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Desert Lion - Personal Disclaimer

Desert Lion, em 14.09.13

 

Nos últimos posts que publiquei, muitos comentadores têm vindo a acusar-me de divisionista, bota-abaixista e outros adjectivos ainda menos simpáticos. Em resposta as estas considerações, que não só não considero justas, como ofendem o meu Sportinguismo de mais de 40 anos, gostaria de deixar este “personal disclaimer”. Acabou por resultar um pouco longo e, por tal, peço, desde já, a compreensão dos nossos leitores.

 

Fui mais um dos muitos Sportinguistas, que durante muito tempo nem se incomodou em ir votar nas AG’s. Pura e simplesmente deixei andar, como muitos de nós fizemos. No entanto, nas eleições de há cinco anos atrás, algumas pessoas em que confio alertaram-me para o mal que andaria a corroer o Sporting e que nos levava a ter déficites financeiros permanentes e resultados desportivos pouco relevantes. Esse mal era, diziam-me, a Banca. A Banca estaria a sugar o sangue ao Sporting, com a conivência de alguns dos Directores do Clube, que partilhariam uma fatia desse bolo.

 

Voluntariei-me pois, para participar numa campanha eleitoral que tinha como grandes objectivos mudar as pessoas que lá estavam (a “linhagem” ou os “lambuças”, como agora lhes chamam) e realizar uma aprofundada auditoria de gestão ao Clube/SAD. Nas urnas, a generalidade dos Sportinguistas pronunciou-se contra nós (por exemplo, o actual presidente, apoiou e votou com a “continuidade”). Mas ter apoiado essa campanha fez-me estudar a situação do Clube/SAD. O que identifiquei foi uma muito má gestão desportiva, que provocava os tais déficites financeiros permanentes. Descobri ainda, para minha total surpresa, que os Bancos eram os melhores aliados do Sporting. Estiveram sempre no apoio a todas as necessidades que fomos tendo, cobrando taxas de juro muito abaixo do que era o verdadeiro risco das operações de financiamento (se algum leitor quiser aprofundar esta matéria, veja por favor a pag. 123 do último R&C, onde constam as condições de financiamento da SAD antes da reestruturação).

 

Nas eleições seguintes, estávamos perante duas escolhas potencialmente vencedoras: Godinho Lopes ou Bruno de Carvalho. Ambas eram escolhas de risco. Ambas se propunham aumentar muito os gastos de investimento e salariais do plantel, tendo em vista a criação de um ciclo virtuoso: ganhos desportivos -> maiores receitas (Champions League, bilheteira, TV, etc...) –> valorização e venda de activos (jogadores) - > compra de jogadores mais valiosos -> mais sucesso desportivo, etc, etc. No caso de Godinho Lopes tal far-se-ia com adicional recurso à Banca; no caso de Bruno de Carvalho através de um fundo que iria disponibilizar 50 milhões de euros, ficando pois titular da grande maioria do passes, mas obviamente com comparticipações do Sporting aos níveis da aquisição de alguma percentagem nesses mesmos passes e do pagamento dos salários e outras despesas dessas novas estrelas.

 

Sendo os objectivos de ambos os contendores a criação de uma gestão desportiva que nos levasse ao sucesso, acabei por me decidir pelo apoio ao Godinho Lopes. Ele trazia um homem para a gestão do futebol – Luís Duque - que, numa época anterior de investimento forte, nos permitiu vencer o Campeonato Nacional. Confiei que a gestão desportiva seria melhorada e o tal ciclo virtuoso, que ambos os candidatos prometiam, seria mais facilmente alcançado como quem já o tinha feito antes. Infelizmente enganei-me e as consequências estão à vista. É evidente que essa gestão falhou clamorosamente. O investimento foi feito sem critério, não houve coragem nas decisões a tomar e tudo isto se traduziu num descalabro que saiu muito caro ao Sporting, comprometendo-lhe, ainda mais, um futuro que já era bastante negro, depois das gestões de FSF e de JEB.

