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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
No primeiro texto, foi criado o exemplo que reflecte dois modelos de gestão distintos, designados como “Clube A” e “Clube B”. Tal recriação fundamenta a génese de toda a relação que existe entre as empresas como a Traffic e os clubes de Futebol. No fundo, um jogo de necessidades/interesses que visam salvaguardar sempre a posição da empresa que intervém, mas raramente dos clubes que são convidados à intervenção – apenas a ausência de soluções e capacidades ou a aproximação ao abismo nos podem justificar um acordo com uma entidade parasitária, longe dos valores que se pretendem para com o nosso Clube. Um pouco como qualquer um de nós, sujeitos a dificuldades financeiras e sem soluções, tenhamos de recorrer a um agiota.
Não obstante de poderem existir, neste mundo ou noutro, agiotas de bom coração.
Em qual dos clube o “adepto comum” investiria?
Não existem dúvidas em relação a esta questão. O “adepto comum”, revolucionário nas bancadas mas passivo no discernimento, vive para o momento. Para este, a paciência é como um castigo que lesa a própria honra. Agita-se como um Ogre, expressa-se como uma vovuzela, e no final quando perde, revolta-se como uma criança. Um retrato-hipérbole que nos diz porém, qual adolescente perante o seu primeiro grande Amor, que o “adepto comum” não quer saber do dia de amanhã, quanto mais dos próximos 20 anos. A resposta então seria, obviamente, o Clube A.
“Clube A” e “Clube B” são, na realidade, o mesmo Clube – representam apenas diferentes modelos no que respeita ao modo como o seu Capital (Dinheiro) é gerido. No exemplo “A”, é claramente observável uma ausência de estratégia a médio/longo prazo, na medida em que a sustentabilidade deste, cede perante a ansiedade de mostrar resultados imediatos. Recorrendo então a uma linguagem mais vulgar, utiliza-se todo o poder de fogo (leia-se Financiamentos) para disparar em todos os sentidos (leia-se gastar mais do que se deve), na ânsia de se acertar em algo (leia-se ganhar algum título). Escusado será dizer que, escrita nas entrelinhas, está uma espécie de Lei de Murphy: se alguma coisa corre mal… corre mesmo tudo mal. Quando as munições acabam (Dinheiro) e percebemos que todos os alvos permanecem intactos, o que fazer? Pegar nas pedras da calçada e tentar? Pior do que não conquistar títulos, é não criar, com todo o investimento disponível, uma equipa vencedora. É gastar o dinheiro todo e não ver resultados práticos.
Poderá agora o leitor levantar – e bem – a questão das Modalidades, cujo investimento tem surtido nalguns casos, os efeitos desejados. Sim, é um facto. Futsal, Andebol, Ténis de Mesa, Futebol Feminino… Mas, do mesmo modo que como um mero exemplo, existem homens cuja fidelidade ao casamento é baseado na conveniência ou hipocrisia, esperemos que estas Modalidades não o sejam de igual modo susceptíveis apenas aos interesses da projecção individual. Afim de serem evitados destinos como o Basketball Feminino. Este nosso Sporting é Eclético sim, até ao dia que sejam necessários 5 Milhões para pagar ordenados das vedetas da equipa de futebol. É necessário ser cínico para reconhecer o contrário, até porque tal cenário já se avistou mais distante.
A primeira conclusão do “Pongolle” do Camarote Leonino
Os Adeptos do Sporting elegeram um Presidente nervoso no “gatilho”. Acharam-lhe piada, deram-lhe um “salvo conduto”. Perderam inclusivamente a coragem de o questionar nas Assembleias Gerais. Quase como um amor platónico ao nível de um José Sócrates e uma Judite de Sousa. Agora que os resultados não são os melhores, eis que surgem os primeiros focos de contestação. Agora que a Barbie e o Ken perceberam que construíram uma equipa de 28 que apenas valem 8, querem ir às compras. Não há dinheiro? Não há problema… A Traffic ajuda.
É a Nike?? É a Qatar Airlines?? Não… é a Traffic.
A Traffic Sports como a conhecemos, foi fundada em meados da década de 80 por José Hawilla, um ex-jornalista com passagens pelas operadoras Globo e Record, tendo como origem uma pequena empresa de comunicação e publicidade denominada simplesmente “Traffic” – registada em São Paulo na década de 70. Foram as influentes relações e conhecimentos criados no mundo do Futebol a partir da anterior carreira, que permitiram a Hawilla a expansão do seu investimento – da gestão de pontos publicitários nos transportes públicos à venda de publicidade em estádios de futebol, foi um pequeno passo.
A evolução da Traffic Sports ocorreu na década de 2000, através do envolvimento de um Fundo de Investimento texano – a HMTF – liderados na ocasião por Thomas Hicks e Charles Tate. Angariadores por excelência de Capital em diversas áreas de investimento que não o desporto, perceberam que o mercado não-regulado do Futebol era uma espécie de galinha dos ovos de ouro. Pela lógica, a escolha no maior país exportador de Jogadores no mundo pela empresa norte-americana foi óbvia. Deu-se assim uma espécie de fusão entre estas duas entidades, criando-se paralelamente o fundo de investimento sombra denominado Cedro SA.
Até 2015, a Traffic Sports era considerada a maior empresa de Marketing Desportivo no Brasil. Moveu diversas influências junto de diversos operadores desportivos, como promoveu e colaborou na organização de diversos eventos relacionados com o Futebol. Foi precisamente em 2015 que tal poderio ficou abalado pela descoberta de um esquema fraudulento que envolveu entidades como a própria FIFA. Quase todos os acusados se declaram culpados, inclusivamente o próprio José Hawilla. Da HMTF, já não existia rasto. Obviamente.
No próximo e último texto desta série, vamos entender, entre diversos aspectos, como se irá desenvolver verdadeiramente a parceria do Sporting com a Traffic, assim como são os modus-operandis dos investimentos no mundo de Futebol. Todas as possíveis vantagens e desvantagens serão explicadas. Tão interessante será o leitor entender qual a relação desta parceria, assim como uma outra pouco pública, com a entidade Fruta Conquerors... – curiosamente, com ligação ao Cedro SA.
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