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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Um jogo do Campeonanto Nacional entre o Sporting e o Leixões, a 29 de Outubro de 1972: Abriram a jaula !!!
«Tudo começou com uma grande penalidade que assinalei contra o Sporting. Assim que apontei para a marca o José Carlos, capitão do Sporting, começou logo a arranjar problemas. Foi mal educado comigo. Não tenho razões de queixa de ninguém a não ser do José Carlos.
O Celestino, jogador do Leixões, marcou o penalti que o Damas defendeu porque se tinha mexido.Eu mandei repetir. Caiu o Carmo e a Trindade. Por esta altura já havia adeptos do Sporting perto do relvado e junto de um dos meus fiscais de linha. Na segunda tentativa o Esteves do Leixões marcou golo. Também à segunda o Damas se mexeu, mas isso não era motivo para mandar repetir o penalti. O José Carlos chegou ao pé de mim e gritou: "então e agora o Damas não se mexeu ? Agora não manda repetir?". Aconselhei o José Carlos a ter calma caso contrário poderia ir ver o resto do jogo da bancada. E ele continuou: "Já viu bem como é que está o ambiente neste estádio ?"
Depois veio o lance que os jogadores do Sporting reclamaram pontapé de canto dizendo que tinha sido um jogador do Leixões o último a tocar na bola. Confesso que estava tapado por jogadores e não me apercebi do lance mas marquei pontapé de baliza por indicações do meu fiscal de linha. Na dúvida, até seria marcado pontapé de canto, mas depois da indicação do meu auxiliar já era tarde.
Quando me virei para o lado sul só vi os adeptos enfurecidos a correr na minha direcção. Parecia que tinham aberto a jaula dos leões. Só tive tempo de pensar, "oh Rainha Santa, lá vai o Carlos Lopes para o maneta!". Nisto levo um soco que me atira para o chão e a partir daí choveram pontapés. Se não morri posso agradecer ao já falecido Manuel Marques - massagista do Sporting e da Selecção Nacional - foi ele que me protegeu. Foi a única pessoa que me ajudou. Ele e o Alhinho, que é muito meu amigo. Recordo-me que o Alhinho, por ser jogador do Sporting, conseguiu afastar alguns adeptos. Ainda me lembro dele aos gritos: "Eh pá, não há direito de fazerem isto ao homem."
Levaram-me para o posto médico onde estive sempre com o Manuel Marques, e depois fui transportado para o hospital de Santa Maria. Após esse jogo nunca mais apitei. Um dos meus joelhos tinha ficado muito mal tratado. Tão mal tratado que me impedia de correr. Curiosamente, ao longo da minha carreira de árbitro de futebol e de basquetebol, apitei vinte e tal jogos do Sporting e os leões nunca perderam.»
* Do livro "Estórias d'Alvalade" por Luís Miguel Pereira.
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