Uma palavra de apreço é devida à Selecção e ao notável trabalho de renovação protagonizado pelo eng. Fernando Santos. Disputar duas partidas fora de casa e ganhá-las com clareza sem ter, no grupo de 25, jogadores da qualidade de Ricardo Quaresma, João Moutinho, Anthony Lopes, Raphaël Guerreiro, Manuel Fernandes, Bruno Alves, Gonçalo Guedes, André Gomes, Ricardo Pereira ou Gelson Martins, para nem sequer valorizar a ausência de Cristiano Ronaldo – e só nesta ‘short list’ são 11 os ‘excluídos’ – é proeza tanto maior quanto, ao contrário do que muitas vezes sucede, a Seleção jogou bem e teve ainda, frente à Polónia, momentos de empolgamento e brilhantismo. À legião de entendidos que exigia "renovação já", logo após a conquista do Europeu, há dois anos, respondeu o selecionador com uma rara aptidão para a ‘engenharia geracional’. O aproveitamento conjunto das gerações de Pepe e de Renato Sanches, e das intermédias, misturando classe e experiência com talento e ambição – constitui mais um sinal da inteligência, bom senso e competência de Fernando Santos. Que Deus o conserve!
Quando Cristiano Ronaldo coloca uma foto no Instagram, a treinar ou a passear, a publicação ultrapassa em menos de 24 horas os cinco milhões de ‘gostos’, no caso ‘corações’. Mas na semana passada – com o furacão Kathryn em intensidade máxima – uma imagem sua com a mulher e os filhos mais novos recolhia não cinco mas sete (!) milhões de aprovações. E se a generalidade dos ‘corações’ em fotos de futebol cabe seguramente aos adeptos, os sete milhões atingidos pela cena familiar só foram possíveis porque chegou à conta de CR7 no Instagram o apoio das mulheres. Não daquelas que odeiam o futebol e o próprio Cristiano como símbolo do que veem como uma ‘alienação’, ou tão pouco das mais fundamentalistas que condenam os homens sejam inocentes ou culpados, mas das mulheres desapaixonadas e justas, que apoiam o futebolista por simpatia e acalentam a esperança de que esteja inocente.
Saliento isto porque discordo dos que defendem que a reputação de Cristiano Ronaldo está inapelavelmente danificada. O que lhe dá cabo da imagem são atitudes como as que teve recentemente com os prémios atribuídos ao ex-companheiro e amigo Modric – e que achava (mal) que deviam ser para si – , o que o levou a faltar às cerimónias de entrega e a revelar uma falta de ‘fair play’ que lhe fica mal. Já as acusações de Kathryn Mayorga só danificarão a sua reputação se vierem a ser provadas – porque só se tiverem existido factos, eles serão graves, criminosos e, então sim, inapagáveis.
Além disso, pretender que toda a lama atirada a uma figura pública portuguesa a possa condenar no tribunal da opinião pública é desconhecer o país. Se assim fosse, e só para dar três exemplos, Isaltino Morais não teria ganho a Câmara de Oeiras, João Vieira Pinto não seria vice-presidente da Federação de Futebol e Tomás Taveira não teria projetado três dos novos estádios do Europeu de 2004 – e também o da Luz, para ficar na gaveta, uma conversa à parte. Se tudo acabar num acordo semelhante ao de há nove anos – CR7 também disse que não pagaria ao fisco espanhol e foi o que se viu –, em que uma parte se considera ressarcida com dinheiro e a outra o que quer é ver-se livre do problema, Cristiano voltará a ser o ídolo de sempre para a maioria das pessoas. Porque para as restantes ele nunca foi nada e continuará a ser ninguém.
O meu último parágrafo (que já não me coube na edição impressa do Record) é desta vez dedicado à mais recente exposição mediática do ex-presidente do Sporting, que foi ao Campus de Justiça com a pretensão de ser ouvido no caso do assalto a Alcochete, pois correriam rumores de estar iminente um mandado de detenção. Por muito que nos custe, por exemplo, ver um militar que estava no estrangeiro ao serviço do País – e que regressou propositadamente para ser ouvido – percorrer algemado o caminho até ao tribunal, louvemos uma justiça que marca os seus próprios tempos, indiferente às agendas pessoais e às manias de cada um. É que não haveria igualdade perante a lei se os magistrados funcionassem segundo as vontades dos donos ou ex-donos disto tudo.
Alexandre Pais, jornal Record