliás, não custa recordar que as revelações do criador do Football Leaks já serviram para, por exemplo, castigar o clube Manchester City por desvios ao fair play financeiro da UEFA, condenar vários jogadores por fraude fiscal em Espanha e, fora do âmbito do futebol, denunciar as actividades ilegais da empresária Isabel dos Santos.

Perceber, finalmente, que a justiça portuguesa está tão interessada em responsabilizar Rui Pinto pelos crimes que ele terá cometido como em investigar os crimes que ele revelou é certamente uma boa notícia, num tempo é que não há assim tantas para dar.

Jorge Maia, jornal O Jogo

publicado às 03:30

Vítimas e vilões

Rui Gomes, em 10.04.20

Os clubes que actuam de boa fé não têm de estar preocupados com rescisões unilaterais.

O anúncio, por parte dos clubes profissionais, de que nenhum deles contratará jogadores que rescindam unilateralmente durante este invulgar período de emergência sanitária, é uma espécie de arma de dissuasão contra uma ameaça que, em boa verdade, não existe.

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Afinal, aquilo que se tem visto por parte da larguíssima maioria dos jogadores é uma atitude de responsabilidade e compromisso, seja na forma como a vasta maioria aceitou negociar cortes mais ou menos profundos nos salários, seja na abertura para o prolongamento dos contratos para além do prazo natural de 30 de Junho - permitindo então que as competições possam ser concluídas -, seja ainda na antecipação do gozo de férias numa altura em que as limitações à circulação e os apelos ao isolamento domiciliário as condicionam no seu propósito de permitir a recuperação física e psíquica prevista na lei.

De resto, os clubes já estão bem protegidos de eventuais rescisões unilaterais pelas mais recentes directrizes da FIFA, que tratou de assegurar que qualquer disputa do género terá em conta, entre outros factores, a tentativa por parte dos clubes de chegar a um acordo com os jogadores, a situação económica dos clubes e a proporcionalidade de qualquer ajustamento aos contratos.

Ou seja, todos os clubes que ajam de boa fé em relação aos jogadores, e que felizmente são a larga maioria, não têm nesta altura quaisquer motivos para estarem preocupados com rescisões unilaterais. E os outros, os que optam por aproveitar uma situação excepcional para camuflar incumprimentos antigos, não merecem a sua protecção sob pretexto de uma solidariedade deslocada que coloca as vítimas - leia-se jogadores com vários meses de salários em atraso - no papel de vilões.

Jorge Maia, jornal O Jogo

publicado às 04:02

UEFA quer achatar a curva

Rui Gomes, em 06.04.20

A UEFA insiste em levar as competições de clubes até ao fim e há centenas de milhões de razões para o fazer.

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Se a ameaça de exclusão das provas europeias da próxima temporada produzida por Aleksander Ceferin perante a perspectiva de a federação belga dar desde já por concluído o respectivo campeonato, estipulando a actual classificação como definitiva, não foi completamente elucidativa, o último esclarecimento da UEFA não deixa margem para dúvidas: a prioridade do organismo que superintende o futebol a nível europeu é jogar o que resta da actual temporada de clubes até ao fim.

Claro que o objectivo será fazê-lo o mais depressa possível, respeitando as indicações das autoridades sanitárias e com o mínimo impacto no calendário da próxima época, mas a UEFA tratou de clarificar que não há um prazo de validade definitivo e que está em aberto a possibilidade de estender as decisões pelos meses de Julho e Agosto. É evidente que a intransigência do organismo europeu se explica com a urgência de diminuir o impacto financeiro do vírus no futebol, o que pode ser chocante numa altura em que o número de vítimas ultrapassa as 60 mil em todo o mundo.

Não falta quem defenda que o ideal seria dar já por concluídas todas as provas, até para evitar os riscos de contágio associados à realização de jogos, mesmo sendo à porta fechada. A questão é que, por um lado, a capacidade que o futebol europeu como um todo terá para se reerguer das cinzas dependerá em larga medida da limitação do impacto imediato da crise nas respectivas finanças e, por outro, não há nenhuma garantia de que as condições sanitárias permitam o regresso à normalidade dos estádios cheios nem agora, nem na próxima temporada.

