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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O recém-ressugirmento de Valentim Loureiro nas páginas noticiosas reavivou memórias desagradáveis de um passado pouco distante, tanto quanto à sua ignóbil participação na sociedade portuguesa, em geral, como no futebol, em particular, e confrontrou-me com uma inesperada reflexão sobre um muito sensacional - quase insólito - caso, que viu o seu controvérso desfecho esta semana na grande metrópole de Toronto, Canadá, que, entre outras considerações, serve para sublinhar as distintas diferenças entre sociedades, pese os contornos extremos deste incidente.
O presidente da Câmara Municipal de Toronto, Rob Ford, foi esta semana destituído da posição por ordem do Tribunal Superior, numa decisão de 24 páginas em que o juiz explica que «as acções do acusado caracterizam-se por uma ignorância da lei e falta de deligência em pedir aconselhamento sobre o que a lei diz. Na minha opinião, deve ser exigido um alto nível ético àqueles que são eleitos para posições de liderança e responsabilidade ».
Começando pelo princípio, o senhor Rob Ford é um reconhecido fervoroso adepto e apoiante do futebol infantil, ao ponto de até treinar uma equipa de crianças, mesmo em simultâneo com as suas funções na autarquia. O caso remonta a agosto de 2010, ocasião em que o autarca solicitou doações para a sua fundação de futebol, utilizando cartas com o cabeçalho oficial da Câmara Municipal. A acção resultou em ofertas no total de 3.150 dólares - cerca de 2,438 euros. A oposição política - de semelhante carácter às que existem por todo o Mundo - vendo uma oportunidade para fazer a vida difícil ao muito popular autarca, levantou acusações de conflito de interesses e conduziu a contenda a debate e a votação na Câmara Municipal, onde foi derrotada, mas que contou com o voto do próprio autarca. Por via de um «cidadão particular», o caso foi parar aos tribunais, não obstante o pedido de desculpas por Rob Ford e a explicação: «Eu sou apenas culpado de querer ajudar crianças a praticar futebol. Talvez tivesse sido mais sensato agir de outra maneira, mas nunca acreditei que houvesse conflito de interesses, porque eu não tinha nada a ganhar e a cidade nada a perder». Estão ainda por esclarecer os próximo passos do presidente destituído, já que uma das sanções impostas pelo juiz aparenta por em causa a sua eligibilidade a se recandidatar em eventuais eleições intercalares, caso estas se realizem durante o termo do seu actual mandato, que termina em 2014.
Com valores sociais e princípios de Direito tão distintos, nem sequer dá para imaginar o que o citado tribunal deliberaria, caso lhe fosse exigido o seu discernimento sobre tanto do que ocorreu em torno de Valentim Loureiro em Portugal. Um mundo de diferenças !
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