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Um remendo de socorro

Rui Gomes, em 02.09.13

Não espero que este meu parecer seja consensual entre sportinguistas -sem que isso me preocupe - mas não partilho do regozijo que se evidencia em algumas partes sobre os negócios que facultarão as transferências de Tiago Ilori e Bruma para o Liverpool e Galatasaray, respectivamente. Considero o desfecho deste duplo episódio um remendo de socorro para uma Direcção que não teve competência para assegurar uma solução mais adequada aos interesses do Sporting e  que até à data ainda não importou um cêntimo fresco para os cofres do Clube, não obstante as muitas promessas de registo.

 

Reconheço alguns dos mais óbvios atenuantes, especialmente no caso de Bruma, já que ao que concerne Ilori nada de concreto se sabe sobre o que levou a esta decisão, uma vez que nem o jogador nem a SAD jamais se pronunciaram nesse sentido. Todos os argumentos que têm surgido na praça pública, e que continuarão a surgir, agora mais do que nunca, decerto, não passam de ruídos fundamentados em conjecturas, rumores e meias verdades.

 

A essência da minha discordância é assente em uma premissa muito simples: indiferente dos quês e porquês, mais uma vez o Sporting vai ser privado de talentos excepcionalmente promissores da Academia na equipa principal. Ninguém é insubstituível, mas não serão os 20 milhões que irão permitir reforços do calibre que estes jovens representam. Entre os dois, considero a saída de Bruma a mais significativa, porque se o jogador continuar a evoluir na direcção que apontou na época passada, tanto na I Liga como no Mundial de Sub-20, tornar-se-á em um futebolista de referência com a capacidade para "fazer a diferença" em qualquer equipa, e este tipo de talento não nasce todos os dias.

 

Perante este cenário e as inevitáveis vozes discordantes, é expectável mais do mesmo do que hoje em dia está em voga, nomeadamente por parte daqueles para quem este presidente do Sporting é uma figura imaculada: menosprezar e demonizar todos os que, de uma forma ou outra, não se conformam incondicionalmente à conveniência da actual estrutura. Quanto a Bruno de Carvalho, que tem vindo a dar fortes indicações de querer emular os notórios métodos de liderança de Pinto da Costa, deve-se questionar se o seu "modelo exemplar" prescindiria de dois jovens de reconhecida qualidade de forma tão simplista. Ao fim e ao cabo, 20 milhões foi o que valeu um Paulo Ferreira há quase uma década.

 

P.S. Seria elucidativo saber quantos dos que agora aplaudam fervorosamente estas transferências, são os mesmos que andam há anos a criticar impiedosamente a transferência de um jovem promissor de 18 anos chamado Cristiano Ronaldo, por 17,5 milhões !!!

 

publicado às 04:49

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4 comentários

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De Petinga a 02.09.2013 às 12:00

Ponto prévio: nao pretendo faze-lo mudar de opiniao.
Outro ponto prévio: nao pretendo demonizar nem menosprezar Bruma, Ilori ou quem quer que seja.

Factos:

