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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Bruno de Carvalho mudou o Sporting e o futebol português. Com ele, e depois dele, nada será igual no que refere à aplicação de um determinado modelo de gestão presidencial em clubes desportivos. Em breve tornar-se-á evidente que não se trata apenas de um “problema” leonino, mas de algo que irá bater a outras portas. Será assim pelo menos durante algum tempo. Noutros clubes também vão surgir dirigentes convictos de que muita paparrotada grosseira e excitada, apimentada por um discurso autocentrado devidamente calibrado com pinceladas messiânicas, acrescido de um departamento de comunicação agressivo e do recurso eficaz às redes sociais, terá um efeito invulgarmente paralisante sobre os adeptos. Estes esquecerão todos os fracassos desportivos em nome de uma qualquer luzinha ao fundo de um túnel que resgatará o clube de mil humilhações no passado.
É a impossibilidade de comunicação racional com exterior que permite que Bruno de Carvalho utilize um discurso cuja finalidade visa que ele se mantenha na presidência do Sporting durante tanto tempo sem sobressaltos internos. Depois, há sempre um golpe de asa que o seu tacticismo lhe sugere quando corre o risco de poder chegar ao fim da linha. Nesse tacticismo que até agora tem confundido tudo e todos, a demonização de quem se lhe atravessa no caminho e a violência e a grosseria verbal permitem-lhe manter o espaço de manobra de que necessita. Quem se mete com ele leva sempre alguma história para contar. A submissão total de inúmeras personalidades leoninas e o apoio inquestionável de uma larga maioria dos sócios são reveladores da eficácia da sua estratégia. Nem descurou o seu próprio aspecto físico. Basta comparar fotografias do candidato em 2013 com as do agora presidente para se perceber melhor isso mesmo.
Bruno de Carvalho é o mais “moderno” de todos os presidentes dos clubes portugueses. Não se trata de questões de ética, do bem e do mal, ou da verdade e da mentira, mas da forma como exerce a presidência. O que determina essa “modernidade” é o facto de ter sido ele o primeiro a perceber o enorme potencial que resulta da interacção entre o culto da personalidade e a utilização das redes sociais com a finalidade de se criar um modelo de organização e de exaltação clubística que seja militante, identitário, rígido e intolerante, capaz de agir com extrema hostilidade dentro e fora do Clube. À irracionalidade que já imperava no futebol, Bruno de Carvalho acrescentou com mestria uma ainda maior impossibilidade de se relacionar com os restantes protagonistas. No fim de contas, adaptou ao futebol uma determinada estratégia populista que existe na vida política desde há bastante tempo.
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