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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
A há muito esperada saída de Jesualdo Ferreira foi ontem oficializada e o professor leu a seguinte declaração, curiosamente, sem direito a perguntas:
"Foi uma decisão tomada com tristeza, mas um acto de honestidade para com o Sporting e para comigo. Não poderia aceitar ser treinador para o próximo ano se não sentisse que houvesse condições para, no futuro, não me sentir a mais. Ao contrário do que disseram, não foram questões financeiras ou de poder que me afastaram, mas antes aquilo que fui percebendo ao longo de duas conversas com o presidente, e uma terceira, a 9 de Maio. Precisava de saber os caminhos para poder chegar ao sucesso, porque não queria ficar com mais medalhas no meu peito: ficar e, no ano seguinte, olharem para mim e verem-me como um indivíduo a mais. Também aprendi a gostar do Sporting e não é difícil. Senti um carinho especial a aumentar à medida que aumentavam as dificuldades. Quero deixar um muito obrigado e dizer que foi um prazer, uma bênção, ter treinado o Sporting e poder conhecer por dentro o único grande que não conhecia. Foi um prazer trabalhar com jogadores de grande qualidade e empenhamento. A instituição Sporting, por mais que viva, nunca a vou esquecer."
Com a classe e dignidade que lhe são reconhecidas, evitou a especificidade das condições que lhe foram apresentadas e que ele entendeu não satisfazerem a sua visão do futebol do Sporting e o que seria necessário para poder continuar a liderar a equipa leonina. Não é preciso ser um sábio para determinar que Jesualdo Ferreira foi percebendo ao longo das conversas com o presidente-adepto - que ontem deu uma volta ao estádio Municipal de Aveiro como um "César" vitorioso - que não era desejado em Alvalade pela nova liderança e que a proposta que lhe foi apresentada intentava a sua recusa.
Por fim, recorro à eloquente narrativa do nosso leitor António - escrita antes da decisão anunciada - que descreve objectivamente e com precisão o estado das coisas:
«"O treinador será mais uma peça de uma máquina que tem de funcionar em pleno, uma peça importante evidentemente, mas nunca um ser genial e providencial a quem se pede que resolva todos os problemas da equipa e, por vezes, até do próprio clube."
Nesta afirmação de Bruno de Carvalho há uma revelação subliminar: é ele próprio que se considera salvador do Sporting, constituindo a sua pessoa a genialidade, o saber, a competência, em suma, a iluminação que irá resgatar o nosso clube de todos os seus males. Por essa razão, não resistiu a cortar com o passado recente, mesmo nos seus aspectos positivos, e recomeçar tudo de acordo com o seu plano e convicção. Quando exalta o presidencialismo é isso mesmo: o poder concentrado na sua pessoa iluminada. Imagina-se um "Pinto da Costa" mas não conhece nem a milionésima parte da missa. Uma pessoa assim não será capaz de trabalhar em equipa, ao contrário do que quer fazer crer.
Dir-se-á que foi eleito. Verdade. O problema é que ele não tem um "saber de experiência feito". E isso é fatal para o seu presidencionalismo. Pior, será terrível para o Sporting, que é o que verdadeiramente interessa.»
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