"O ENIGMA ANDRÉ GOMES"
André Gomes, mesmo com poucos minutos na equipa principal do Benfica, foi vendido em Dezembro passado, por 15 milhões de euros, a um fundo animado pelo empresário Jorge Mendes. Não obstante a óbvia inflação do preço, continuou a jogar no Benfica, sobretudo na equipa B. Esta época, André Gomes foi cedido pelo referido fundo ao Valência e alguma comunicação social já anuncia que este clube já teve ofertas de 18 milhões pelo jogador.
Não acredito nessas notícias, como não acreditei naquelas que diziam que Hélder Postiga - outro representado de Jorge Mendes - era disputado pelo Benfica e pelo Sporting (imagine-se) e que outro propósito óbvio não tinham do que ajudar o jogador a encontrar quem o contratasse. Em minha opinião, André Gomes não vale 15 nem 18 milhões. André Gomes é mais uma invenção do empresário Jorge Mendes, que este procura valorizar a todo o custo. (...) Note-se que nada tenho contra os negócios de Jorge Mendes, que faz - e bem - o seu papel. Só compra quem quer !
O que me parece mais discutível, é que todo este equilibrismo empresarial transborde para a Selecção Nacional. André Gomes fez parte do lote dos convocados - não sei com que credenciais - e jogou o tempo inteiro contra a Albânia. Como era de esperar, fez uma exibição apagada e anónima, fruto natural da sua falta de experiência, falta de ritmo, e porque não dizê-lo, falta de categoria. E a questão torna-se tanto mais intrigante quando Adrien, jogador com muito mais rodagem e experiência, ficou sentado no banco.
Não tenho dúvidas que Paulo Bento é uma pessoa séria, e já nesta coluna tenho afirmado a minha consideração por ele, mas o facto de ser representado pelo mesmo empresário de André Gomes e outros jogadores, é um erro crasso, que inquina o seu trabalho, enfraquece a liberdade das suas escolhas e torna-o vulnerável a suspeições. O espanto que expressei quanto à opção pelo André Gomes é aquele que qualquer pessoa legitimamente terá; por isso acho que o seleccionador nacional, a bem da equipa que dirige e da sua própria credibilidade, se deverá afastar dessas ligações que, mesmo que não o influenciem, são perigosas.
Carlos Barbosa da Cruz