 

Chegamos então ao último acto eleitoral. Das duas alternativas em campo, a minha preferência pessoal ia para José Couceiro. Prometia uma equipa de gente que conhecia a Academia, o que adicionado ao seu conhecimento do futebol a nível internacional, poderia fazer a diferença no que toca à gestão desportiva do Sporting. Do outro lado estava Bruno de Carvalho. Este último tinha entusiasmado as gerações mais jovens do Sporting, aquelas que estávamos a perder devido as gestões desastrosas dos últimos anos. Na minha análise final entendi que haveria um risco claro de ruptura no Clube, caso BdC não ganhasse. O desinteresse dos mais jovens poderia ser a lapide na campa do Sporting. Se perdêssemos o que de mais valioso temos – a aderência de milhões de sócios e simpatizantes – perderíamos tudo, até porque todo o resto já estava altamente comprometido. Optei, assim, por votar na lista de BdC para a Direcção. Pareceu-me a opção que melhor defenderia o Clube de uma potencial “guerra civil”, que achei que poderia vir a acontecer caso ele não vencesse desta vez.

 

Mas não foi por ter votado em BdC que o passei a considerar algum santo de obra imaculada. Sei que existem falhas passadas. Prometi a mim próprio manter-me atento e vigilante, na limitada medida das minhas capacidades, quanto ao que esta gestão iria fazer no Sporting, pois já não há margem para mais erros. O Rui Gomes deu-me a oportunidade de o fazer publicamente através do blogue dele. Muito lhe agradeço a atenção e gabo a paciência. Aliás, muito louvo o Rui pelo elevado nível de entendimento democrático que mantém no Camarote Leonino. Ele soube que eu votei no BdC – porque eu lho referi claramente -, mas acolheu-me neste seu blogue sem quaisquer problemas ou restrições. Ao contrário de outros lugares, aqui não se fala pela voz do dono. Aqui, cada um tem direito à sua opinião.

 

Em conclusão, quero que fique claro que uma análise crítica dos actos de gestão não quer dizer que queira deitar abaixo uma Direcção - que, como já referi, até ajudei a eleger. E muito menos quer dizer que defenda a anterior. Quer dizer apenas que me preocupo com o Clube e o quero ver bem gerido. Não acredito em apoios acefalos e seguidismos fanáticos. Assim, pela parte que me toca, penso que só posso contribuir deixando um compromisso de isenção e lisura na análise, seja na crítica ou no apoio, ao que se vai fazendo no nosso glorioso Sporting Clube de Portugal.

 

publicado às 18:56

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7 comentários

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De robson a 14.09.2013 às 20:37

Ao contrário do que é normal, gostei deste post.

Sensato, razoável e com espírito crítico.

Um Abraço e saudações.
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De Desert Lion a 15.09.2013 às 17:42

"Sensato, razoável e com espírito crítico" está certo. Mas faltou-lhe acrescentar: "como são, na generalidade, os todos os posts neste blogue".

Mas é claro que não espero que quem olha para estas questões pelas lentes da parcialidade, consiga perceber isso...

SL
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De AM a 14.09.2013 às 23:35

Caro Desert Lion,

Tenho que confessar que me surpreendeu um pouco o seu disclaimer.

"Assim, pela parte que me toca, penso que só posso contribuir deixando um compromisso de isenção e lisura na análise, seja na crítica ou no apoio, ao que se vai fazendo no nosso glorioso Sporting Clube de Portugal."

Concordo totalmente.Também crítico o que acho errado,mas aplaudo o que entendo como positivo.Os seus textos são totalmente compatíveis com isto.
Porquê então a surpresa?

