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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O presidente do Sporting faz-me lembrar o Coronel Buendía, uma personagem de um livro de Gabriel Garcia Márquez, Cem Anos de Solidão. O autor diz da personagem “promoveu trinta e duas revoluções armadas e perdeu todas”.
Bruno de Carvalho, da sua natureza, trouxe para o Sporting, não a paz mas guerra. Não sei quantas batalhas iniciou, mas tem muitas perdidas e outras em vias de as perder. De tal modo que ofuscaram uma ou outra vitória que tenha conseguido. Salientem-se as guerras inúteis e desnecessários com o passado, as lutas absurdas com os fundos, os conflitos com sócios ou adeptos, as demandas esotéricas com adversários, a cruzada das cores, do verde contra o encarnado, a errada estratégia desportiva. Casos e mais casos, derrotas e mais derrotas. Não admira que agora apareça cansado e peça a ajuda de tudo o que vier à rede no mundo sportinguista.
O presidente e agora candidato, assumiu publicamente, numa entrevista a um jornal, uma outra personagem da literatura: D. Quixote de La Mancha. Disse ele que estava cansado de representar o papel da personagem de Cervantes, e de tanto lutar sozinho, contra os moinhos da sua imaginação. E vem pedir, ou quase exigir, a ajuda de outros sportinguistas pois está farto da tarefa quixotesca. Logo se levantou uma horda de guerreiros em seu auxílio. Pelo que consta, mais de cem e de todos os quadrantes. Nem os ditos croquetes, tão amaldiçoados deixaram de responder à chamada. E até um putativo candidato de espinha extra flexível deu um passo em frente.
Há, no entanto, uma personagem real que se adequa à sua atitude: chama-se Oliveira Salazar. Não que exerça o poder autocrático, porque os tempos mudaram, mas porque lhe copia alguns tiques de superioridade e alguma hipocrisia. O antigo Presidente do Conselho, numa das comemorações do 28 de Maio, disse que era hora de se retirar, mas que olhando à sua volta não encontrava alguém para continuar a sua obra . Aplausos. Bruno de Carvalho numa encenação mais subtil fez o mesmo número. O cargo que ocupa é muito desgastante, no entanto sacrifica-se pela causa. Fazer o quê, quando olha à sua volta e só vê mediocridade.
Salazar só saiu depois de cair da cadeira. Ainda o mantiveram semivivo durante algum tempo como o chefe virtual, tal como o grande agrário Diogo Relvas, do romance Barranco de Cegos de Alves Redol, que sentado numa torre, embalsamado, mantinha o respeito dos servos, cegos conduzidos por um cego. Vieram outros governantes e o país sobreviveu e está melhor, o que significa que não há insubstituíveis.
Bruno de Carvalho apresenta-se agora, como o bom da fita. Que candura! Faz-me lembrar o filme de Sérgio Leone, o Bom, o Mau e o Vilão. Sendo ele o bom, qualquer adversário tem de fazer outro papel. Madeira Rodrigues já está etiquetado. Além de ser mau, é fraco e já está derrotado. Dizem os seus homens de mão. Não parece ser essa a posição do herói. A arregimentação de tropas no exército “inimigo” indicia que está com medo? Estaremos perante um herói medroso? Que ironia! Ou teremos um general perdido no seu labirinto da solidão do poder? E se aparecer também um vilão? Ou apesar de ter o melhor armamento, a brigada ligeira e a artilharia pesada, sabe que numa guerra não há vencedores antecipados e só perde quem desiste de lutar? Entre muitos exemplos lembro-me de Aljubarrota.
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