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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
A evolução é uma constante, mas não é linear. Faz-se de avanços e recuos, de progressos e de retrocessos. Um clube de futebol sendo o mesmo que foi criado, é outro, no contexto em que se insere, no presente. O Sporting que conhecemos há cinquenta, anos ou mais, é hoje outro Sporting.
Os grupos de adeptos organizados (GOA) com o intuito de apoiar o Clube, no contexto de competição nasceram durante a presidência de João Rocha. Criados por pessoas jovens que pretendiam, em conjunto, levar alegria para o estádio e estimular a motivação dos atletas. Um princípio louvável.
Esses grupos conhecidos, como claques, já não existem, com as características com que foram organizados. Tal como o futebol, que passou de um espectáculo desportivo, no qual os jogadores inicialmente nem sequer eram totalmente profissionais, para uma indústria profissionalizada e geradora de muito dinheiro, as claques transformaram-se em grupos quase profissionalizados e financiados pelos clubes.
Esta mudança atraiu para esses grupos o oportunismo que faz parte da sociedade. Logo chegaram jovens, muito mais pelas benesses do que pela paixão clubística. Começaram a institucionalizar-se como uma forma de poder marginal, interferindo nas decisões das instituições oficiais, sem que para isso tivessem competência ou legitimidade.
No Sporting, estes notórios grupos ganharam bastante mais relevância, sobretudo durante o consulado da anterior Direcção, de quem receberam mais apoios financeiros, a troco da fidelidade a quem lhes distribuía as suas regalias.
Com a eleição da actual Direcção em 2018 e através de um novo protocolo, foram-lhes reduzidos alguns privilégios. Foi como entrar dentro de um vespeiro. A partir do momento em que os resultados do futebol começaram a ser negativos, voltaram-se contra quem lhes tinha retirado poder.
A declaração de guerra aos órgãos eleitos, tomou proporções inimagináveis. Convencidos que através deste caminho a derrubariam, não olharam a meios para o conseguir. Saiu-lhes o tiro pela culatra. A Direcção, após ter lidado com a situação com punhos de renda, percebeu com o que estava a lidar e não hesitou em tomar decisões drásticas.
A Direcção assumiu essa luta sem tibiezas. E houve (e há) quem dissesse que era uma boa oportunidade para se olhar com total realismo, para a influência negativa desses grupos, de uma forma geral. Mas quem pensava que outros grandes clubes apoiariam essa luta enganou-se redondamente.
As direcções tanto do Benfica como do FC Porto assobiaram para o lado. As suas claques estão controladas e, neste momento, ao serviço, dos seus dirigentes. Não sei se têm essa consciência, mas fizeram mal. Embora controlados, estes grupos, são como uma bomba que num momento adequado podem rebentar-lhes nas mãos.
O Sporting, neste âmbito está sozinho. Mas ainda havia a esperança que o poder político aproveitasse a situação para intervir, como lhe compete. Quem está atento à realidade que nos rodeia sabia que os políticos nem assobiariam para lado nenhum. Ficariam calados como ratos. A última coisa que querem é meter-se no atoleiro que é o futebol profissional, e muito menos enfrentar esse Estado dentro do Estado que são os grandes clubes desportivos. Também nesta área o Sporting está sozinho.
Em tempos idos, erradicar o sistema feudal com os seus privilégios não foi fácil, mas houve quem tivesse coragem para o fazer. Creio que no mundo do futebol isso ainda é mais difícil. Os clubes controlam através das paixões que o desporto gera, as consciências de muitos milhões de pessoas, podendo usá-las como tropa de choque contra os poderes instituídos. Por outro lado... minam com os seus agentes as próprias instituições, num comportamento de corrupção difícil de erradicar. É preciso muita coragem.
O Sporting está sozinho na luta quanto a esse poder paralelo, que são as claques, e que trazem para o desporto violência. Está sozinho mas está no caminho certo, nele deverá continuar, porque a pior derrota é a que resulta de quem desiste de lutar.
P.S.: Com "Alcochete" ainda por enterrar, brada aos céus, como continuam a surgir "minis alcochetes", como se tem vindo a verificar. A evolução da humanidade no capítulo da estupidez, vai de vento em poupa.
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