1. Ilori nunca falou sobre o processo de renovacao. BdC falou sobre o dito na última entrevista mencionando "várias tentativas" de chegar a renovacao com o jogador e o seu pai, "sem qualquer sucesso".
2. Bruma foi o que se sabe. Muita incongruencia e - ninguém me retira esta opiniao - nunca vi, da parte dos seus representantes, sinais para acreditar que realmente estavam interessados no melhor para o futuro do jogador, i.e. a continuidade no Sporting durante pelo menos mais um ano.
3. A Direccao (legitimada por eleicoes) adoptou como modus operandi só lancar na equipa A, em jogos oficiais, jogadores com contratos de longa duracao. Isso é o que podemos deduzir claramente do que foi feito até agora.
4. Face ao ponto 3., casos como Ilori, Bruma e Dier (que nao está aqui em discussao) dificilmente se voltarao a repetir em jogadores oriundos das camadas jovens. Enquanto for esta a Direccao e for este o modus operandi. A questao "jogadores com mercado e sem mercado" nao se coloca, portanto.
5. Bruma e Ilori sao ambos jogadores com imenso potencial. Contudo, nao teem mais do que isso - potencial, reconhecido pela Comunicacao Social e pela comunidade futebolística.
6. Bruma e Ilori teriam todas as condicoes para serem titulares/suplentes muito utilizados e brilharem na equipa de Leonardo Jardim (a quem se anteve, ainda que precocemente, uma época promissora).
7. Bruma e Ilori dificilmente atingirao todo o seu potencial no Galatasaray e no Liverpool, onde dificilmente serao titulares (no caso do primeiro, prevejo grandes dificuldades de adaptacao). Nao há comparacao entre as possibilidades de evolucao que um e de outro teriam no Sporting.
8. O negócio é, provavelmente, o melhor possível para o Sporting nesta altura. Se eu fosse dirigente de um clube, nao pagaria 7.5 M€ por um defesa-central jovem com 12 ou 13 jogos de 1a Liga num país estrangeiro e pouco competitivo, com uma prestacao mediana no último Mundial Sub-20.
9. Os "comos" e os "porques" destes negócios (nao incluo ainda Bruma porque nao há confirmacao) serao sempre motivo de especulacao. Mas a verdade nao se altera: neste momento, este é o melhor negócio possível para o Sporting. Aliás, é melhor do que o que qualquer de nós pensaria possível. Sem menosprezo do potencial e do talento de Tiago Ilori.

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De Rui Gomes a 02.09.2013 às 13:28

Caro Petinga,

Escreveu talvez o comentário mais construtivo desde que visita o blogue e do tipo que eu aprecio. Detesto discurso demagógicos e a eterna luta "nós" e "eles" e a favor ou contra o "Bruno". Os meus parabéns, portanto. Com isto, não quer dizer que concorde com tudo, mas sem dúvida que reconheço o mérito de alguns argumentos.

A realidade do nosso universo verde e branco é que nunca será possível satisfazer todos. Ainda há instantes um outro leitor opinou que o Hugo Viana foi mal vendido há 11 anos por 12 milhões, quando, na opinião de muitos, o que fez na sua carreira ainda nem sequer justificou essa verba.

Vamos então por partes:

1. Eu sei o que BdC disse, mas também sei o que não disse, ou seja os termos de renovação que foram apresentados ao Ilori . Não podemos implementar uma política em que esta não contenha flexibilidade para lidar com os jovens individualmente mediante o seu talento. Até admitirei que o Tiago queria mesmo sair, mas agora nunca saberemos.

2. Compreendo a política dos contratos de longo prazo mas gostaria que os riscos inerentes a esta fossem encarados de modo mais realista. Potencialmente, daqui a 1/2/3 anos poderemos ter 15 a 20 contratos de longo prazo sem saber o que fazer com os jogadores. Com alguns, teremos de aceitar contratos menos longos e negociar por outros moldes. O que é que faremos com o Eric para o ano ?... Ainda estou a tentar compreender o contrato de 6 anos do Diogo Salomão, salvo por verbas ridiculamente baixas.

3. Por o Sporting não possuir os meios para defender os seus interesses quanto aos formados, completamente, o potencial para conflitos existirá sempre. Salvo se quando cada um chegar aos 18 anos - quando pode assinar contrato profissional - o Sporting os mandar à vida, indiferente do seu talento, pela recusa de assinarem contratos de 5/6 anos.

4. Se os jogadores atingem o seu potencial nos clubes de destino, já não é um problema do Sporting. Dito isto, concordo com o caso de Bruma, uma escolha só pelo dinheiro, em princípio, mas o Tiago terá uma forte possibilidade no Liverpool.

5. Até não discordo que o negócio é o melhor possível nesta altura e concordaria totalmente se tivesse havido um outro tipo de abordagem logo à partida: mais negocial e menos conflituosa. 7 milhões em Portugal e para o Sporting é muito dinheiro, na EPL nem por isso.

Reconheço que nem sempre será possível , é a realidade do Sporting, mas exaspera-me não poder ver os nossos melhores formados na equipa principal durante algum tempo. Especialmente, como citei no post , no caso de Bruma pelo seu enorme potencial para ser um daqueles jogadores excepcionais.
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De Petinga a 02.09.2013 às 17:36

Caro Rui

1. Efectivamente, nunca saberemos quanto foi proposto ao Ilori. Nesses moldes, é especulacao assumir tanto que foi o jogador a querer "mundos e fundos" como que foi a Direccao a ser "inflexível e sem margem de manobra". Penso que aceitará isto.

