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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
«O Manuel Fernandes é dos homens que mais admiro no futebol. Tínhamos uma relação muito especial, assente em gestos que nos marcam para toda a vida. Um dia, numa final de Taça no Jamor, os jogadores do Sporting trocaram todos de camisolas com os adversários, menos o Manel. Tínhamos ganho a Taça e ele, na qualidade de capitão, encaminhou-se para a tribuna para receber o troféu das mãos do Presidente da República Ramalho Eanes. À medida que ele subia as escadas reparei que ia despedindo a camisola. Os repórteres começaram a dizer que ele se preparava para oferecê-la ao Presidente da República. O Manel chegou à tribuna, eu estava mesmo ao lado do General, e ele dá-me um abraço e oferece-me a camisola.
Apesar da cumplicidade, nunca perdi de vista a hierarquia: ele era o capitão de equipa mas eu era o presidente do Clube. Por isso, custou-me muito ter que tomar a atitude drástica quand o Manel criticou publicamente a nomeação de António Oliveira para treinador-jogador. Foi em Alvalade. Cheguei ao balneário e disse-lhe: «Manel, vou ter que lhe tirar a braçadeira de capitão, você não devia ter feito considerações dessa natureza.» Pediu-me para não fazer isso, que era um grande desgosto para ele, mas eu não desarmei. «Vou sofrer mais com isto que está a acontecer do que você, acredite, mas vai ter que ser.» Foi antes de um jogo para a Supertaça com o Braga. O Manuel Fernandes marcou três golos. Fiquei lá em cima na tribuna até as luzes se apagarem. Depois desci ao balneário. Já toda a gente tinha ido embora, menos o Manuel Fernandes. Estava lá equipado à minha espera, a chorar.»
* Do livro «Estórias d'Alvalade» por Luís Miguel Pereira
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