Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Quero agradecer a honra do convite para escrever no Camarote Leonino. Ter o nome (ou pelo menos o pseudónimo) ao lado de quem já tanto deu pela causa verde e branca, é uma responsabilidade. A devida vénia. Espero ter reflexões que possam interessar aos muitos leitores.
Marcel Keizer era um absoluto desconhecido para 99 por cento dos adeptos de futebol. Aquando da sua escolha, a Direcção vendeu-nos que era um treinador que sabia trabalhar sem acesso a grandes investimentos, com olho para fazer evoluir e potenciar jogadores, apostava em jovens e jogadores desconhecidos, boas metodologias de trabalho e que iria fazer um bom aproveitamento dos talentos da Academia.
Trazia no CV ter trabalhado com os jovens do Ajax, uma passagem fugaz pela equipa sénior e pouco mais. Não era um curriculum de sonho. Mas animou-me que, pela primeira vez em muitos anos, o Sporting tinha uma direcção que fazia o que prometia – maximizar a Academia.
Perdoem-me agora um muito breve périplo histórico. Na última vintena de anos, várias direcções se apresentaram com o chavão “aposta na formação”, e daqui se construiria o plantel sénior e o sucesso. Invariavelmente era algo que acabava rápido e sem seguimento.
Verificam-se honrosas excepções: 2001/2003 (Boloni, com Quaresma, Viana, Custódio, Ronaldo), 2005/2010 (Paulo Bento com Rui Patrício, Miguel Veloso, Pereirinha, Nani, Yannick, Adrien, Carriço), e 2012/2013 (Leonardo Jardim, com William, Dier, Ruben Semedo, Salomão, Esgaio, Mané).
Até passo por cima do pormenor de que, em quase todos estes casos, o investimento se dever mais a contingências orçamentais do que a uma convicção fervorosa na importância do ciclo virtuoso Academia-Plantel Sénior (a Academia fornece talentos ao plantel sénior que os potencializa desportiva e economicamente, e a evolução que o plantel sénior permite aos jogadores formados na Academia, serve de atração a mais jovens talentos para a Academia).
Mas terá Keizer cumprido com o que foi prometido? Terá Keizer apostado na juventude e na Academia? Vou usar como critério de aferição o número de minutos jogados. É um critério falível, porque ignora parte importante do trabalho de um jogador de futebol, que é invisível para nós: o quotidiano dos treinos, o saber estar, o nível de ética profissional, o compromisso, a responsabilidade. Ainda assim, sem minutos não se fazem jogadores.
Ora, desde o início desta temporada, os jogadores do Sporting já jogaram, no total, 48.308 minutos, e dou de barato que Keizer não é o treinador desde o início da temporada. Mas os números valem ainda assim por si.
Este ano, da Academia, poderiam evoluir no plantel sénior: Jovane, Miguel Luís, Thierry, Pedro Marques, Bruno Paz e, até, Geraldes. Até ao momento, todos estes jogadores juntos tiveram 2.069 minutos, ou seja, 4,28% do tempo disponível:
Só para comparar: Marcelo jogou 180 minutos, Castaignos tem 119 minutos, Misic 73 e Petrovic 911 minutos.
Assim, e na diagonal, os dados disponíveis aparentam mostrar que Marcel Keizer não é um grande amigo da nossa formação. No que é mais um, numa longa tradição, dos que dizem uma coisa, e fazem outra. Mas cada um tira as suas conclusões.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.