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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Até os amantes mais incondicionais têm os seus arrufos. No futebol não é diferente. Quem é capaz de pôr em causa a relação de amor entre Manuel Fernandes e o Sporting ? Quem se atreve a duvidar de cada gota de suor ou de cada lágrima derramada por Manuel Fernandes com a camisola verde e branca ? Ninguém! Manuel Fernandes tem o Sporting tatuado na alma.
Mas, como dizia no ínico, até os amantes mais incondicionais têm arrufos. Certo dia, arrufaram-se, o Sporting e o Manel. O "capitão" não gostou que Malcom Allison fosse substituído no comando técnico por António Oliveira e "abriu o livro" numa entrevista ao jornal A Bola. João Rocha não gostou de ler tais pensamentos, chamou-o à pedra e abriu-lhe um inquérito. Mesmo ao virar da esquina estava o jogo com o Sporting de Braga, decisivo para a Supertaça (3 de Dezembro de 1982). A primeira mão tinha ditado a derrota leonina por 2-1. A vitória era, por isso, imprescendível. João Rocha quis impor a indisciplina ao "capitão" retirando-lhe aquilo que ele tinha de mais precioso: a braçadeira. Retirar-lhe aquele objecto era como amputar-lhe um pedaço do próprio corpo. Manuel Fernandes tinha ali cravado, naquele pedaço de pano, todo o orgulho sportinguista construído ao longo de anos e anos.
Esteve mesmo para não jogar, porque a direcção assim o entendia. Mas Oliveira travou o processo a tempo e o resto da equipa também não deixou que fosse cometida tamanha maldade. Moral da história: Manuel Fernandes jogou, de braçadeira, marcou três golos e o Sporting ganhou 6-1, arrebatando mais uma Supertaça. Quando recebeu o troféu das mãos de Romão Martins, presidente da Federação, Manuel Fernandes não deixou mais ninguém pegar-lhe. Aquele carinho pela Taça era particularmente emotivo. Percebeu-se mais tarde a intenção do "capitão" leonino: esperou pelo presidente no balneário, e com as lágrimas nos olhos, entregou-lhe o troféu.
* Do livro "Estórias d'Alvalade" por Luís Miguel Pereira
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