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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O escritor Mário Carvalho escreveu uma história intitulada a "A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho", onde um grupo de berberes do século XII, montados nos seus cavalos, invadiam a dita avenida, depois da musa da história enlear dois fios de tempos distintos. Quando o exército português chega ao local, desvanece-se o passado, e este fica sem saber o que faz ali. Com a habitual qualidade literária é , em certo sentido, uma narrativa do absurdo. Esta narrativa veio-me à memória a propósito do clima de guerrilha quase diária que se estabeleceu entre os dois clubes da Segunda Circular. São muitas as semelhanças, começando pela sua absurdidade e terminando na sua inutilidade.
É certo que a rivalidade entre os dois clubes já vem de longe, do tempo em que a Segunda Circular ainda nem era uma miragem. É certo que sempre houve episódios de guerrilha, muitas vezes por motivo de contratações, mas sempre pontuais e transitórios. A natural rivalidade concentrava-se, sobretudo, como deve ser, dentro das quatro linhas. Esta guerra arcaica do século XXI, com palco na comunicação social, transformou-se na principal razão de existir da vida dos dois clubes. São queixas, queixinhas, insinuações, insultos, golpes baixos. Vale tudo. Mobilizam-se os adeptos para uma espécie de cruzada contra os infiéis, inimigos figadais que é preciso destruir. É a repescagem do que de pior têm as religiões. O ódio, a intolerância, o fundamentalismo.
A explicação para esta guerra contínua, inútil e degradante, encontramo-la na qualidade das lideranças. Quer de um lado, quer de outro, do rio de alcatrão que os divide ,estão dirigentes de baixa qualidade. De facto, o dirigismo desportivo nunca esteve tão no fundo como actualmente. Os generais que ocupam a presidência dos dois centenários clubes, não passam de sargentos de má qualidade, arvorados em oficiais de estrelas de latão. Sem a devida formação cívica, formados à pressa na escola das claques ou na tarimba de pequenos clubes, são presidentes sem classe, sem preparação e algumas vezes sem carácter. Fazem da guerra um modo de vida, um objectivo permanente, procurando, por essa via, manter as 'tropas' unidas. É uma perigosa união assente na irracionalidade das massas, apelando aos seus instintos mais primários. A violência gratuita ,já visível a olho nu, é o caminho desta deriva guerreira.
Os presidentes/caudilhos nascem ,vivem e alimentam-se da guerra. Precisam dela para subsistir, como de pão para a boca. Têm os 'soldados' presos ao seu magnetismo. E mesmo quando o ataque atinge as raias do ridículo, como aquando das últimas queixinhas do general do lado Norte ,todos o seguem cegamente. Em abono da verdade, situações idênticas também acontecem do lado Sul. Destas guerras inauditas ninguém tirará qualquer proveito palpável. Nem o desporto, nem o futebol. Perdem todos. Perdem principalmente as duas grandes instituições arrastadas para este lamaçal por aventureiros oportunistas.
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