No fundo, o que a UEFA quer é achatar a curva, evitando que um pico abrupto de falências ultrapasse a capacidade do futebol para responder ao estado de crise a longo prazo. E isso parece sensato.

Jorge Maia, jornal O Jogo

publicado às 12:36

Estado da união

Rui Gomes, em 01.04.20

Jogadores e clubes têm de se entender. Pela sobrevivência de todos.

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Faz sentido o apelo de Joaquim Evangelista para que os jogadores não negoceiem revisões salariais com os clubes de forma individual, mobilizando-os para uma discussão conjunta e até articulada pelo sindicato. Afinal, em qualquer discussão deste tipo, a união faz a força e é evidente que a capacidade negocial de todos os jogadores juntos é maior do que a de cada um considerado individualmente.

Desde logo porque, sendo todos iguais, há obviamente alguns jogadores que são bastante mais iguais do que outros, seja no salário que recebem, seja no peso específico que têm nas respectivas equipas ou mesmo até em termos de estatuto reflectido, por exemplo, no valor comercial de cada um no mercado de transferências. Claro que essas diferenças também representam um desafio em termos de uma eventual negociação colectiva, onde uma solução igual para todos está longe de ser uma solução equitativa.

Unir numa frente comum e solidária realidades tão diferentes como as que separam, por exemplo, os jogadores dos três grandes dos restantes, ou até os jogadores da I dos da II Liga, será certamente um desafio para o sindicato. Mais discutível do que esse apelo à união é a ideia de que os clubes não têm motivos para discutir reduções salariais porque já anteciparam as principais receitas. Mais uma vez há uma diferença considerável entre o que é a realidade financeira dos maiores clubes portugueses e a dos restantes, onde qualquer variação nas receitas afecta de forma séria a liquidez.

De resto, mesmo os grandes enfrentam desafios complicados, seja pela perda imediata de bilheteira, seja pelo adiamento de receitas extraordinárias impostas pelo cada vez mais inevitável prolongamento da temporada, ou ainda até pela desvalorização de activos que a actual crise implica. No fundo, jogadores e clubes estão condenados a entenderem-se pela sobrevivência de todos, de preferência garantindo que uma situação excepcional não é argumento para beliscar direitos de forma definitiva.

Jorge Maia, O Jogo

publicado às 03:31

Prioridades trocadas

Rui Gomes, em 29.03.20

A primeira preocupação de qualquer pessoa de bom senso nos tempos que correm só pode ser a saúde.

Nuno Lobo, presidente da Associação de Futebol de Lisboa, pontuou a actualidade de sexta-feira ao criticar a decisão da Federação de cancelar os campeonatos dos escalões de formação, garantindo que, pelo menos na capital, essa decisão ainda não é definitiva.

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Uma posição estranha, desde logo considerando que o comunicado da FPF garante que a resolução foi assumida depois de ouvidas todas as associações do país. Mas Nuno Lobo foi mais longe, assegurando que, a ser tomada, a decisão de cancelar os campeonatos dos escalões de formação terá em conta "os interesses desportivos" e "os interesses financeiros" dos clubes lisboetas.

Ora, parece que nem de propósito, os dois maiores clubes de Lisboa, Benfica e Sporting, não perderam tempo e trataram de manifestar publicamente o apoio à decisão anunciada pela Federação, sublinhando a importância incontestável de defender esse valor maior que é a saúde e, por tabela, deixando Nuno Lobo na posição estranha de não acompanhar, pelo menos para já, a opinião dos seus dois maiores associados. Claro que, apesar de serem os maiores clubes da capital, Benfica e Sporting são apenas dois, mas não é difícil imaginar que os restantes partilhem uma visão semelhante do problema.

Afinal, ninguém de bom senso ousaria colocar "os interesses desportivos" e "os interesses financeiros" como prioridade perante uma situação de emergência sanitária como a que atravessamos, especialmente quando falamos de escalões de formação.

