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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Muitos sportinguistas acusam Bruno de Carvalho de considerar o Clube como uma coutada sua. Para ele, adeptos, jogadores, técnicos e restantes membros dos órgãos sociais são meros figurantes do seu projecto pessoal. Por estes dias percebeu-se que a sua estratégia se focou nos Estatutos do Sporting Clube de Portugal com uma finalidade que visa o reforço do seu próprio poder através de uma significativa alteração estatutária. As propostas de alteração do dos Estatutos, que se conheceram tarde relativamente à data da realização da Assembleia Geral (3 de Fevereiro), abrangem aspectos de carácter estrutural, funcional e disciplinar. Revelam uma intenção declarada de controlo autocrático do Clube, dos seus órgãos sociais e dos seus adeptos e associados.
Há propostas de alteração que podem parecer meramente simbólicas, mas que são reveladoras desse projecto de poder unipessoal. Refiro-me à intenção de estabelecer que, para além do Conselho Directivo, o Presidente passa a ser, ele próprio, um órgão social do Clube. Assim, constituiria uma entidade à parte do órgão no qual foi eleito. Por outro lado, a extinção do Conselho Leonino, cuja constituição decorre da votação dos sócios, e a sua substituição por um Conselho Estratégico cujos membros são designados pelo Presidente, configura uma grave limitação a uma participação mais plural na vida do Sporting. Com isto pretende-se reforçar ainda mais o poder do Presidente do CD.
Porventura mais grave é a vontade de terminar com a eleição por método de Hondt do Conselho Fiscal e Disciplinar, que passaria a ser constituído apenas por membros da lista vencedora. É absurdo. Quando o CFeD foi eleito pela primeira vez pelo método de Hondt em 2013, foi consensual que isso constituía uma grande melhoria da democraticidade do Clube. Também surge como gravemente limitador da pluralidade do Sporting a intenção de impedir que movimentos independentes concorram apenas a um determinado órgão social, obrigando que se candidatem a todos os órgãos sociais. O controlo sobre os sócios vai ao ponto de se pretender estabelecer a obrigatoriedade de terem de comunicar ao CD o desempenho de quaisquer cargos sociais, incluindo a mera participação em listas eleitorais, em outras colectividades desportivas. Mesmo no bairro ou na aldeia!
Percebe-se a volúpia minuciosa das alterações de natureza disciplinar no Regulamento. Pretende-se desesperadamente dominar o pensamento livre e crítico dos sportinguistas. Quem não repetir "ipsis verbis" a cartilha presidencial corre um sério risco de sanção. Por essa razão, entre outro articulado, pretende-se determinar que cada sócio colabore obrigatoriamente na prestação de declarações. Ou o carácter vago e arbitrário daquilo que passa a constituir infracção regulamentar. Finalmente, essa volúpia autocrática vai ao ponto de considerar que quem "no decurso de uma acção disciplinar, deixe por sua vontade de ser sócio, não mais poderá voltar a ser sócio do SCP". Mesmo que o associado esteja sujeito a um processo disciplinar injusto ou mal construído.
Estou confiante de que será repudiada esta intenção ditatorial que não reconhece aos sócios do Clube os direitos e as garantias consagrados na Constituição da República Portuguesa. Na verdade, opinar de forma livre e com espírito crítico constitui uma salvaguarda relativamente ao presente, mas também ao futuro. Unanimismos e caudilhismos de qualquer espécie não permitem que, em permanência, se descortinem as melhores soluções para o Sporting cujo caminho está enxameado de pedras. De tanto pretender domesticar a realidade, Bruno de Carvalho descolou dessa mesma realidade.
(Hoje, depois de ter este texto pronto para ser publicado, tomei conhecimento de um comunicado do CD, ao qual o Camarote Leonino deu o devido destaque. Na verdade, nada se altera, a não ser a constatação de que os proponentes procuraram arrepiar alguma coisa. A ameaça que pendia sobre quem participasse em grupos leoninos de reflexão foi substituída pelo que já está regulamentado nos Estatutos e que, afinal, se pretendia mudar. Por isso mesmo, levantou grande celeuma entre aqueles que tomaram conhecimento. No essencial nada muda: com a proposta de alteração dos Estatutos os proponentes pretendem controlar os sportinguistas e os órgãos sociais do Clube.)
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