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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Sem razão de ser, lembrei-me hoje de Laszlo Boloni, um homem que eu sempre respeitei e admirei pela sua passagem pelo Sporting. Mesmo não sendo o melhor treinador do Mundo, gostaria que tivesse permanecido mais algum tempo em Alvalade, sobretudo, gostaria que tivesse sido tratado pelo Sporting com mais consideração e elegância, no mínimo.
Decidi dar mais uma olhadela pelo seu "Bloco de Notas" - publicado em Julho de 2002 - e logo nas páginas iniciais reparei numa das suas primeiras anotações sobre Ricardo Quaresma que me parece muito certeira. O todo das suas notas sobre este formado do Sporting é extenso, mas transcrevi este trecho que me parece relevante:
«Vale a pena fazer aqui uma reflexão mais demorada sobre Quaresma. Até porque foi exactamente contra ao Standard Liège que este jovem me convenceu em absoluto sobre as suas potencialidades. Ele fez um grande jogo. Após este encontro comparei-o, nas minhas anotações, a um "Mustang" (cavalo selvagem) difícil de dominar. Anotei esse comentário com um grande ponto de interrogação. Perguntava-me, "será que algum dia ele conseguirá aceitar determinadas regras que o podem tornar num bom cavalo de corrida, com um bom galope, ou será que nunca vai aceitar essas regras e permanecerá um "Mustang", um cavalo selvagem, que corre livremente, mas sem rumo?".
Aos poucos fui estudando as reacções do meu pupilo. Havia muita coisa que o perturbava. Por exemplo, os gritos das pessoas que o chamavam quando ele saía dos treinos ou a reacção do público quando ele fazia um drible. Ele adorava essas coisas ! Mas eu sabia que, se ele exagerasse e a coisa corresse mal, vinham os assobios. Note-se que estamos numa corrida, num concurso em que o meu cavalo deve revelar grande eficácia, não estamos num circo nem na pradaria. É preciso atingir uma eficiência máxima. Outra coisa que me preocupava, era a reacção dos companheiros de equipa. Iriam aceitar um jogador tão individualista ?
(...) Tivemos várias conversas ao longo da época. Percebi que ele nunca tinha sentido muito respeito, por nada nem por ninguém, e isso dificultava a sua integração na equipa. Expliquei-lhe que quando integramos um grupo, há que saber respeitar determinadas regras. Mas nunca quis responsabilizá-lo demasiado. (...) Só queria que este "cavalo" entrasse na boxe, integrasse o resto do grupo e que se sentisse tão bem no estábulo como se sentia na pradaria.»
Não será de todo descabido adiantar que estas breves considerações de Lazlo Boloni acabaram por ser quase uma profecia para a carreira de Ricardo Quaresma. Na realidade, ele nunca aceitou a soma das regras que o técnico refere e nunca ninguém o conseguiu domar totalmente. Não por coincidência - dado a conhecida rigidez disciplinar da estrutura deste clube - a sua fase de maior sucesso foi no FC Porto, apesar dos primeiros tempos algo turbulentos em que ele, pelas mesmas razões, sentiu grandes dificuldades em integrar o grupo.
Anda hoje, uma década mais tarde, Ricardo Quaresma continua a ser um "Mustang" indomável.
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