Jorge Maia, jornal O Jogo

publicado às 03:19

Teletrabalho no Sporting

Rui Gomes, em 27.03.20

Confesso que me parece pouco ou nada relevante se Frederico Varandas se voluntariou para servir o País durante o estado de emergência ou se foi "obrigado" a apresentar-se ao serviço pelo Exército.

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Portugal precisa muito de pessoal clínico para combater a Covid-19, Varandas é médico e neste momento é certamente muito mais útil para todos que ele exerça essa função do que a de presidente do Sporting. De resto, mesmo admitindo que a maior parte dos clubes portugueses é gerida num regime próximo do despotismo mais ou menos iluminado, com os respectivos presidentes no papel de "Rei-Sol", é de supor que uma instituição da dimensão do Sporting não dependa da presença de uma pessoa para continuar a funcionar.

Aliás, o Conselho Directivo a que Varandas preside, é um órgão colegial, enquanto na SAD há pelo menos mais quatro administradores executivos, pelo que a ausência temporária - sublinho o "temporária" - do presidente não deverá ser dramática.

Dito isto, é evidente que o teletrabalho está longe de ser a forma ideal de dirigir um clube, especialmente em contexto da actual crise. O Sporting, como todos os clubes portugueses, enfrenta um momento particularmente delicado, com a evolução da pandemia a alterar as circunstâncias a um ritmo quase diário. Mais cedo ou mais tarde, por exemplo, vai ter de ser decidido como desatar o campeonato, uma discussão da qual o Sporting não se pode abster e onde o peso institucional do presidente do clube terá certamente relevância.

Depois há as múltiplas questões relativas à preparação da próxima época e à negociação de entradas e saídas de jogadores, que dificilmente podem ser devidamente atendidas por telefone. Frederico Varandas está onde tem de estar agora, mas não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Se a situação se prolongar, e todos esperamos que não, isso pode ser um problema.

Jorge Maia, jornal O Jogo

publicado às 04:18

Lado positivo

Rui Gomes, em 19.03.20

Bruno Fernandes, Bernardo Silva e João Félix têm mais um ano para crescer antes de se estrearem em Europeus.

Portugal vai poder ostentar o título de campeão europeu pelo menos durante mais um ano. Sim, às vezes, temos de torcer o pescoço para conseguir olhar para o lado positivo no meio de uma tragédia e manter o bom humor.

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Claro que a decisão da UEFA tem implicações mais sérias. Daqui a um ano, por exemplo, todos os jogadores da Selecção Nacional estarão um ano mais velhos. Cristiano Ronaldo terá 36 anos, Pepe 38, José Fonte 37 e João Moutinho 34 e, para alguns deles, é possível que a oportunidade de defender o título tenha acabado ontem.

Em contrapartida, a renovação progressiva da Selecção durante a era de Fernando Santos permite encarar o adiamento sem dramatismos. Bruno Fernandes, Bernardo Silva e João Félix, por exemplo, têm mais um ano para crescer e preparar a estreia em Europeus.

Texto da autoria de Jorge Maia, jornal O Jogo

publicado às 03:15

21263428_8NEZo.jpegPopulismo, nacionalismo, extrema-direita e futebol? A Bulgária não fica assim tão longe...

A UEFA abriu anteontem um processo disciplinar à Bulgária, na sequência dos acontecimentos que marcaram o jogo de Sófia, frente à Inglaterra, pontuado por saudações nazis e cânticos racistas dirigidos aos jogadores negros da selecção britânica.

Aleksander Ceferin, presidente do organismo que tutela todo o futebol europeu, apelou à colaboração entre federações e governos para atacar o problema de forma eficaz.

Gianni Infantino, presidente da FIFA, foi mais longe e sugeriu que todos os organizadores de competições de futebol coloquem em prática regulamentos rigorosos que prevejam banir dos estádios, de forma perpétua, todos aqueles que sejam considerados culpados de actos racistas durante um jogo de futebol.