Em resposta a um leitor, neste post,

http://camaroteleonino.blogs.sapo.pt/352415.html

e a propósito da razão porque achava que BdC não tinha investidores-como não tinha-respondeu:

"...Pode pois agora perguntar-me: mas entao porque acha que o Bruno de Carvalho nao pode tambem conseguir isto?(nota minha:o mesmo que Couceiro) E eu respondo-lhe que e, fundamentalmente, por duas ordens de razoes:
- o curriculo empresarial de BdC e miseravel. Todo o seu trajecto e muito pouco abonatorio de qualquer capacidade de gestao e parece que ja nem a familia Aragao Pinto lhe fala;
- o tipo de abordagem de tipo "moleque" da sua "clique" afasta as pessoas mais serias, crediveis e experientes de qualquer possivel envolvimento significativo com essa equipa.

As unicas hipoteses entao de BdC conseguir investidores seriam as menos limpas: assumir o Sporting como uma "maquina de lavar" para capitais de origem mais do que duvidosa; ou dar contrapartidas secretas (por exemplo, um cativo de passes dos jogadores jovens ainda do Clube) para minimizar o risco dos tais investidores que ai aparecam. Mas nao quero acreditar que uma Direccao do Sporting possa embarcar por esses caminhos... "

Eu também acho "que uma Direcção do Sporting possa embarcar por esses caminhos" portanto vamos deixar esta parte em sossego.

Dado que as eleições tinham ocorrido cerca de um mês e meio antes,pergunto:

1)O currículo empresarial de BdC era diferente?

2)O seu comportamento e o dos que o acompanhavam tinha mudado?

Só posso concluir que votou em BdC não acreditando num dos pilares fundamentais do seu projecto: a existência de investidores.

Espero que não interprete mal estas perguntas-sou um apreciador sincero do que escreve-mas gostaria que esclarecesse esta dúvida,se o entender, o que lhe agradeço desde já.
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De AM a 15.09.2013 às 00:07

Eu também acho "que uma Direcção..."=>Eu também não acho "que uma Direcção..."
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De Desert Lion a 15.09.2013 às 17:37

Caro AM,

Permita-me então explicar-me melhor. Dado que o post anterior já estava tão longo não particularizei a minha análise do duelo entre Couceiro e BdC. Eu preferia Couceiro porque:

- como já referi parecia-me ter a equipa mais válida a nível da gestão desportiva do Clube;

- era o único que tinha reais perspectivas de convencer os investores (falo do grupo ligado a BES/KPMG) a entrarem, a curtíssimo prazo, na SAD;

- tem um tipo de personalidade com a qual simpatizo muito mais, inteligente mas afável, sólido nos seus conheceimentos, mas capaz de reconhecer os seus erros, convicto mas não fanático.

Teria pois tudo para levar o meu voto, o que não aconteceu. Votei em BdC, como referi no post, porque:

- se Couceiro ganhasse seria sempre por uma margem muito apertada. A sua facção de seguidores iria sempre alegar vícios nas eleições;

- decorreria daí que seria impossível governar o Sporting. Se Couceiro ganhasse andaria constantemente "a medo" e sem possibilidade de tomar medidas corajosas, como aliás aconteceu com GL antes dele;

- as AG's para aprovar fosse o que fosse seriam um pesadelo, com derrotas mais que prováveis da Direcção, porque os elementos mais activos e barulhentos do Clube estavam, claramente, com BdC;

- o que tornaria impossível a entrada (ou, pelo menos, a manutenção) de investidores aniquilando todo o projecto a partida.

Couceiro estaria pois, na análise que fiz nessa altura, numa camisa de sete varas, sem espaço para nada, depois de ganhar umas eleições disputadas ao milímetro. Não era então, na minha opinião, a solução para o Sporting.

Caso ganhasse BdC era para mim óbvio que nunca teria, no curto prazo e antes de se mostrar capaz de seguir ordens e respeitar acordos, o apoio de nenhuns investidores. Então, duas coisas poderiam acontecer:

- conseguir o apoio da Banca, por via de um acordo que lhe colocasse limites muito claros e governar dentro de baías que lhe eram dadas por entidades credíveis;

- não conseguir o apoio da Banca e ter e renunciar, deixando a quem conseguisse os tais apoios financeiros a gestão do Clube.

