A primeira e mais definida conclusão extraível da conferência de imprensa realizada ontem por Bruno de Carvalho, é que o mero facto de ele os seus sentirem a necessidade de vir para a praça pública fazer estendal de matéria e considerações que, por norma, devem ser preservadas na confidencialidade do foro interno do Clube, só pode significar que a iniciativa obedece a uma estratégia com múltiplos finórios objectivos: 1) refrear quem se atreve a recorrer ao direito de questionar a capacidade de funcionamento da nova liderança; 2) dissimular e suprimir a inexistência dos recursos financeiros garantidos enquanto da campanha eleitoral, tanto ao que concerne necessidades imediatas de tesouraria como investimento de longo prazo; 3) coagir psicologicamente a banca e, quiçá, outros credores e, por último, mas não menos importante, na sua óptica, alimentar os ânimos da falange militante que concedeu o seu apoio fantasiosamente.
A lamentavel realidade é que o evento que milhares de sportinguistas antecipavam ou desejavam viesse a esclarecer as maiores preocupações do momento, nomeadamente o abismal estado financeiro do Clube, acabou por ser tudo menos decisivo e esclarecedor porque o que já se suspeitava continua em dúvida ou, até, confirmado no sentido inverso. Bruno de Carvalho empenhou a sua palavra - aparentemente, para ele, não vale muito - durante a campanha eleitoral com garantias que estava completamente inteirado da complexidade financeira do Sporting e devidamente capacitado para assumir essas responsabilidades, mas tudo continua a ser uma disposição incumprida e, pior ainda, ilusória.
Não deixa de ser irrisório que recusou explanar a situação dos salários, quer sejam de atletas ou funcionários, quando nos foi participado que Godinho Lopes disponibilizou o suficiente para cobrir o mês de Março. Não dá a mínima indicação como vai cumprir com o mês de Abril que se aproxima rapidamente nem os diversos outros movimentos de tesouraria. Salvo pela intervenção adicional da banca, não tem quaisquer outros meios líquidos ao seu dispor, no entanto, sente-se completamente à vontade para adiantar que para o próxima época o Sporting vai ter lucro.
Tudo isto reaviva memórias do notório vendedor da banha da cobra. Veste de forma mais elegante e usa um corte de cabelo mais moderno, mas a oratória mantem-se intacta, só que em vez de vender curandices milagreiras vende ilusões. E, ironicamente, ainda tem compradores que ficam contentes, porque estão iludidos.