Jorge Maia, jornal O Jogo

publicado às 16:54

 

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À falta de melhor imagem e com um pedido de perdão para os leitores mais sensíveis, Bruno de Carvalho é mais ou menos como uma micose no pé: pensamos que nos livrámos dela com a pomada que usámos no Verão, mas depois chega o Inverno e voltamos a sentir aquela coceira incómoda que nos recorda que não foi a lado nenhum. E, como acontece com qualquer micose, coçar só agrava o problema, mas ignorá-lo também não o resolve. É preciso atacá-lo de forma eficaz para eliminá-lo definitivamente.

 

Nesse sentido, talvez a contestação de que Frederico Varandas foi alvo na Assembleia Geral de sexta-feira por parte de um grupo de apoiantes de Bruno de Carvalho possa ter um efeito profilático, pelo menos se for encarada como um sintoma de um problema que, definitivamente, não está resolvido.

 

No próximo dia 15 há outra Assembleia Geral. Essa, para analisar e votar os recursos aos processos instaurados a Bruno de Carvalho e seus pares, e os sportinguistas, a maioria dos sportinguistas, aqueles que não se revêem na forma populista, trauliteira e irresponsável como o antigo presidente levou o clube ao estado calamitoso em que ainda se encontra, têm uma oportunidade única para deixar claro que não deixam os destinos do Sporting ser determinados por uma minúscula, ainda que populista, trauliteira e irresponsável, minoria que se habituou a desrespeitar os valores da democracia.

 

Ignorar o problema, imaginar que se resolve sozinho, é deixar aquela coceira incómoda crescer até fazer ferida. E mais uma ferida é tudo o que o Sporting não precisa.

 

Jorge Maia, jornal O Jogo

 

publicado às 13:00

Confundível

Rui Gomes, em 01.11.18

 

Luís Filipe Vieira não quer que se confunda Paulo Gonçalves com o Benfica. Pois...

 

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1 - Na véspera de celebrar 15 anos à frente do Benfica, Luís Filipe Vieira anunciou a vontade de se manter em funções, pelo menos, mais seis. Essa é a principal notícia que resulta da longa entrevista do presidente dos encarnados à TVI.

 

Poderia discutir-se se o facto de não saber da existência de uma cartilha distribuída aos comentadores do clube não mereceria o mesmo estatuto, mas não é a primeira vez que Luís Filipe Vieira garante nunca ter ouvido falar de coisas que toda a gente sabe que existem, como as claques do clube, por exemplo.

 

Como o voto de confiança a Rui Vitória se ficou pela timidez de um "por mim, fica até ao fim" sobra o prematuro, mas nada surpreendente anúncio da recandidatura atrelado à promessa de demissão se o clube for condenado por corrupção, embora aqui com um asterisco: não se pode confundir Paulo Gonçalves com o Benfica. O problema, claro, é que foi o próprio clube a fazer essa confusão durante demasiado tempo.

 

2 - Javier Tebas, presidente da La Liga, comporta-se em relação a Cristiano Ronaldo como a raposa da fábula de La Fontaine. Consta que o bicho tentou, sem sucesso, alcançar um cacho de uvas penduradas numa vinha muito alta. Sem lhes conseguir chegar, virou-lhes as costas resmungando: "estão verdes".

 

Em Outubro, Tebas considerou que, numa escala de 0-10, a saída de Ronaldo de Espanha teria um impacto de 3, 4 no máximo. Ontem, ficou a saber-se que admite dar o nome de Messi ao prémio de MVP da La Liga, explicando que se fala "muito de Neymar, mas Messi não tem limites".

 

A omissão do nome de Ronaldo, cujo impacto na actual crise do Real Madrid atinge um 9 na escala de Richter, não é casual. Tebas é um vendedor. Para continuar a vender La Liga, não pode admitir que a competição perdeu interesse. Por outras palavras, não é Ronaldo que está verde, é Tebas que já não lhe chega.