2. Riscos existem em qualquer política! Independentemente de ser o Bruno ou o Godinho ou o Soares, o que eu quero é ver uma Direccao com uma estratégia clara e que assuma os riscos da mesma. Cá estaremos para cobrar e avaliar se a dita nao resultar.
Possivelmente nem o Rui nem eu teríamos aplaudido uma renovacao de 5 anos com o Wilson Eduardo ou o William Carvalho (muitos adeptos teriam escrito sem hesitar "sao jogadores para uma equipa que joga para o 7o lugar"). No entanto, após 3 jogos de 1a liga parece-me (ainda que precocemente) que temos ali dois valores tao interessantes quanto inesperados, com potencial de transferencia avultada num futuro próximo. Se por cada 15 renovacoes houver 2 ou 3 jogadores que rendam tanto como Bruma, penso que financeiramente já terá compensado... mas claro que o risco existe e é grande.

2a. O que é que fazemos com Eric Dier para o ano? Nao sei. Gostava que pudesse ficar no clube mais 1-2 anos, e duvido que com a qualidade que tem seja possível mante-lo muito para além disso (ver PS mais abaixo).

3. Concordo consigo. Mas a margem negocial de um jogador saído dos juniores e com meia-dúzia de jogos na equipa B será mesmo semelhante à que tinham, neste processo, Ilori ou Bruma?

4. Temo que a defesa do Liverpool seja Sakho, Agger e Skrtel (com Kolo Toure lesionado). O Tiago pode vir a ser um excelente defesa, mas fisicamente parece-me que precisa de crescer um pouco em "massa muscular" para a EPL e tem que ter nervos de aco para aguentar longos períodos nos reservas e na bancada à espera da sua chance. E nesta altura da carreira dele, o que ele precisa é de jogar muito ao mais alto nível possível... desejo-lhe obviamente o melhor.

5. Em relacao ao caso Ilori, mais uma vez: nao sabemos qual foi a abordagem nem sequer os montantes envolvidos. Portanto adjectivá-la de "conflituosa" nao me parece imparcial.

Penso que será muito complicado, até o Sporting se levantar financeiramente, poder manter os melhores "made in Alcochete" mais do que 1-2 anos a partir do momento em que comecam a chamar a atencao. Fico tao exasperado como o Rui nesse sentido. No entanto, o facto de saber que nos casos mencionados acima (Carvalho e Eduardo) o Sporting só terá realmente pressao para os negociar mais lá para 2015-2016 dá para encarar o futuro com algum optimismo. Pelo menos algum...

PS: O case-study Moutinho nao deixa de ser muito interessante em comentário à frase ("exaspera-me não poder ver os nossos melhores formados na equipa principal durante algum tempo"). Continuo a nao perceber bem onde errámos ("nós" o clube Sporting) nesse caso, mas comeco a ter uma ideia...
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De Rui Gomes a 02.09.2013 às 18:22

Apenas respondo ao caso Moutinho por o conhecer relativamente bem. O Sporting foi vítima de uma cilada que até envolveu o então seleccionador nacional. O único motivo que privou o jogador de participar no Mundial 2010.

Houve um aproveitamento por Pinto da Costa pela ambição do jogador em fazer um contrato milionário, que acabou por fazer através do Mónaco, mas tudo começou pelos negócios que fracassaram entre ele e o pai que precipitaram a necessidade urgente de cash flow ". Pela primeira vez, Bettencourt ainda veio ao socorro do jogador: renovação, salário elevado e prémio de assinatura. Quando as exigências continuaram e a impossibilidade de o Sporting as satisfazer, entra Pinto da Costa em cena com a cilada bem orquestrada e com diversos intervenientes. Nas circunstâncias foi um bom negócio, desportivamente o Sporting perdeu, como está à vista. O desespero do jogador era que com o Sporting nunca poderia assegurar o tal contrato milionário e, ironicamente, nesse exclusivo contexto, até teria razão. De resto, não teve ética ou moral alguma.

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