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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Ainda sobre o polémico vídeo de Rui Patrício, o presidente do Sporting publicou uma mensagem criticando o feito e sugerindo à empresa em questão que um vídeo promocional da marca, "sobre os vários erros cometidos esta época nos jogos do Benfica, dariam com certeza notas bem mais artísticas do que esta."
Segundo Bruno de Carvalho, o Sporting contactou a Sagres logo que houve conhecimento do vídeo, e que "passados 15 minutos chegou um pedido de desculpas formal por escrito ao Clube, o vídeo foi retirado e foram pedidas desculpas públicas."
Não me vou dar ao trabalho de transcrever o todo da mensagem do presidente do Sporting - intitulada "Porque o Sporting somos nós" - por estar disponível no site do Clube aqui e, porventura, já terá sido lida por muitos dos leitores. Dito isto, no entanto, esta contém algumas considerações importantes e merecedoras de maior relevo e apreciação da nossa parte.
Surpreendente - para mim, pelo menos - ler o que podem ser considerados lamentos do presidente sobre determinados aspectos do Clube e medidas levadas a cabo pelo seu Conselho Directivo que, na sua óptica, não tiveram o impacto esperado e desejado:
1. Um acréscimo "apenas" de 6000 novos sócios, apesar de terem sido criados novos escalões "para permitir que todos se possam tornar associados e com regalias."
Sublinha ainda Bruno de Carvalho que este número é "manifestamente pouco para a grandeza do Sporting Clube de Portugal". As razões exactas para esta disposição serão várias e talvez de difícil dissecação. Não será injusto apontar para a crise do País como um dos factores que contribui para a menor adesão de sportinguistas a associação formal ao Clube. Além do mais, é a natureza humana, que não exclui sportinguistas, que a vasta maioria é composta por adeptos muito mais passivos do que activos.
2. Uma vez colocada à venda a "Gamebox Modalidades", apenas 200 foram vendidas. Considerando o notável ecletismo do Sporting, este baixo número é de facto surpreendente. Não sei até que ponto a não existência de um próprio pavilhão influencia esta vertente das operações, mas é provável que tenha um impacto negativo.
3. No que à venda de Gamebox para o futebol concerne, faltam ainda vender cerca de 2000, declarando o presidente que "estamos irremediavelmente afastados do objectivo de receita definido e necessário." Mesmo com a implementação inédita de os "Bilhetes Família" e os "Bilhetes Anti-Crise", que permitem limitado (1000) ingressos "Anti-Crise" ao custo de 5 euros, apenas se tem verificado uma média de compra de 150.
No último jogo em Alvalade contra o Nacional, houve uma campanha com preço único para todas as bancadas, de 7 euros para sócios. Apesar disto, lamenta o presidente, estiveram pouco mais de 38000 espectadores, sendo que contabilizando as entradas Gamebox, significa que apenas 3233 sócios compraram bilhetes para o jogo.
Também aqui será possível avançar com um leque de factores que precipitam o todo da situação, mas considero que dois são cruciais: o primeiro, as baixas expectivas para a época anunciadas logo no primeiro dia e frequentemente reiteradas desde daí. A segunda, a não existência de nomes "cartaz" no plantel. Compreende-se perfeitamente a condicionante financeira, mas é esperar muito vender um produto que não apresenta activos sonantes, não obstante os resultados de maior agrado. O adepto de futebol, em geral, além do apoio ao clube da sua simpatia, é motivado a assistir "in loco" pela expectativa de ver jogar este ou aquele jogador de dotes superiores e pelo espectáculo, por si. A exemplo, extremo que seja, não sou adepto do Real Madrid mas tento não falhar um jogo seu por... Cristiano Ronaldo. Se me encontro na capital espanhola, a tentação de me deslocar ao estádio é irresistível. No Sporting temos muitos outros exemplos do género, mas vem-me prontamente à ideia o meu entusiasmo em ver em Alvalade um Peter Schmeichel, um André Cruz, um Acosta e até um Liedson, só para nomear alguns.
4. Por fim, na parte que compete a este meu texto, o presidente lamenta também o jornal do Clube - que ele descreve como "mudado e melhorado"- apenas ter "algumas dezenas de novos assinantes".
