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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Juiz algum responsabilizará um dia Donald Trump pelos crimes de ódio que se multiplicaram nos Estados Unidos desde a sua eleição e que atingem hoje proporções irracionais. Como em Portugal jamais se provará numa sala de tribunal – e confirmámo-lo não há muito tempo – a relação íntima que possa existir entre a palavra incendiária do intelectual hábil e a mão criminosa do bandido estúpido.
Vou repetir-me. Se vivemos num país em que há, e dou apenas exemplos, jornalistas que deturpam a verdade, polícias que assaltam e roubam, autarcas que são corrompidos e até juízes capazes de desonrar uma classe que é o último bastião de defesa da probidade e da decência, que mais se pode esperar do que encontrar também delinquentes no meio das pessoas de bem que integram as claques de futebol?
O grande problema é que as pessoas de bem não são muito úteis às direcções dos clubes, ao contrário dos delinquentes da maioria das claques, que se deixam instrumentalizar em troca de bilhetes, viagens ou arrecadações para bebidas e outros produtos, sendo depois transformados por quem os comanda em reais guardas pretorianas – um eufemismo para associações criminosas.
São dessas mentes deveras manipuladas as mãos armadas que ajudam a ganhar eleições, condicionam fisicamente os opositores – reais ou supostos – em assembleias gerais, ameaçam treinadores e jogadores que se querem ver partir, apedrejam carros e casas de árbitros, agridem e tentam matar, e matam, adeptos adversários – até ao dia em que, sem código algum de conduta que não seja o da própria marginalidade, se voltam mesmo contra aqueles que eram objecto do seu "amor" e da sua "protecção", como sucedeu com o atentado ao autocarro do Benfica. Que têm então a ver com isso as direcções dos clubes?
Nessa fase, obviamente, já nada, o que não nos impede de sublinhar a realidade: lamúrias, repúdios veementes, indignações dúbias ou exigências de "punições exemplares" não são mais – ainda uma vez e sempre – do que meras tentativas de tapar o sol com a peneira e alijar responsabilidades. Sim, os senhores são os verdadeiros culpados pela violência que envolve o desporto em Portugal. É vossa a mão que embala o berço.
Alexandre Pais, em Record
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