 

Jorge Maia, jornal O Jogo

 

publicado às 02:46

O "murro" na mesa

Rui Gomes, em 28.10.18

 

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"... Sabem quem é o treinador que tem mais vitórias na Liga dos Campeões com menos número de jogos?", perguntou Rui Vitória aos jornalistas. Pois, não sabíamos. Generosamente, o treinador do Benfica quis poupar-nos trabalho e disse que era ele próprio, mas tudo o que conseguiu foi arranjar uma carga de trabalhos e pôr toda a gente a fazer contas para concluir que está enganado.

 

Claro que errar é humano e não será por acaso que a matemática é a disciplina mais detestada por qualquer estudante normal pelo que convém não empolar o caso. Ainda assim, fica o aviso: quando se quer dar um murro na mesa, convém garantir que se vai acertar em cheio para a coisa não fazer ricochete.

 

Jorge Maia, jornal O Jogo

 

publicado às 02:01

Nova Selecção

Rui Gomes, em 13.10.18

 

Consta que em equipa que ganha não se mexe. Em equipa que ganha como Portugal ganhou à Polónia, ainda menos.

 

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1 Não deixa de ser significativa a forma como Fernando Santos fez questão de colocar água na fervura que a exibição de Portugal levantou, garantindo que há muitos jogadores que não estão nesta equipa e que podem estar. O seleccionador sabe que todos vimos o jogo de anteontem. Nós e os tais jogadores que não estão. E sabe que tanto uns como outros percebem que dominar a Polónia como Portugal dominou na primeira parte, não apenas dando a volta a uma desvantagem, mas multiplicando as oportunidades na baliza de Fabianski, não é tão normal como ele quis convencer-nos que é e como nós gostávamos que fosse. Se numa equipa que ganha não se mexe, numa que ganha assim, ainda menos.

 

É óbvio que nem tudo foi perfeito. O primeiro golo dos polacos nasce de um erro defensivo e o segundo do adormecimento à sombra da vantagem. Mas não se vê, por exemplo, que margem existe para mexer no triângulo formado por Bernardo Silva, Pizzi e Cancelo no lado direito. Nem como tirar a clarividência de Rúben Neves à equipa ou como travar o crescimento de André Silva no ataque. Claro que se todos víssemos tanto como Fernando Santos, não seria ele o seleccionador.

 

2 A presença de Bruno de Carvalho no DIAP um mero dia depois de Frederico Varandas ter afirmado que acabou o circo no Sporting situa-se ali, entre a ironia e a tragédia. Como uma catástrofe qualquer, não era de esperar que os efeitos da passagem de Bruno de Carvalho por Alvalade se apagassem em meia dúzia de dias e os próximos tempos podem tratar de o provar.

 

A confirmar-se o envolvimento do ex-presidente ou de funcionários do clube no ataque à Academia de Alcochete, ganham força os processos de rescisão unilateral avançados pelos jogadores e perde o Sporting. Outra vez.

 

Jorge Maia, jornal O Jogo

 

publicado às 04:03

 

Só há duas coisas surpreendentes na anunciada saída de Paulo Gonçalves do Benfica.

 

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A primeira é que apenas tenha acontecido agora. Há muito tempo que era insustentável a tese de defesa dos encarnados, alegando que as eventuais acções do assessor jurídico no âmbito do processo e-Toupeira não eram do conhecimento da SAD e simultaneamente mantendo nele toda a confiança. Parece evidente que se Paulo Gonçalves agiu por iniciativa individual, arrastando a SAD consigo para a lama sem lhe dar conhecimento, não pode merecer toda a confiança dos empregadores.

 

O que entronca na segunda surpresa: que a saída seja iniciativa de Paulo Gonçalves. Não que seja inesperado ver um profissional tão elogiado dar o primeiro passo no sentido de proteger a entidade patronal, sacrificando-se pela causa, mas apenas porque, a fazer fé na tese de defesa da SAD, que alega desconhecer os ilícitos de que o seu funcionário é sustentadamente acusado pelo MP, seria mais normal ser aquela a retirar-lhe a confiança.

