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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
No dia 27 de Maio de 1962, o Sporting venceu o Benfica, por 3-1, em Alvalade, em jogo do Campeonato Nacional cujo título o Sporting já tinha matematicamente garantido, mesmo antes do encontro com os eternos rivais. As duas equipas alinharam do seguinte modo:
Sporting: Libânio, Lino e Hilário; Perides, Lúcio e Fernando Mendes; Hugo, Figueiredo, Diego, Geo e Morais.
Benfica: Costa Pereira, Mário João e Ângelo; Cavem, Germano e Cruz; Simões, Eusébio, José Àguas, Coluna e José Augusto.
No final do jogo houve grande celebração por parte dos sportinguistas - jogadores e adeptos - e verificaram-se algumas reacções individuais:
Juca - «O Benfica tinha acabado de se sagrar campeão europeu. Esse facto fez com que os próprios jogadores do Benfica entrassem para aquele jogo com outra disposição. Foi uma festa extraordinária.Eu era muito novo e tinha sido colega de muitos dos jogadores que naquela altura treinava, como o Fernando Mendes, o Carvalho, o Mário Lino e o Hilário. Foi de facto a vitória da amizade. No final, quando se deu a invasão de campo, alguns jogadores ficaram completamente nus. Lembro-me de ter visto o Eusébio e o José Augusto no nosso balneário para nos felicitarem.»
Eusébio - «No futebol, um jogador tem de saber ganhar mas o mais difícil é aprender a perder. (...) Nessa altura tinha muitos amigos no Sporting. Depois dos jogos, convivíamos juntos. O Hilário era o meu "irmão". Em campo éramos adversários, depois dos jogos jantávamos juntos, jogadores do Sporting e do Benfica. (...) O Sporting ganhou e bem. Apesar da tristeza que sentíamos por o Benfica ter perdido o campeonato para o Sporting, só pensávamos que para o ano teríamos que lutar para ganhar. Depois do jogo não me custou nada, até foi com prazer que fui à cabina do Sporting cumprimentar os meus colegas de profissão pela conquista do campeonato.»
José Auusto - «A rivalidade entre Benfica e Sporting era muito grande, aliás idêntica à que é hoje mas com uma diferença: só existia dentro do campo. Fora das quatro linhas havia um grande respeito e um forte sentimento de amizade entre nós. Só para dar uma ideia desse ambiente, quando eu estava na tropa mais de metade da equipa do Sporting cumpriu o serviço militar comigo. (...) Eram frequentes os tradicionais almoços de segunda-feira entre jogadores do Benfica e do Sporting. Falávamos de bola, claro ! Mas sempre com muito civismo.
(...) Como sempre acontecia após o apito final, os jogadores fugiram que nem setas para os balneários. Os jogadores do Benfica também foram apanhados no meio da euforia e obrigados a embarcar nos festejos. Fomos passeados ao colo durante alguns minutos ! Parece estranho, adeptos vestidos de verde e branco a passearem em ombro os jogadores do Benfica, mas foi engraçado. (...) No final fomos ao balneário do Sporting felicitar os jogadores campeões, que no fundo eram nossos amigos. Para nós, aquilo foi um acto natural de felicitar um grupo de amigos que acabava de se sagrar campeão nacional.»
Bom senso, educação e respeito, em soma, desportivismo !... A questão que se prende é se este sentido de desportivismo era de facto genuíno naqueles tempos e, se era, como muito indica, qual a razão que praticamente desapareceu com o passar dos anos ?
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