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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
No discurso de Outubro em que anunciou a sua demissão da presidência do Barcelona, Josep Maria Bartomeu, entre palavras de despedida e justificações pelos seus actos, deixou uma afirmação que causou surpresa: assinou uma proposta para que "a maior marca desportiva do mundo", como gosta de se referir ao clube, venha a fazer parte da superliga europeia que um conjunto de emblemas de topo pretende lançar.
A ideia até já tem vários anos e até aqui não se conseguiu impor. Mas o lóbi que a anima tem agora novo ânimo para a levar em diante. A pandemia fez desaparecer cerca de 4 mil milhões de euros de receitas nas 20 principais ligas, segundo contas da Associação Europeia de Clubes, e procuram-se alternativas para reequilibrar as contas, recuperar capacidade para investir nos plantéis e ganhar provas, que é o que segura os presidentes nos cargos. Para alguns, a vacina chama-se "European Premier League".
Bartomeu demitiu-se a 27 de Outubro. Sete dias antes a Sky News noticiara que cerca de meia dúzia de clubes dos campeonatos inglês, espanhol, francês, alemão e italiano estavam em negociações para o lançamento da nova prova, com o apoio da FIFA, que seria disputada por um grupo fechado de 18 equipas a partir de 2022. O projecto tinha já um banco financiador: o gigante norte-americano JP Morgan estaria disponível para entrar com um financiamento de 6 mil milhões de dólares, reembolsados com parte das receitas dos direitos televisivos.
A criação da superliga europeia pode ser um óptimo negócio para o clube VIP que o quer criar, mas tem um grave problema: viola de forma flagrante os valores de desportivismo, solidariedade e igualdade de oportunidades em que o futebol assenta. Na prática, trata-se realmente de os clubes mais ricos (galácticos) salvarem o couro e encherem os cofres à custa do empobrecimento dos restantes, alargando ainda mais o fosso competitivo que já existe dentro dos campeonatos e entre eles. Além de que promoveria uma desgraduação das provas internas.
Para já, não se tem visto os líderes dos clubes supostamente envolvidos a dar a cara pela ideia. O único caso excepcional tem sido Florentino Pérez, há muito um dos seus grandes impulsionadores. Numa demonstração de que o tema não é consensual, o presidente da La Liga, Javier Tebas, veio acusar Pérez de ser o cérebro por trás do anúncio do presidente cessante do Barcelona.
Uma coisa é certa: nos bastidores do futebol europeu corre uma guerra de poder entre grandes clubes, federações e UEFA, com interesses financeiros milionários pelo meio. A entidade liderada por Aleksander Ceferin tem o seu próprio projecto para uma liga dos campeões renovada, em formato aberto, com fases de qualificação para metade das vagas, a arrancar dentro de quatro ou cinco anos. Segundo algumas notícias estaria já a negociar um financiamento inicial de cinco mil milhões de euros com o Barclays.
Qualquer dos dois projectos terá um impacto significativo no futebol europeu. Resta saber se a ganância vai dar uma goleada ao futebol ou é este que sai vencedor do embate.
Artigo da autoria de André Veríssimo, Director do Negócios
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