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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Nos últimos dez anos, tenho ido pouco ao futebol. Por um lado, o grande conforto de assistir aos jogos em nossa casa, com todas as possibilidades que a técnica hoje nos proporciona, e por outro o bando de anormais que nos podem calhar na bancada fazem com que me mantenha afastado de um dos meus locais preferidos de sempre. Foi uma longa jornada essa, que começou com um tio, no antigo ‘estádio’ do Campo Grande, onde jogava o Benfica no início da década de 50, e continuou com o meu pai, que me arrastava para as Salésias, não fosse o rapaz ‘perder-se’. Prosseguiu ao correr da vida, mais no Restelo do que em Alvalade, acompanhando as filhas, infelizmente só a mais velha adepta firme do Belenenses, e terminou por dever de profissão, quando fosse necessário primeiro, ou me apetecesse mal passei a decisor único da agenda do dia.
Na terça-feira passada, a minha filha mais nova decidiu ir com o seu grupo ver o Sporting defrontar o Man City, e um amigo meu, que tem um camarote em Alvalade, convidou-me a acompanhá-lo. Participei, assim, numa noite bem revivalista, com um intenso ‘cheiro’ a Champions e recheada de motivos de interesse para além de ver os ‘meninos do Rúben’: a presença de uma das actuais melhores equipas do Mundo, um público entusiasta, um estádio outra vez cheio, a vida pré-pandemia a regressar.
Só me arrependi um pouco quando os homens do Man City tinham a posse da bola e os fanáticos se punham a assobiar, muito, é certo, por causa de três adversários portugueses que renovaram, antes da partida e até bastante a despropósito, o benfiquismo que se lhes reconhece. Felizmente que essa animosidade foi baixando muito à medida que o marcador ia traçando o destino, embora mande a verdade que se refira a tremenda infelicidade do Sporting pela forma como sofreu os golos iniciais, que deitaram tudo abaixo.
Até porque tendo os ingleses um outro ‘andamento’, podem ser travados, como se viu no sábado, derrotados em casa pelo Tottenham, carregadinho de estrelas. Como já lá tinham poucas, a Juventus mandou-lhes o Bentancur e o Kulusevski... Tivesse Rúben Amorim mais meios e logo veríamos.
Sim... o fanatismo irrita-me muito. Só vou a Fátima, por exemplo, quando o santuário, semidesértico, me permite disfrutar do silêncio e procurar o sinal que ainda não encontrei. Deixei igualmente de ter partido político, percebi cedo que não gostam que se pense pela própria cabeça. E só permaneço fiel ao ‘Belém’ porque clube não é algo que se abandone – morrerei, assim, a amar o emblema azul seja qual for o escalão em que o futebol do Restelo estiver.
E sublinho isto porquê?... Simplesmente para acrescentar, sem que algumas almas se ponham a querer inventar, que os dez (!) minutos de cânticos e aplausos com que os sportinguistas se despediram em uníssono, de pé, de uma equipa que acabara de ser goleada, constituíram um dos mais belos momentos que tive o privilégio de presenciar – desde sempre e até em qualquer campo de futebol. Extraordinário clube, extraordinários adeptos. Chapeau!
Artigo da autoria de Alexandre Pais, em Record
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