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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Nos anos sessenta estreou um filme em Portugal com o título " A Grande Paródia". Era uma comédia interpretada por Louis de Funès e Bourvil, passando-se a acção no contexto da 2ª Guerra Mundial. Feito o luto desse triste período, a ficção cinematográfica tem esse poder de brincar com coisas que foram dramáticas, numa perspectiva de trazer à vida das pessoas um pouco de descompressão nas dificuldades do quotidiano.
Este filme veio-me à lembrança por causa das afirmações de um outro Luís, o Filipe Vieira, em directo, após um jogo do seu clube e relacionadas com o processo e-Toupeira. No fim de um rol de ameaças a tudo e todos, terminou com a expressão, "a paródia acabou". Eu peço desculpa em discordar, mas considero que esta paródia ainda agora começou. E ao contrário da paródia de Funés, que nos conseguia divertir, esta apenas serve para nos entristecer, já que é mais um episódio da degradação a que chegou o futebol português.
O futebol foi iniciado em Portugal por pessoas que gostavam de jogar à bola, uma forma de entretenimento, que no início do século XX estava a dar os primeiros passos. Pelas suas características, tornou-se um desporto popular, entre os praticantes e entre os que o gostavam de o ver como espectáculo. Fez o seu caminho muito à custa da adesão do povo e da natural rivalidade entre clubes, de entre os quais se destacam inicialmente o SLB e o SCP. Quando despertei para este desporto, a pergunta que se fazia às crianças, era "és do Benfica ou do Sporting", o que prova a sua importância na propaganda da modalidade.
Enquanto o futebol foi um desporto amador ou semi-profissional foi dirigido por quem disponibilizava parte do seu tempo, por amor à causa. Quando o futebol para além do espectáculo se tornou num negócio, começou a atrair o oportunismo, sempre à espreita de tirar proveito pessoal do que gera dinheiro e poder. Começou o tempo do 'chico-espertismo' dirigente. Pessoas sem cultura e valores morais, gente do vale tudo. E mais cedo ou mais tarde, chegou a todos os clubes incluindo os chamados grandes. Manifestou-se primeiro no FCP mas acabou por chegar aos clubes da capital. E teve alguns protagonistas, embora transitórios, nestes clubes, antes de chegarmos à actualidade.
Hoje o futebol português em função das direcções do 'chico-espertismo' é de facto uma grande paródia, cujo espectáculo principal ocorre fora das quatro linhas. Entre os actuais presidentes, incluindo o do meu clube, não há nenhum que seja digno dos fundadores da arte do pontapé da bola. Não vieram para dar mas para receber. Julgam-se inatingíveis, escudados atrás de milhões de adeptos, que agem como uma massa acéfala no apoio aos seus dirigentes. desde que estes lhes consigam títulos. Pouco interessa como, o que é preciso é consegui-los.
Isso explica que Vieira, um zé-ninguém, mestre do 'chico-espertismo', apele às suas hostes para se unirem contra quem puser em causa a sua impunidade. A justiça tem o dever de levar até ao fim as investigações em curso no chamado processo e-Toupeira, doa a quem doer. E não pode intimidar-se com a tribo do futebol. Não há ninguém que possa pôr em causa o Estado de Direito. Os senhores do futebol não podem estar acima da lei. Se não queremos ser o país da Grande Paródia.
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