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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Por norma, escrevo as minhas crónicas de jogos logo após o apito final, e à pressa, enquanto os acontecimentos estão frescos na memória e também para permitir a usual troca de impressões entre leitores. Por esta razão e até porque não sou perito na matéria, é inevitável que deixe algo relevante omisso que, invariavelmente, acabo por mencionar nas observações aos comentários dos leitores. Com isto em mente, adianto aqui mais duas ou três considerações sobre o recém-embate com a Académica:
1. Se é verdade que Leonardo Jardim foi menos feliz com a escolha dos dois extremos para o onze inicial, não é menos verdade que fez uma decisão muito certeira pela lesão de Jefferson. Ainda com 62+4 minutos para jogar e com o Sporting todo ao ataque, fez sentido que Rojo mudasse para o lado esquerdo e Eric Dier entrasse para o seu lugar no eixo da defesa. O defesa argentino, embora não muito versado nesta posição na equipa do Sporting, oferece uma dimensão ofensiva que não está ao alcance de Iván Piris, que teria sido a alternativa. Por outro lado, Eric Dier é um bom central que apesar da sua juventude não teme acompanhar e até reforçar os mecanismos ofensivos da equipa. Recorde-se que foi ele que penetrou a grande área do Penafiel, para a Taça da Liga, e forçou a grande penalidade assinalada e executada. Neste jogo, colocou a bola na cabeça de Slimani para o que poderia ter sido o golo da vitória, evitado com uma boa defesa do guarda-redes dos "estudantes".
2. Se é verdade que o Sporting não depende de um só jogador e que Leonardo Jardim poderia (deveria) muito facilmente ter optado por não condicionar William Carvalho - eventualmente evitando o seu afastamento do "derby" da Luz com a "limpeza" dos cartões no jogo com o Arouca - e também que o jogador foi algo ingénuo na jogada em questão, não é menos verdade que no único lance do género em 90+2 minutos de jogo, Paulo Baptista não hesitou em puxar pela cartolina, sabendo muitíssimo bem das consequências dessa sua decisão.
3. Se é verdade que de há uns anos a esta parte o Sporting é severamente penalizado por decisões de arbitragem, não é menos verdade que se coloca frequentemente ao jeito para isso, porque não dá a si próprio suficiente margem de erro para incidências dessa natureza e outras. Ao mais pequeno "deslize" - próprio ou de terceiros - fica fragilizado. Muito por isto, e não obstante a sempre presente ignóbil sombra do "sistema", não quero acreditar que o cartão amarelo do William tenha sido encomendado - como afirmou hoje Carlos Xavier. De igual modo, não acredito que Paulo Baptista não tenha assinalado a grande penalidade porque não quis, mas sim porque não viu claramente o lance e o árbitro auxiliar, que estava em melhor posição para o efeito, não teve a coragem e a honestidade de se assumir. Por tudo isto, entendo que não devemos recorrer sempre à arbitragem para explicar tudo, porque, na realidade, não explica tudo.
4. Não obstante as acima referidas considerações, não tenho dúvidas algumas que caso a grande penalidade aos 69 minutos tivesse sido assinalada e devidamente executada por Adrien, o Sporting teria saído do relvado com os três pontos. Já na fase final do jogo, Sérgio Conceição teria sido obrigado a desmantelar o "autocarro" defensivo e tornar-se-ia muito mais vulnerável às "démarches" ofensivas do Sporting, admitindo até que o marcador sofreria ainda mais alterações.
5. Se é verdade que a vasta maioria de treinadores pecam por excesso de ego e teimosia, não é menos verdade que Leonardo Jardim não é a excepção à regra. A sua insistência no modelo de jogo que permitiu ao Sporting fazer a excelente época que tem vindo a fazer, é perfeitamente compreensível, mas já o mesmo não pode ser dito quando se atrasa a ajustar-se às circunstâncias de um jogo e de um adversário que está somente em campo para não perder e que demonstra pouca ou nenhuma ambição em ameaçar a baliza do Sporting. Foi esse o caso no embate de domingo, em que a Académica, salvo erro, só verdadeiramente ameaçou a baliza de Rui Patrício em duas ocasiões, e Leonardo Jardim tardou em lançar Slimani e fazer entrar mais um extremo.
6. As declarações de Leonardo Jardim sobre a disponibilidade de Shikabala incomodaram-me. Espero que seja somente uma estratégia por parte do treinador em não querer mostrar as cartas sobre a mesa. Pela informação disponível, o jogador egípcio está afastado de competição desde a primeira semana de Janeiro. Dado que o atleta moderno mantém-se em boas condições físicas, mesmo em períodos de inactividade, é lógico esperar que Shikabala se aproxime do nível dos seus colegas em relativamente pouco tempo. Mais complicado é a recuperação do ritmo competitivo e, neste caso concreto, adaptação a uma nova equipa e a um modelo de futebol a que não está acostumado. Parte deste processo terá de ser realizado através de treinamento mas o todo da adaptação só em competição poderá vir a ser concretizado. Dado que o Sporting só tem um jogo por semana e faltam somente 13 jornadas do campeonato, que terão de ser realizadas até ao dia 11 de Maio, bem espero que não seja necessário o tempo que Leonardo Jardim referiu para lançar este jogador. Se assim for, devemos repensar contratações do género no futuro, durante o mercado de Janeiro, já que o tempo é escasso e reforços, em princípio, são para utilização imediata.
7. Por toda a informação disponível, sinto que Shikabala poderá ser o "10" que o Sporting tanto necessita e se ele o provar no relvado, será indubitavelmente a peça preciosa do "puzzle" que permitirá o alcance dos conhecidos objectivos, nomeadamente nunca menos do que o 2.º lugar e o acesso directo à Champions. Se Leonardo Jardim não o vê como médio organizador, mas mais como um falso ponta de lança ou extremo, já não sei o que dizer, salvo esperar pela evidência em campo.
8. Em termos do campeonato, nada está perdido e não devemos optar por um discurso de negativismo, apenas pelo desapontamento do empate com a Académica e pela expectativa de recuperar a liderança da tabela classificativa. A equipa tem vindo a fazer uma excelente época, muito pelo trabalho de grande qualidade de Leonardo Jardim e seus adjuntos que, na minha opinião, merecem todo o nosso reconhecimento e apoio, não obstante algumas disposições criticáveis. Perfeição não existe, especialmente quando se opera com "material" que não é topo da linha.
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