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A recandidatura: um segredo mal guardado

Leão Zargo, em 30.03.16

 

BdC 2015.jpg

 

A recandidatura de Bruno de Carvalho à presidência do Sporting é um pouco como aquela história da pescadinha de rabo na boca: antes de o ser, já o era. Na verdade, nunca chegou a ser grande segredo. Muitos sportinguistas sempre pensaram que, no dia seguinte à vitória eleitoral de 2013, Bruno de Carvalho começou a planear a recandidatura. Para os mais cépticos há a entrevista ao jornal Record, em 27 de Março de 2015, onde o presidente do Sporting anunciou que estava na corrida para um novo mandato. “Vou recandidatar-me”, garantiu.

 

Bruno de Carvalho possui uma faceta de jogador que o leva sempre a procurar antecipar a jogada do seu antagonista. Há um ano atrás, Bruno de Carvalho passou pelo seu maior aperto como presidente do Sporting. Estava bem presente na memória de todos a tentativa frustrada de demissão de Marco Silva. A conquista da Taça de Portugal e a contratação de Jorge Jesus permitiram-lhe serenar as águas e lançar a época de 2015-16. Serviu-lhe de lição e, por certo, não quer outro aperto assim.

 

Talvez por isso, Bruno de Carvalho agora pretende apressar a contenda, pois tem visíveis dificuldades na gestão do seu tempo de intervenção pública. Ouvir-pensar-falar-calar-ouvir-pensar-falar não é com ele. Como se isso não bastasse, há ainda os imponderáveis do futebol e de uma situação financeira periclitante. Por isso, aposta nos meios de que dispõe para espalhar a versão dos acontecimentos que lhe interessa, mesmo confundindo a veracidade dos factos à vista. Nisto revela-se um discípulo fervoroso de Sun-Tzu: "As oportunidades multiplicam-se à medida que são agarradas."

 

Tirando a ironia do recurso à malfadada comunicação social (“Rascord” e “A Burla” na curiosa linguagem dos apaniguados), fica a certeza de que o Clube já está em campanha eleitoral, apesar de se viver um momento crucial pela luta do título de campeão nacional. Precisamente o mesmo Bruno de Carvalho que considerava indispensável que todos os sportinguistas se focassem nas finais que ainda vão decorrer até Maio. Há quem se recorde de Sousa Cintra quando se demitiu em Junho de 1991 para provocar eleições antecipadas.

 

Agora, não há volta a dar e o Clube entrou em modo campanha eleitoral. Bruno de Carvalho pica os sectores da oposição na tentativa de que saltem os candidatos, pois precisa de citar nomes na praça pública como do pão para a boca. Mas, em quem não se revê na actual direcção, há o receio de que fica pelo caminho quem avançar demasiado cedo. O tempo é de nervos de aço e de cabeça fria. Haverá guerrilha de parte a parte, isso é certo, e Bruno de Carvalho é especialista nessa área. Pelo sim e pelo não, como joga em antecipação, já começou a marcar o território e a elaborar a lista de apoiantes.

 

Acredito que haverá um candidato na oposição que faça sonhar os sportinguistas, que os entusiasme e os mobilize. Agora já é tarde para recuar. Pode demorar a surgir porque não se trata de lugares e de prebendas no Sporting, mas de um projecto para o Clube. Lugares e prebendas distribuem-se rapidamente, as bases de um projecto demoram mais a construir. Quem chegou aqui já não recua. É tempo dos sportinguistas superarem o seu labirinto de ideias e de memórias. Os dados estão lançados e vamos para um “tempo” que não se repetirá na vida de muitos. Nestas ocasiões, convém recordar quem sabe. Por exemplo, o padre António Vieira: "Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem. Quem pode nadar e quer voar, tempo virá em que não voe nem nade." Sinal de confiança !

 

publicado às 12:45

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1 comentário

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De Drake Wilson a 31.03.2016 às 02:37

“ A construir o futuro!
1. Hoje a minha filha mais velha Catarina faz 13 anos!
2. Reforço na aposta do atletismo, a nível nacional e europeu!”
– Página de Facebook denominada “Página oficial do presidente do Sporting Clube de Portugal”, colocado no dia 28 deste mês, às 10.30.

“Porque Portugal não é um país de vadios. É um país de amadores”
– José Almada Negreiros, “Ultimatum Futurista”, 1917

Hoje infelizmente, na cerimónia de lançamento do “Programa de Educação e Formação” promovido pelo SJPF, não se verificou a presença do presidente do Sporting, provavelmente ocupado com a publicação numerológica designada “A Construir o Futuro”, apresentada na sua página oficial. Não me parece que a ausência no evento seja um escândalo, mas de certo modo a preocupação em apresentar “provas” do trabalho desenvolvido por sí é tal modo sôfrega, que difícil será conciliar tempo para o desempenho da sua função em obrigações institucionais.

Tal questão, levou-me a reflectir acerca da realidade sócio-cultural do nosso País, e como esta define sobejamente o olhar sobre os quais os portugueses na generalidade observam com desinteresse a sua responsabilidade social. Não de diferente prisma, (pouco) se valoriza a política, as artes, a cultura, a proteção do enraízamento do legado. De todos os tempos, os portugueses que mais me marcaram foram o Gen. Ramalho Eanes e José Almada Negreiros. Este último, na sua obra de 1917 (8 anos após a implementação da República) – Ultimatum Futurista – define o estado no qual o nosso povo estava mergulhado, em águas em tudo semelhantes à actualidade. Segundo ele, “o português só conhece sentimentos passivos: a indolência, o servilismo, a timidez, a resignação”

O problema do presidente não está declaradamente na energética atitude em prol do que considere em superlativo como a defesa do Sporting. Bruno de Carvalho, como qualquer sportinguista, deseja o melhor para o clube, algo que não duvido. A sua intransigência no apuramento de responsabilidades ao mau trato financeiro do clube, assim como o colocar a descoberto a tendência de não se considerar o Sporting no respeito que lhe é merecido – principalmente por o que representa no/para o nosso país –, são os pontos fortes que este tem como vantagem sobre anteriores “homens-fortes” do clube. Bruno de Carvalho trouxe ao Sporting outra proactividade, “acordou” as massas desinteressadas que só pagam quotas quando o Sporting está na frente, e o universo sportinguista em larga escala foi magneticamente atraído a sí. Bruno de Carvalho ergueu sozinho a onda verde-e-branca adormecida. Dos tais que andavam a dormir.

O problema do presidente não se prende com o emocional envolvimento e a “reinvenção” do Sporting, o mesmo que terá levado Visconde de Alvalade a não se submeter ao estigma de pequenez. O problema sim, prende-se com o isolamento a que o presidente remeteu o Sporting e a falta de soluções competentes a administrar num clube em delicada situação financeira. O irresponsável caso Doyen foi um revés seu após a vitória no caso Bruma, mas a gestão de assuntos como Dier, Carillo, falta de publicidade nas camisolas, ou mesmo os dois ex-técnicos, não se explicam apenas por azar. Bruno de Carvalho demonstrou a sua não-aptidão como gestor – algo que o seu passado pessoal também não esconde – e agora, na sua própria interpretação de herói dos tempos modernos, nada mais tem a mostrar do que um estudo que salda positivamente entradas e saídas de jogadores no decorrer do seu mandato.

(...)

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