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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Nos últimos posts que publiquei, muitos comentadores têm vindo a acusar-me de divisionista, bota-abaixista e outros adjectivos ainda menos simpáticos. Em resposta as estas considerações, que não só não considero justas, como ofendem o meu Sportinguismo de mais de 40 anos, gostaria de deixar este “personal disclaimer”. Acabou por resultar um pouco longo e, por tal, peço, desde já, a compreensão dos nossos leitores.
Fui mais um dos muitos Sportinguistas, que durante muito tempo nem se incomodou em ir votar nas AG’s. Pura e simplesmente deixei andar, como muitos de nós fizemos. No entanto, nas eleições de há cinco anos atrás, algumas pessoas em que confio alertaram-me para o mal que andaria a corroer o Sporting e que nos levava a ter déficites financeiros permanentes e resultados desportivos pouco relevantes. Esse mal era, diziam-me, a Banca. A Banca estaria a sugar o sangue ao Sporting, com a conivência de alguns dos Directores do Clube, que partilhariam uma fatia desse bolo.
Voluntariei-me pois, para participar numa campanha eleitoral que tinha como grandes objectivos mudar as pessoas que lá estavam (a “linhagem” ou os “lambuças”, como agora lhes chamam) e realizar uma aprofundada auditoria de gestão ao Clube/SAD. Nas urnas, a generalidade dos Sportinguistas pronunciou-se contra nós (por exemplo, o actual presidente, apoiou e votou com a “continuidade”). Mas ter apoiado essa campanha fez-me estudar a situação do Clube/SAD. O que identifiquei foi uma muito má gestão desportiva, que provocava os tais déficites financeiros permanentes. Descobri ainda, para minha total surpresa, que os Bancos eram os melhores aliados do Sporting. Estiveram sempre no apoio a todas as necessidades que fomos tendo, cobrando taxas de juro muito abaixo do que era o verdadeiro risco das operações de financiamento (se algum leitor quiser aprofundar esta matéria, veja por favor a pag. 123 do último R&C, onde constam as condições de financiamento da SAD antes da reestruturação).
Nas eleições seguintes, estávamos perante duas escolhas potencialmente vencedoras: Godinho Lopes ou Bruno de Carvalho. Ambas eram escolhas de risco. Ambas se propunham aumentar muito os gastos de investimento e salariais do plantel, tendo em vista a criação de um ciclo virtuoso: ganhos desportivos -> maiores receitas (Champions League, bilheteira, TV, etc...) –> valorização e venda de activos (jogadores) - > compra de jogadores mais valiosos -> mais sucesso desportivo, etc, etc. No caso de Godinho Lopes tal far-se-ia com adicional recurso à Banca; no caso de Bruno de Carvalho através de um fundo que iria disponibilizar 50 milhões de euros, ficando pois titular da grande maioria do passes, mas obviamente com comparticipações do Sporting aos níveis da aquisição de alguma percentagem nesses mesmos passes e do pagamento dos salários e outras despesas dessas novas estrelas.
Sendo os objectivos de ambos os contendores a criação de uma gestão desportiva que nos levasse ao sucesso, acabei por me decidir pelo apoio ao Godinho Lopes. Ele trazia um homem para a gestão do futebol – Luís Duque - que, numa época anterior de investimento forte, nos permitiu vencer o Campeonato Nacional. Confiei que a gestão desportiva seria melhorada e o tal ciclo virtuoso, que ambos os candidatos prometiam, seria mais facilmente alcançado como quem já o tinha feito antes. Infelizmente enganei-me e as consequências estão à vista. É evidente que essa gestão falhou clamorosamente. O investimento foi feito sem critério, não houve coragem nas decisões a tomar e tudo isto se traduziu num descalabro que saiu muito caro ao Sporting, comprometendo-lhe, ainda mais, um futuro que já era bastante negro, depois das gestões de FSF e de JEB.
Chegamos então ao último acto eleitoral. Das duas alternativas em campo, a minha preferência pessoal ia para José Couceiro. Prometia uma equipa de gente que conhecia a Academia, o que adicionado ao seu conhecimento do futebol a nível internacional, poderia fazer a diferença no que toca à gestão desportiva do Sporting. Do outro lado estava Bruno de Carvalho. Este último tinha entusiasmado as gerações mais jovens do Sporting, aquelas que estávamos a perder devido as gestões desastrosas dos últimos anos. Na minha análise final entendi que haveria um risco claro de ruptura no Clube, caso BdC não ganhasse. O desinteresse dos mais jovens poderia ser a lapide na campa do Sporting. Se perdêssemos o que de mais valioso temos – a aderência de milhões de sócios e simpatizantes – perderíamos tudo, até porque todo o resto já estava altamente comprometido. Optei, assim, por votar na lista de BdC para a Direcção. Pareceu-me a opção que melhor defenderia o Clube de uma potencial “guerra civil”, que achei que poderia vir a acontecer caso ele não vencesse desta vez.
Mas não foi por ter votado em BdC que o passei a considerar algum santo de obra imaculada. Sei que existem falhas passadas. Prometi a mim próprio manter-me atento e vigilante, na limitada medida das minhas capacidades, quanto ao que esta gestão iria fazer no Sporting, pois já não há margem para mais erros. O Rui Gomes deu-me a oportunidade de o fazer publicamente através do blogue dele. Muito lhe agradeço a atenção e gabo a paciência. Aliás, muito louvo o Rui pelo elevado nível de entendimento democrático que mantém no Camarote Leonino. Ele soube que eu votei no BdC – porque eu lho referi claramente -, mas acolheu-me neste seu blogue sem quaisquer problemas ou restrições. Ao contrário de outros lugares, aqui não se fala pela voz do dono. Aqui, cada um tem direito à sua opinião.
Em conclusão, quero que fique claro que uma análise crítica dos actos de gestão não quer dizer que queira deitar abaixo uma Direcção - que, como já referi, até ajudei a eleger. E muito menos quer dizer que defenda a anterior. Quer dizer apenas que me preocupo com o Clube e o quero ver bem gerido. Não acredito em apoios acefalos e seguidismos fanáticos. Assim, pela parte que me toca, penso que só posso contribuir deixando um compromisso de isenção e lisura na análise, seja na crítica ou no apoio, ao que se vai fazendo no nosso glorioso Sporting Clube de Portugal.
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