A vida de um atleta profissional - indiferente da modalidade desportiva e da qualidade do atleta - oferece mais incertezas do que garantias, especialmente considerando que apenas uma mão cheia chega ao topo competitivo com carreiras distintas. Isto, a propósito de ter estado a pensar em Ricky van Wolfswinkel e na agridoce ironia da sua transferência para a Inglaterra.
Duas épocas em um Sporting de precário nível competitivo, com destaque negro para a última, denominada "a pior de sempre", em que mesmo assim conseguiu registar números individuais impressionantes: participou em 88 jogos de "leão ao peito", 82 como titular e 6 como suplente utilizado, marcando 45 golos, inclusive de 28 na I Liga. Num acto de desespero financeiro pela anterior Direcção, foi transferido para o Norwich City da English Premier League, por uma verba muito razoável - salvo erro 11 milhões de euros - e decerto que melhorou significativamente as suas condições salariais.
Dito isto, mal ele sabia o que o esperava na melhor Liga do mundo, tanto em termos individuais como colectivos. Esteve lesionado bastante tempo - dos 37 jogos já realizados pelo Norwich na EPL, apenas participou em 25, 16 como titular e 9 como suplente utilizado, e o único golo que marcou na época surgiu precisamente no jogo oficial da sua estreia. Daí em diante foi uma horrorosa travessia no deserto, tanto assim, que foi incluído no lote das contratações "flop" da Liga. O seu desempenho individual foi igual ao da equipa, que fez uma campanha muito aquém das expectativas - com as inevitáveis mudanças de treinadores - e com o último jogo da época ainda por disputar, está praticamente condenada à despromoção à segunda Liga.
Para acentuar o "horror" da época 2013/14, os adeptos do Norwich fizeram sentir o seu desagrado. No já tradicional voto para o melhor jogador do ano, elegeram Carl Nash, o terceiro guarda-redes da equipa, que não jogou um único minuto. A razão ?... Na óptica dos adeptos, "foi o único jogador que não cometeu erros este ano e não foi por causa dele que o Norwich se encontra na sua actual situação». Não deixa de ter uma lógica irónica !
Sempre gostei do Ricky e não deixo de me questionar sobre o tipo de desempenho que teria caso tivesse ficado integrado no Sporting, versão 2013/14, sob a orientação de Leonardo Jardim. É por demais óbvio que a disposição orçamental do Sporting não permite o luxo de três pontas de lança, nem o actual modelo de jogo do treinador acomoda esse número, mas creio que teria sido interessante e produtivo. O avançado holandês não possui a técnica de Fredy Montero e talvez não seja tão eficaz no jogo aéreo como Slimani, mas tem muito melhores pés que este último e cobre muito mais terreno, em termos defensivos, do que os outros dois. Sobretudo, na minha opinião, tem mais "faro" para a baliza e maior "apetência" pelo golo.
Será porventura injusto fazer comparações, mas os números dos dois actuais pontas de lança são os seguintes:
Fredy Montero: 23 jogos como titular, 9 como suplente utilizado - 16 golos na época, 13 dos quais na I Liga.
Islam Slimani: 13 jogos como titular, 17 como suplente utilizado - 10 golos na época, 8 dos quais na I Liga.