De Anónimo a 31.10.2013 às 08:44
Ora eu já não concordo e nem é por se tratar de mais um episódio lúdico e representativo da Sporting Comunicados do Carvalho, mas pelas seguintes razões:
- sobre o fundo - nem o próprio Messi deixou de censurar a atitude do Blatter e até o próprio já pediu desculpas sobre a mesma. Pode concluir-se que todos os envolvidos acham que foi um momento infeliz, incluindo o próprio, e isso até antes do Carvalho ter decidido opinar sobre o assunto. E se a censura é generalizada, qual o propósito desta intervenção?
Parece ser claro que a haver situação em que o Ronaldo não precisava de defesa adicional, esta era uma delas. Que se façam comunicados quando é criticado por actuar na selecção nacional, ou assobiado pelo público presente; que se façam comunicados quando algo exige a defesa e não quando já se quer esfolar já depois de matar. Isso seria uma postura inteligente e a postura de uma organização que sabe conformar o futuro de acordo com um objectivo, e não - o que se evidencia por este comunicado - de uma organização que vai atrás de tudo o que lhe possa gerar mais uns soundbytes na confusão permanente entre ser popular, popularucho ou populista.
É que, ao não ser uma situação que requeira a defesa do Sporting, o que dizer então das centenas de outros jogadores formados pelo Sporting - em todas as modalidades - a quem a vida não deu a sorte (por empenho que tivessem) de ser criticados pelo responsável máximo da sua modalidade? Esses, perante a adversidade (e pelo anonimato), não mereceriam comunicados do presidente do Sporting? A esses, um comunicado proferido pelo presidente do Sporting não faria uma efectiva diferença nas suas vidas? Pois está claro que, face à inexistência de quaisquer objectivos palpáveis (e a assessoria de imprensa da FPF tratou de repudiar imediatamente) ou face à ausência de necessidade da defesa, que o pouco que se defende neste comunicado é imediatamente posto em causa pelo que não se defende. E isto é - no mínimo - ter pouco sentido da importância da comunicação do Sporting.
- sobre os destinatários - quando o Sporting (ou o Carvalho?) comunica, fá-lo para uma comunidade, que pode ser a totalidade dos portugueses, a comunidade desportiva ou apenas a comunidade sportinguista. E se é difícil de explicar o objectivo do comunicado (o que se pretende atingir), mais difícil (ou talvez não) é explicar quem se pretende atingir. Pretender-se-ia dar expressão à censura - no que o comunicado seria uma espécie de corporização de uma vontade colectiva - ou conformar algo para o futuro (caso houvesse algum objectivo a atingir)? Pretender-se-ia dirigir à totalidade da comunidade desportiva, nacional ou apenas aos sportinguistas? Uma vez mais, é difícil aferir o que este comunicado (a destempo) procurava e isso em si já seria suficiente para afastar a sua pertinência. O que o perfil comunicacional do Carvalho permite intuir é que este comunicado visa - antes de mais - os sportinguistas e nisso parece um exercício umbiguista (quer na vertente auto-referencial do Sporting, quer no permanente exercício auto-referencial do Carvalho). Sendo destinado aos sportinguistas, levantar-se-iam ainda mais dúvidas acerca da sua pertinência. Do que não se levantam dúvidas é sobre a (desejada) construção de uma figura ultra-interventora do Carvalho, "o Presidente Sportinguista", que pensa, age e faz o clube comunicar como os demais.
- sobre a sintaxe - haverá palavras para a ausência de qualidade gramatical do comunicado, que apenas poderá ter sido escrito por quem tem vagas noções de como falar e/ou escrever na língua portuguesa? Fará sentido que num comunicado com 3(!!!!) parágrafos surja este nado-morto gramatical e estilístico "Repudiamos as palavras de Joseph Blatter, que com a posição que ocupa, não pode proferir aquelas palavras, em relação a qualquer atleta"? Deprimente.
- sobre a Carvalhização - uma vez que o comunicado é subscrito em nome individual pelo Carvalho, surgem duas questões. Foi deliberado pelo Conselho Directivo e Conselho de Administração? Se o foi, porque foi assinado a título individual? E se não o foi a que plural se refere o "repudiamos"? Será o plural majestático? Detalhes que fazem toda a diferença...