 

Jorge Maia, jornal O Jogo

 

publicado às 17:22

Cyber futebol

Rui Gomes, em 15.09.18

 

A insegurança e o crime informático são um desafio para a Justiça.

 

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1 - Robert Mueller, antigo director do FBI e actual responsável pela investigação à interferência russa nas eleições presidenciais americanas de 2016, disse em 2012 que só havia dois tipos de empresas no mundo: as que já foram pirateadas e as que ainda vão ser. Entretanto passaram seis anos, pelo que o número das que ainda não foram terá diminuído drasticamente.

 

Para sermos claros, quando até o Citius, o sistema informático de gestão processual da Justiça Portuguesa, é permeável a acessos indevidos, qualquer expectativa de segurança neste admirável - ou abominável - mundo online é vã, pelo que a única maneira de não temer é mesmo não dever.

 

Menos vã é a expectativa de que a Justiça funcione. E que funcione para este tipo de crimes informáticos, de forma a serem devidamente investigados e punidos; mas também para os crimes que eventualmente sejam descobertos durante o processo.

 

Em Espanha, por exemplo, os documentos revelados pelo Football Leaks - alegadamente da responsabilidade do mesmo hacker suspeito de ter roubado correspondência ao Benfica - impulsionaram muitos dos recentes processos fiscais movidos contra estrelas do futebol.

 

Paralelamente, a Justiça nunca deixou de procurar activamente o responsável ou os responsáveis pelo roubo dessa informação no sentido de os levar a responder pelos seus crimes. Porque, como dizia um famoso treinador português, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. E duas coisas erradas não fazem uma certa.

 

2 - Quando Varandas Fernandes (vice do SLB) pergunta se alguém acredita que um hacker ofereceu informação a troco de nada não percebe que está a abrir espaço para que os rivais perguntem se alguém acredita que as eventuais acções de Paulo Gonçalves no âmbito do processo e-Toupeira não são do conhecimento da SAD do Benfica?

 

Jorge Maia, jornal O Jogo

 

publicado às 04:18

O futuro sem Ronaldo

Rui Gomes, em 12.09.18

 

Portugal mostrou frente à Itália que há vida para além do CR7, mesmo que tudo seja mais fácil com ele.

 

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Entrar a ganhar na Liga das Nações é bom. Fazê-lo quebrando um enguiço de 61 anos sem vitórias sobre a Itália em jogos a doer e, sobretudo, sem poder contar com Cristiano Ronaldo é ainda melhor. Um dia destes, inevitavelmente, as ausências do CR7 deixarão de ser excepções para se tornarem a regra e é bom perceber que há vida para além dele. Claro que ainda é uma vida frágil, até porque o início é sempre um momento delicado, e o nervosismo de quem dá os primeiros passos sem o suporte da experiência percebe-se melhor precisamente no ataque, onde a clarividência de Ronaldo sempre fez a diferença.

 

Mas os jogos com a Croácia e a Itália provaram para lá de qualquer dúvida razoável que o futuro não tem de ser um lugar assustador para a Selecção Nacional. Fernando Santos terá encontrado uma nova fórmula para o meio-campo, com Rúben Neves a permitir o adiantamento de William, tão importante para o transporte da bola para o ataque, como para a recuperação de jogo ainda no meio-campo contrário. Depois há Pizzi, no melhor momento de forma de sempre, a combinar com Bernardo Silva e ainda a velocidade de Bruma e Cancelo a encurtar as distâncias para a baliza adversária.

 

Problema, até porque ontem não houve erros defensivos a borrar a pintura, apenas a dificuldade para traduzir a produção ofensiva da equipa em golos. O que nos traz de volta a Ronaldo. Como Fernando Santos disse no final do jogo, nenhuma selecção fica mais forte sem o melhor do mundo e Portugal será sempre mais forte com Ronaldo, especialmente lá na frente, onde os jogos se decidem. A boa notícia é que, definitivamente, não é uma equipa de coitadinhos sem ele. Perguntem à Itália.

 

Jorge Maia, jornal O Jogo

 

publicado às 03:45

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