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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O adepto de futebol vive num mundo de fantasia. Sem peso nem consistência, flutua num limbo de onde foi expulsa a realidade. Num dia, está no paraíso vivendo felicidade eterna, no outro, cai no mais trágico inferno que se possa imaginar.
Esta dualidade de comportamento aplica-se a todos os adeptos em geral, mas ao português em particular, também em função da sua especificidade enquanto cidadão.
O adepto do Sporting, por mais que se diga, não é diferente. Tanto milita na euforia sem limites, como cai na depressão sem fim. Ainda há pouco tempo cantava louvores às novas lideranças, e colocava a equipa técnica e as suas tácticas nos píncaros da lua.
Vejam lá, tinha conseguido pôr um grupo de executantes, de entre eles, muitos com pés de chumbo, a jogar bom futebol a que alguns tiveram a ousadia de chamar o "tiki-taka". De um dia para o outro os bestiais já são apelidados de bestas. Têm grilhetas nos pés, não correm, não fintam...e o treinador, meu Deus, que "asno".
O futebol não se joga no mundo da fantasia, joga-se no mundo real. No mundo real são onze contra onze, e ganha quem marcar mais golos. O adepto, na sua insustentável leveza, considera que a sua equipa, por ser um "grande" pela sua história, pelos meios de que dispõe, tem de ganhar todos os jogos.
Pura ilusão, porque os outros, filhos de um deus menor, também sabem jogar, e utilizam as valências que possuem, para contrariar a fantasia dos craques. Não há vitórias por decreto ou por estatuto. Há vitórias por trabalho, por rigor e às vezes com o ápio da sorte.
É comum dizer-se que uma equipa joga o que a outra deixa jogar. O jogo a dois toques funciona se houver condições e espaço para o realizar. E esse espaço é ou não concedido pelo adversário. Quando este, por mérito seu, não o concede, só a genialidade de uma equipa de "galácticos" o pode conseguir, sem que isso, no entanto, seja garantido.
Não acredito que qualquer jogador até para bem da sua curta carreira, não queira fazer o seu melhor. E quando joga mal é porque as circunstâncias, sejam quais elas forem, não o permitem.
A frase que considero mais ridícula, usada pelas multidões nos estádios, é "joguem à bola", quando uma equipa, por razões até muitas vezes desconhecidas pelos adeptos, não consegue jogar bem.
Os jogadores de futebol são homens que erram como todos nós. E quando são sujeitos a pressões negativas, reagem inconscientemente pela negativa. Se o adepto percebesse isto nunca utilizaria tal expressão.
O adepto, na sua leveza, julga-se jogador e treinador, quiçá presidente. Não conhece da missa a metade, nem sabe fazer, mas fala como um perito. Basta ler os comentários e as análises, que são tantas e tão diversas, quanto o número de pessoas que as emitem.
Se o futebol real se regesse por estas opiniões caía na maior bagunça. Felizmente, opiniões fazem apenas o seu caminho como catarse de emoções, e nisso o futebol desempenha o seu papel como escape para outras frustrações do dia a dia.
Em conclusão, como diria La Palice, nem tudo estava bem antes, nem tudo está mal agora. Tudo é relativo. O adepto em vez de ajudar, complica. Tantas vezes.
Que o adepto manifeste a sua opinião, mas sem pôr sistematicamente em causa o trabalho de uma direcção e de uma estrutura, quando uma equipa não corresponde totalmente aos seus justos anseios. Para isso já chegam os profetas, conscientes da desgraça, que desejam e esperam que tudo corra mal.
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