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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Boas intenções…
Num período compreendido entre 1996 e 2004, a UEFA, o Estado e a Banca mobilizaram-se no sentido de apoiarem as instituições desportivas portuguesas a trilhar um caminho de progresso e modernização. Esta nossa indústria dispunha da oportunidade de se elevar estruturalmente e financeiramente, tanto pela implementação das Sociedades Anónimas Desportivas, como pelo apoio público à criação de novas e melhores infra-estruturas, tendo em vista o Europeu de 2004. Previa-se o nosso Futebol colocado na vanguarda, orientado de modo sustentado pelos mais diversos meios administrativos e competitivos, tão proeminentes quanto competentes.
As SAD representariam o abandono definitivo do emocional e totalitarista mecenato presidencial, sucedendo-se a abertura do Capital Social aos Sócios e Investidores. Numa gestão profissionalmente focada na diversificação de investimento, os Clubes não estariam agora mais dependentes dos famigerados contratos publicitários e televisivos afim de orçamentarem as épocas desportivas. Em alargada visão económica global, tais medidas inovavam processos de receitas, desde a criação e valorização de activos imobiliários, ao surgimento de departamentos especializados na relação fundamental entre Investimento, sucesso desportivo e consequente Retorno de Investimento.
A grosso modo, o Roupeiro permaneceria como Roupeiro, mas tudo o resto mudaria. O Presidente seria um Director Executivo de gestão, o Tesoureiro um Director Financeiro, os Futebolistas seriam tidos como o principal imobilizado das Sociedades, para além dos estádios e demais infra-estruturas. Os Adeptos tornar-se-iam Clientes, transfigurando o seu papel de meros pagadores de quotas a compradores de Acções e consumidores de produtos e serviços gerados pelo Clube. Aqui, quanto maior o número de simpatizantes, invariavelmente a dimensão do impulso económico gerado.
…esbarram nas coisas simples da vida.
Decorridos 2 anos após a criação da primeira Sociedade Desportiva em Portugal (a do Sporting), brotavam iniciais sinais de incompatibilidade para com um dos fundamentais princípios das SAD – os Adeptos só representam uma força económica no Clube quando mobilizados em massa, algo que em Portugal apenas ocorre (hoje, como no passado) em consonância com resultados desportivos. Os portugueses não têm o mesmo sentido de associativismo que os ingleses, os alemães, nem mesmo os espanhóis. Nem tão pouco dispõem do seu poder de compra. Poucos aceitaram a inflação da bilheteira. Poucos consumiram os serviços disponibilizados pelo Clube na área da Saúde, Seguros, Viagens e Créditos financeiros ou demais iniciativas. Com acordos de Main-Sponsor que rendiam qualquer coisa como €1 Milhão/Ano ou €600 mil/Ano em Equipment-Sponsor, as opções de financiamento dos Clubes eram diminutas: ou a Olivedesportos, ou a Banca. Sem Banca, sobrava a venda de Atletas.
Estávamos no terceiro ano de existência da nossa SAD. Enquanto personagens como Octávio Machado, Carlos Manuel ou José Couceiro procuravam um refúgio existencial nesta nova face da indústria – Santana Lopes, o homem que nunca fez nada de bom nem nada de mau, finalmente procurara um sentido para a vida longe do Sporting –, já os crónicos amotinamentos populares condenavam o caminho traçado pela visão de José Roquette (que longe do domínio público, seria co-responsável pela criação da SAD do FC.Porto). Os Adeptos, como sempre instrumentalizados pela visão em túnel, permitiam que um 4º lugar no campeonato lhes ensaiasse a cegueira sobre o óbvio – o caminho traçado levaria, invariavelmente, o Sporting a Campeão Nacional. E logo no ano seguinte.
Havia uma Direcção séria e focada, essencialmente, no Sporting. Havia uma estratégia a médio-longo prazo para cumprir. Haviam pessoas no corpo técnico com experiência de Futebol (e não de simuladores virtuais como hoje). E havia, pasme-se, uma equipa competitiva e financeiramente sustentável com as possibilidades do Clube. Isto tudo, num Sporting que cumpria com pesados acordos com as Finanças e Segurança Social, sem hipotecar verbas futuras. Os créditos de Bilheteira eram do Sporting. Os créditos de Garantia Bancária eram do Sporting. Os créditos de Passes de Atletas eram do Sporting. José Roquette foi lúcido, e acima de tudo paciente. Gastava cerca de €8 Milhões/época em contratações, e nada mais.
Uma primeira observação.
Se observarmos, com alguma frieza, o conteúdo do segundo e terceiro parágrafo do texto e sem os condicionarmos à data a que os mesmos se referem, poderemos de algum modo entender uma parte do vazio que impera no Futebol em Portugal – medidas visionárias que nos colocariam na senda da Europa, orgulhosamente profissionalizados, numa competição interna devidamente regulada e competitiva para lá dos 3 Clubes de sempre, resultaram 20 anos mais tarde, à data de hoje... nesta decadência de valores e princípios desportivos a que todos assistimos.
Esta primeira parte do texto visa, essencialmente, uma necessária confrontação entre o que vontade desejou, mas a intenção nunca fez. Tudo está errado numa competição onde se fala das maiores assistências ou dos maiores lucros, perante bancadas que ainda racham pelo meio. O que nos leva a concluir que em Portugal tudo é aparência, até alguma coisa tremer. A segunda parte deste texto poderá explicar, entre outras questões:
– como Gilberto Madaíl e José Socrates hipotecaram o futuro do nosso Futebol, em 1999?
– o misterioso e inédito modo de Roquette financiar o Sporting campeão.
– quem esteve para adquirir a Sporting SAD em 2002?
– porque razão Luís Filipe Vieira e Godinho Lopes são intocáveis em Portugal?
– porque razão os Adeptos procuram o conforto do Totalitarismo Presidencial?
– porque razão é impossível um Presidente fazer do Sporting um crónico campeão?
– como pode o Sporting tornar-se, em 10 anos, o Clube português mais poderoso?
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