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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
«Ainda hoje acho que aquela expulsão foi encomendada - Sporting - FC Porto 2 de abril de 1978 - Digo isto porque o FC Porto de José Maria Pedroto jogava com cinco médios e o Fernando Gomes lá na frente, por isso, a saída de um jogador do meio-campo não trazia grandes transtornos. Mas para o Sporting, a minha saída da equipa logo no primeiro minuto prejudicava muito a equipa. Até porque no aquecimento o Laranjeira tinha contraído uma rotura muscular e tivemos que jogar com o Sardeira, um jogador muito jovem, no eixo da defesa.
Voltando à história...logo na primeira jogada do encontro, o Gomes deu uma ripada no tal miúdo, o Sardeira, daquelas mesmo para meter medo. Não resisti e claro, ao meu melhor estilo fui direito ao Gomes pedir-lhe explicações: «É pá, Fernando, se quiseres bater em alguém bates em mim, não batas no miúdo!». Neste preciso momento, pelo canto do olho, vejo o Rodolfo aproximar-se em pose agressiva para defender o Gomes. Ainda ele vinha no ar já eu lhe estava a encostar o corpo para o desequilibrar. O Rodolfo dá uma volta no ar e estatela-se no chão a ganir. O árbitro, Raul Nazaré, vem direito a mim e diz, «ah querem dançar!?», nisto mete a mão ao bolso, tira o cartão amarelo e começa a procurar outro cartão no bolso. Eu comecei a ver o caso mal parado e tentei a minha sorte,«ó Raul, um vermelho não! Dá-me um amarelo...» Nem me deixou acabar a frase, «não há cá amarelos, levas já o vermelho!» Entretanto, o Rodolfo continuava no chão, a fingir-se de aleijado e aos gritos, mas de vez em quando espreitava para ver o que se passava. Quando percebeu que eu tinha levado o vermelho, deu um sorriso irónico. O Raul Nazaré percebeu e não perdoou, «e tu toma lá também!».
Eu estava em brasa! Quando íamos para a caminho do balneário ainda pensei dar-lhe uma pêra dentro do túnel, mas quando ele chegou ao pé de mim, apertou-me a mão e disse-me, «fomos os dois enganados pelo gajo!» desatámos a rir e saímos abraçados do relvado. Nas bancadas toda a gente bateu palmas.»
* Do livro «Estórias d'Alvalade» por Luís Miguel Pereira
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