Concordo que tenha mudado, já o seu melhoramento é muito discutível. Desde o advento de notícias "online" hora a hora, um jornal como o do Sporting é forçado a ter um atractivo extra para estimular vendas e assinantes. Não sou perito na matéria mas, pela minha óptica, algumas das alterações levadas a cabo afectaram o interesse pela publicação. É lógico que cada leitor procure algo diferente de um jornal de clube: a minha preferência é notícias sobre as modalidades - escassas em outros órgãos noticiosos - as crónicas dos jogos da formação, algumas entrevistas com figuras interessantes que não sejam atletas e, sobretudo, os artigos de opinião, a minha leitura preferida.
O actual jornal começa logo menos bem com o editorial da autoria do seu director, José Quintela, que é um pobre escriba e tem como seu escopo quase exclusivo aquilo que eu considero propaganda avulsa e repetitiva. A edição, em si, para baixar custos, foi reduzida de 30 páginas para 20, eliminando muito espaço de publicação. Tem havido um número excesso de entrevistas - em alguns casos até de peculiar escolha - com "amigos" da nova liderança, que poderá muito bem reconhecer interesses e considerações pessoais, mas não incentiva vendas. Sobretudo, a parte que sempre me atraiu mesmo antes de me tornar colaborador, a diversidade de artigos de opinião que foi reduzida para um terço, ou menos ainda. Por norma, verificam-se apenas dois ou três cronistas - um deles o personagem de Daniel Sampaio - que me leva a dizer que se eu quiser "ouvir" sempre o mesmo "sermão" todas semanas, por palavras diferentes, limito-me a ir à Missa na Igreja do meu bairro. Felizmente para o jornal, José Serrano - valoroso colaborador de há já três décadas, ou mais - ressurgiu recentemente com os seus usuais interessantes "ataques" à comunicação social "encarnada". Outros colaboradores de notável interesse - excluindo a minha pessoa - desapareceram completamente. Em geral, a qualidade gráfica e a composição geral do jornal continuam a ter muita qualidade, graças à contribuição do seu director-adjunto de há uns anos, Rúben Coelho, e à sua equipa, muito embora nos créditos só apareça o nome de José Quintela, contrário ao que sempre se evidenciou.
Bruno de Carvalho termina a mensagem com um compreensível apelo a todos os sportinguistas para uma maior participação. Estará finalmente a reconhecer que navegar nestas "águas" clubistas, é sempre mais apetecível quando nos encontramos à distância e em terra firme.
Se há caras que não aprecio ver quando me levanto e espreito as notícias matinais, esta é uma das principais, especialmente quando acompanha o já deslustrado e sempre condescendente discurso mestre. Em radical contraste com o que foi enunciado, repetida e impiedosamente, logo a partir de Março de 2011, quase diariamente, esta nova mensagem evoca compreensão, tolerância e confiança absoluta em quem lidera.
Há já algum tempo que é evidente que o Sporting da actualidade ou o seu presidente - não é bem claro quem é o verdadeiro empregador - tem uma grande equipa de profissionais de comunicação cujo objectivo primordial é a manipulação da opinião pública, nomeadamente através da comunicação social e da blogosfera. Quem possui e sente total confiança na sua capacidade de liderança não deve andar a propagar, em simultâneo, oratória assente em dispositivos paternalistas e demagógicos que, em última análise, só reflecte a sua própria pequenez de espírito e insegurança.
O discurso deste antigo elemento da mesa da assembleia geral do Sporting: «Tenho esperança (...) mas é preciso que todos os sportinguistas compreendam (...) não podemos aspirar a grandes resultados a nível de títulos (...) acredito que o Sporting vai surpreender, mas (...) é preciso fazer todo um planeamento de gestão desportivo e financeiro que leva algum tempo (...) espero que não hajam mais casos (...) temos de pensar jogo a jogo (...) só falar nos êxitos da equipa.»
Esta oratória é difundida vezes sem conta e por meios diversos, e se há quem a aceita e até a aprecia, outros consideram-na intelectualmente desonesta. Os sportinguistas merecem e devem ouvir as verdades sem adornos trambiqueiros. Não deixa de ser curioso que entendam que o dr. Daniel Sampaio seja a figura ideal para conferir credibilidade à mensagem.
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