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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Com o conflito de Abril com os jogadores, Bruno de Carvalho criou um monumental berbicacho. Agora é obrigado a gastar energias a resolvê-lo. Há que reconhecer que tem sido bem-sucedido. Recuou no conflito com os jogadores, desligou a conta no Facebook com visíveis efeitos positivos na escala de Richter da crispação e a ideia de convocar uma assembleia-geral para o destituir parece ter caído por terra, vergada aos últimos resultados desportivos.
Pacificados os jogadores (pelo menos nas aparências), amansados os sócios (certamente não todos) e silenciados os opositores (deixou de se falar neles), faltava passar a mão pelo pêlo dos investidores, dos quais as SAD dependem cada vez mais para se financiarem. Tarefa a que o presidente do Sporting se dedicou num artigo de opinião publicado ontem no ‘DN’.
Depois das dúvidas sobre a solidez da SAD levantadas pelo adiamento do reembolso da emissão obrigacionista de 30 milhões de euros, Bruno de Carvalho faz, naturalmente, um autoelogio à forma como gere as contas. O mais interessante é que ficamos a saber que, nos últimos meses, conseguiu "negociar uma melhoria das condições da reestruturação financeira" acordada em 2013. Segundo o próprio presidente do Sporting, em vez de 135 milhões de euros, a SAD terá de pagar apenas 40,5 milhões para comprar ao Novo Banco e ao BCP os Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis (VMOC) detidos por estes.
Em vez de um euro por cada título, o Sporting vai pagar apenas 30 cêntimos, um desconto de 70%. Com a reestruturação do que já havia sido reestruturado, o Sporting consegue um perdão de 94 milhões de euros. Bruno de Carvalho garante que no início da próxima época terá 17,5 milhões para comprar VMOC suficientes para que o clube não perca a maioria no capital da SAD. Consegue mais: pode reforçar a participação e diluir a de Álvaro Sobrinho.
É o sonho de qualquer presidente, o pesadelo do costume para a banca. Os contornos da operação não são conhecidos – estranha-se não ter havido um comunicado à CMVM – mas é, no mínimo, polémico haver mais uma reestruturação em que os bancos ficam a arder (a anterior chegou ao Parlamento depois de uma petição). Claro que a última coisa que querem é ser accionistas de clubes, pelo que uma oportunidade para se verem livres destas dívidas é bem-vinda. Mas a que preço?
Convém agora lembrar que os bancos estão impedidos de aumentar a exposição dos seus balanços às SAD e compelidos a baixá-la. É por isso que os clubes precisam cada vez mais de recorrer às emissões obrigacionistas para substituir a dívida bancária. A dúvida é: haverá apetite para tanto? Pelo sim, pelo não, Bruno de Carvalho já está a vender a sua e a denegrir a dos outros.
André Veríssimo, director, Jornal de Negócios
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