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lpg.jpgNas horas que antecederam o início da final four da Taça da Liga, em Leiria, Pedro Proença atreveu-se a sacar da palavra mágica: internacionalização. Disse o presidente da Liga que levar esta prova para outras latitudes é um “desejo” e um “passo natural”. Uma “ambição legítima", sublinhou ainda, sentindo porventura o doce formigueiro causado pelo futebol espanhol e italiano, que levaram recentemente as suas Supertaças para o pouco europeu Estádio Internacional King Fahd, em Riade, a troco daqueles muitos milhões de petrodólares que fazem os bons cidadãos do mundo civilizado esquecer o desastroso registo de direitos humanos da Arábia Saudita.

Mas nem venho aqui falar dessa primeira evidência, nem de uma segunda: levar para o estrangeiro uma competição nacional que tende a resultar em dérbis ou clássicos é a negação do futebol para o adepto. No caso português, com uma exceção: a Supertaça já se chegou a resolver em Paris, para satisfação da multitudinária comunidade emigrante, mas a diáspora, sempre sedenta de matar a saudade, pouco importará na hora de escolher o local de uma prova que a partir de 2024 a competição será disputada apenas por quatro equipas, as quatro primeiras do campeonato anterior, engordando ainda mais o palmarés dos grandes e batendo com a porta no nariz a histórias bonitas como a do V. Setúbal ou do Moreirense, vencedores da primeira edição e da final de 2017, respectivamente.

A questão aqui será outra e mais de base. Depois daquela 2.ª parte da final da Taça da Liga, no sábado, boa sorte a tentar vender a competição a quem quer que seja.

Boa sorte com isso de tentar “abrir novos mercados ao futebol”, Proença dixit, seja na Arábia Saudita, na China, no Catar, oferecendo como modelo um jogo que teve 41 minutos de tempo útil e "só" 31 faltas. Um jogo em que os presidentes dos clubes em causa não se cumprimentaram. Uma final onde a partir do intervalo não houve futebol, só picardia e arruaça, chico-espertismo de jogadores e mão trémula do árbitro; um jogo em que foram mais as agressões que passaram incólumes do que as sancionadas, em que miúdos recém-chegados perderam a cabeça e jogadores com duas décadas de experiência sentiram a impunidade no engano de quem opta por simular - falo de Tanlongo e Pepe, sim, os nomes são para se dar, por muito que isso chateie as visões enviesadas de quem usa óculos que focam apenas numa só cor e passa o rescaldo a fazer contas de quem, no final, foi mais ou menos prejudicado, como se isso resolvesse seja o que for.

Screenshot (1811).png

Houve um número de teatro acrobático, quais Cirque du Soleil, à entrada de uma das áreas (Pepê), houve um encosto à cabeça do árbitro (Matheus Reis), houve um murro em plano aberto que o VAR deixou passar (Wendell). Tudo isto é feio, estraga o espectáculo, que é coisa que nem os treinadores fazem questão que exista, como confessou Sérgio Conceição. E o pior é que é recorrente, tornou-se rotineiro e quotidiano. Boa sorte a tentar vender isto.

Pergunto-me o que terá pensado Roberto Martinez sobre a pedestre sessão de anti-futebol, talvez nos faça bem ter um seleccionador estrangeiro que não veja isto como algo que acontece “no calor do momento”, que perdoe os enganos e as simulações porque é “a cultura” e “matreirice e esperteza” (saloia, talvez). Boa sorte também a tentar vender um futebol em que uma claque lança tochas para cima de adeptos da sua própria equipa, um futebol em que com alguma frequência os jogos terminam com jogadores e treinadores engalfinhados.

O “passo natural” e a “ambição legítima” só o são quando o produto é bom. E Portugal, sendo um viveiro de talento para o futebol europeu, não o tem. Será até provável enganar um possível promotor uma vez, mas ninguém vai a um estádio, muito menos lá fora, onde a identificação com as equipas é nula, para ver tão desonrante show. Pensando bem, se calhar nem é de todo uma má ideia levar uma final de taça lá fora, para que cá dentro se entenda finalmente o pobre valor do nosso futebol.

Artigo da autoria de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso

publicado às 03:49

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8 comentários

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De Leão do Norte a 03.02.2023 às 09:42

Um bom pensamento sobre mais uma "brilhante" ideia do futebol português.
O que interessa é lançar ideias. Não é relevante se são exequíveis ou produtivas.

Mas certamente a última final vai ajudar na propaganda. Até podem lançar uma campanha com o slogan:
"Na Taça da Liga encontra sempre o melhor parceiro, chama-se ele Lucílio ou Pinheiro!"
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De RCL a 03.02.2023 às 10:56


SL
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De Paulo SCP a 03.02.2023 às 11:22

Melhorar o futebol português é uma tarefa complicada, pois exige que jogadores, treinadores, árbitros, dirigentes e adeptos entendam que apenas trabalhando em conjunto se alcançará o objetivo.

Atualmente cada um olha apenas para o seu umbigo, pelo que tal não é possível.
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De P. Vasconcelos a 03.02.2023 às 11:43

Uma final realizada no estrangeiro (especialmente em lugares próximos da diáspora: França, Canadá, Brasil, e não lugares absurdos como as arábias) poderia ter o efeito de acalmar os ânimos e estimular o profissionalismo das 3 equipas, evitando estes comportamentos "caseiros".
À parte isso, completamente de acordo com o diagnóstico do texto.
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De P. Vasconcelos a 03.02.2023 às 11:44

P. S.: com a vantagem de a equipa de arbitragem poder ser estrangeira, o que ajudaria, pelo menos teoricamente, com uma abordagem mais neutra.
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De Rui Gomes a 03.02.2023 às 13:29

Não vejo que haja disponibilidade financeira na diáspora para um projecto dessa natureza.
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De Anónimo a 08.02.2023 às 11:43

Disponibilidade financeira, talvez, exemplo Toronto/Canadá, o problema será um estádio para futebol, capacidade par 40 a 50 mil espetadores, quando, na verdade, o desporto favorito é o Basebol, o Hóquei no gelo, mais recentemente o Basquete.
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De Rui Gomes a 08.02.2023 às 12:10

Se não se identificar, não voltará a ser publicado.

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