Camarote Leonino

Ainda me lembro como se fosse ontem de ver o Ronaldo e o Quaresma jogarem no Sporting e veja-se onde está um e outro agora. Quem os via na altura percebia neles um grande potencial. Não sei dizer qual deles era superior na época. Mas o Ronaldo era mais intenso, tinha mais querer. O Quaresma era mais fantasista, dentro e fora do campo. Toda a gente que conheceu o Ronaldo no Sporting, ainda adolescente, lhe reconhecia uma ética do trabalho muito invulgar para a idade, para um jogador de futebol e até para um português. Essa ética manteve-se sempre. A inteligência também. Intensidade, concentração, dedicação, esforço e, claro, talento, definem o Ronaldo.

Não tem nada a ver com o mundo do Eusébio, de um futebol fechado, um país fechado, com uma economia protegida, em que o Estado português o impediu de sair do Benfica e assim esse clube pode acumular os troféus que hoje ostenta e usar esse jogador como símbolo exclusivo. Já nem falo na hipocrisia de se terem referido ao Eusébio como símbolo do (reaccionário) lusotropicalismo. Nunca se ouviu tanto chavão do Estado Novo como na última semana...

Já os jogadores da formação do Sporting foram livres de irem jogar para onde quiseram, porque os governantes portugueses da época não os impediram, nem o podiam fazer. Com isso perdeu o Sporting, que não pôde manter grandes equipas sem grande investimento, como outros. Mas se esses jogadores não ganharam títulos no Sporting, pelo menos não foram chupados até aos ossos por nenhum clube e vão poder sair do futebol e fazer outras coisas na vida sem andar a pedir caridade. É por isso que o Eusébio não é exemplo para ninguém. Haja decoro.