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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Se não fossem tão pretenciosas e desrespeitosas, as recém-declarações de António Salvador até poderiam ser descartadas como a irrealista ambição de um líder que pretende elevar o seu clube a uma dimensão inalcançável: « Nos últimos três ou quatro anos, o Sporting Clube de Braga tornou-se na terceira força desportiva em Portugal ». Se este seu conceito se fica a dever simplesmente a fanfarrice pelos sete pontos que separam os dois clubes na tabela classificativa, neste momento, ou a qualquer outra operação do espírito muito mais profunda, é caso que carece de explicação urgente da parte de especialistas versados em fenómenos filosóficos que tratam da alma e das suas manifestações. Para que conste, esta minha apreciação é somente dirigida à supracitada pessoa e de modo algum reflecte os meus sentimentos pelo clube minhoto, instituição cujas cores já enverguei e até tive a honra de liderar uma filial sua a feitos históricos no campo futebolístico. Dito isto, não acredito que uma mentira contada mil vezes se torne em uma verdade.
A contenda mais pertinente será questionar o que é que o SC Braga conquistou, futebolisticamente, nos seus 91 anos de existência: a Taça de Portugal na época de 1965-66, a Taça da FPF em 1976-77 (única edição desta prova), a Taça Intertoto em 2008, o 2.º lugar no campeonato pela primeira e única ocasião em 2009-10 e chegou à final da Taça UEFA em 2010-11. A servir de análise, nas últimas dez épocas da Liga, a partir de 2002-03, apenas se classificou duas vezes à frente do Sporting, em 2009-10 e 2011-12. No resumo da década, a diferença pontual é de 81 pontos, a favorecer o Sporting. Considerando estes factos de registo, onde reside o fundamento da ilação de que «nos últimos três ou quatro anos tornou-se na terceira força desportiva em Portugal», mesmo limitando a discussão ao futebol ?
Muito dá para entender que esta linha de pensamento do presidente António Salvador obedece a um plano mestre mais alargado - obra do seu mentor - cujo escopo é abater a imagem e a grandiosidade do Sporting Clube de Portugal, sustentando as há muito sentidas «areias movediças» e aproveitando esta fase da sua vida de menor estailidade financeira e desportiva para, em simultâneo, expandir o domínio do Norte sobre o «milieu», desporto e indústria. Não ao acaso, mas com um raciocínio que ultrapassa o domínio da sensatez, a comunicação social desportiva portuguesa, como quase sempre, é parte do problema e não da solução, sensacionalizando este movimento contencioso ao mais pequeno ensejo e sem a mínima observância dos deveres e honorabilidade de colocar os factos em um contexto significativo e sem perseguir a verdade em um sentido absoluto. Mesmo neste nosso mundo de expansão de vozes, a precisão é o alicerce sobre o qual tudo é construído, noção e obrigação, por de mais evidente, descartada em prol de outras considerações à conveniência. A vida ensina-nos de que a responsabilidade que hoje se ilude. será eventualmente retribuída e transferida aos irresponsáveis. É só uma questão de tempo !
Artigo publicado hoje no Jornal do Sporting
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