De qualquer modo o que certamente aconteceria seria termos os sócios que votaram Couceiro a darem uma hipótese a BdC. A generalidade dos votantes de Couceiro são mais velhos, experientes e não abandonam o Clube facilmente. Não iriam, certamente, impedir o novo presidente de gerir o Clube, com manifestações juvenis e confrontacionais, o que possibilitaria alguma união à volta do objectivo comum o recuperar.

Foi pois esta a linha de raciocínio que me levou a votar BdC. Com a sua vitória, o Clube tinha uma hipótese (se ele se portasse bem) e um Plano B (se ele não aceitasse o que lhe davam). Com o Couceiro a ganhar seria apenas a continuação da caminhada para o abismo, inevitável quando não se pode governar.

Quanto à última questão que me coloca, basta consultar os arquivos do Blogue. Sempre disse que não havia investidores nenhuns, mesmo quando o BdC dizia que eles entrariam "no dia a seguir às eleições" ou, noutra versão, "quando a reestruturação estivesse aprovada".

No entanto, a este nível, tenho esperança que o presidente, seguindo à risca o plano financeiro que lhe foi imposto, venha a conquistar alguma confiança junto de investidores e consiga recapitalizar a SAD a curto/médio prazo.

SL
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De AM a 15.09.2013 às 20:36

Caro Desert Lion,

Uma decisão a revelar um grande pragmatismo.De facto,o cenário que descreve é muito realista.Eu,pela minha parte,seria incapaz de votar num candidato em relação ao qual tivesse a convicção que manifestou com respeito a um aspecto nuclear do seu programa.

Ainda hoje ,é de longe,o que mais me incomoda na actual situação.
Ingenuamente ou não,acreditei que BdC teria alguma "coisa".
É preciso compreender que a Holdimo estava com GL,era um dos parceiros/investidores que ajudavam a direcção anterior em termos de tesouraria e que BdC,muito bem ,e também pragmaticamente ,aproveitou.

Em relação a esta direcção,tem feito coisas boas-a maneira como o plantel foi constituído,a maneira como certos jogadores foram adquiridos(fazendo muito com pouco),a coesão da equipa dirigente e técnica do futebol,o caminho das renovações com os jovens e haveria outros.
Mal sem dúvida na questão dos "excedentários".

Mas assim como tinha que lhe fazer aquelas duas perguntas,ao nosso presidente gostaria de fazer uma:afinal havia ou não investidores?E se não havia...o que é que falhou?
Mais uma vez,parecendo ingénuo...

SL


PS-mais uma excelente vitória no futebol.Quando o futebol é entregue a quem percebe ,coisas boas podem suceder.
Esperemos que venham muitas mais.
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De Desert Lion a 16.09.2013 às 07:14

Caro AM, apesar de todos os erros e ofensas à integridade do Sporting, continuo a achar que fiz optei bem. Imagine, só a título de exemplo, que era o Couceiro a tentar incorporar na SAD uma participação da Holdimo, do Sr. Sobrinho. Este empresário é o ex Presidente do BES Angola, ligado às negociatas desses país, e com queixas pendentes por lavagem de capitais em Portugal. O que aconteceria a Couceiro? Seria trucidado. Esta proposta nunca passaria numa AG. Nunca, excepto se quem a proponha seja o "inimigo da Banca" e "cavaleiro da auditoria", de seu nome BdC. Demagogia pura.

Quanto ao futebol, Leonardo Jardim tem confirmado o que prometia em todos os Clubes em que passou: é um grande treinador, e como já disse em post anterior, perdendo ou ganhando este ano ou o próximo, gostaria muito que ele fosse o nosso Ferguson e por aqui ficasse por muitos e bons anos.

SL

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