De Carlos a 09.07.2014 às 08:51
Inacreditável. Comecei a ver o jogo aos 15 minutos e já estava 1-0.
E do que vi, obviamente que há algo inegável: o meio campo do Brasil foi demasiado fraco, tenro e incompetente, mas mesmo assim, o que me saltou à vista foi o desposicionamento de David Luiz, que não é compatível com este nível competitivo. E por isso Mourinho resistia a coloca-lo no centro da defesa. Aquele aparente estilo à Beckenbauer de sair a jogar aparecer mais à frente, aparecer a cortar à frente do meio campo e à frente dos laterais, funcionaria (mal) no futebol amador. Contra a Alemanha é um desastre, porque a bola chega onde ele deveria estar demasiado rápido e a tentativa de Luiz Gustavo fechar no seu lugar desposiciona todo o meio campo e abriu verdadeiras autoestradas no sentido da baliza de Júlio César, que ainda evitou mal maiores.
É de facto um jogador rápido, forte, tecnicista, mas que parece jogar sozinho e queima os colegas do lado. O Tiago Silva sempre lhe segurava as pontas.
Nota-se que a capacidade de trabalho dos alemães, a forma como levam a sério esta coisa de jogar futebol, é uma das coisas que os torna superiores a este nível de competição. Jogam no limite da capacidade física - porque estão bem preparados -, são rigorosos na preparação dos jogos, prepararam bem o mundial - foram cedo, ficaram num local bem pensado (tudo bem que foi construído para ser perfeito) - não há um jogador que se sobreponha aos restantes de forma constante, ninguém aparece a olhar para os ecrãs a ajeitar o penteado. Estão lá para jogar futebol e ganhar e fazem o melhor possível para o conseguir. Normalmente conseguem.
Bem... muito mais poderia ser dito e essa do "penteado" era evitável, como se fosse minimamente relevante. De qulquer modo, esqueceu-se de dizer que esta equipa, nomeadamente os 13/14 jogadores mais titulares, já anda junta há seis anos.
O jogo de ontem é, obviamente, um caso excepecional, porque a Alemanha neste Mundial tem mostrado a sua usual eficácia mas também não tem deslumbrado.
De Carlos a 09.07.2014 às 12:26
A questão do penteado, tem a ver com a concentração competitiva. E sim, é relevante. Quando no intervalo ou no fim do jogo, os jogadores saem do terreno de jogo a olhar para os écrans nos estádios e assim que aparecem a preocupação é ajeitar o penteado é sinal que num momento em que deviam estar focados no jogo, há outras coisas que não interessam nada para o seu rendimento que é tão importante como ir a corrigir algum aspecto com um colega, hidratar, reunir para sair em conjunto, etc.
E sim, claro que há um trabalho de fundo, grande parte dele concretizado pelo J. Low, que teve o mérito de renovar a selecção com base numa nova geração.
Portugal podia fazer o mesmo, mas não o tem feito, ou por outro lado, os jogadores são praticamente os mesmos há 3/4 anos, não existe é um fio de jogo, uma identidade e sobretudo não existiu uma estratégia - ou se existiu falhou largamente - para trazer um conjunto de jogadores em condições para o Mundial e que teria passado desde logo por conseguir o apuramento num grupo medíocre sem grandes stresses.
Sobre a capacidade de deslumbrar do futebol Alemão. Não me lembro de isso alguma vez acontecer, ou acontece a espaços. Tirando o jogo com o Gana, dominam o jogo nos diversos aspectos com um regularidade tremenda, que tem a ver com a sua cultura, que resulta na capacidade de interpretação das condições do jogo. Assumem sempre um caracter muito competitivo, muito orientado para o resultado e se ontem o Brasil tivesse dado mais trabalho, tinham feito o habitual trabalho sujo, com entradas mais duras e algum anti-jogo. São pragmáticos na abordagem ao fundamento do jogo e assumem uma cultura futebolística onde subjugam o adversário. E até parece simples, mas a capacidade de movimentação, a rotação dos jogadores para haver sempre uma linha de passe que resulte em progressão rápida e a qualidade de jogar em velocidade com a bola controlada, passe ríspido mas certeiro, é de uma dificuldade tremenda. Depois, a abordagem que fazem aos lances, quer na dinâmica defensiva, quer ofensiva, é sempre forte e determinada. Como digo, parece fácil, mas tem pouco de simples. E a prova de que é complexo e difícil de fazer e contrariar, é que não há muitas equipas que consigam imitá-los e poucos os conseguem contrariar. Por isso eles ganham tanta vez.
E as equipas que lhe causam mais dificuldades tradicionalmente, são Argentina e Itália, precisamente pela capacidade de organização e de jogar sujo se for necessário. Mas lá está, enquanto alguns tem cultura competitiva e assumem essa variante, outros tem outras preocupações. E por isso a Itália é mais fraca com tem Balotelis. E por isso a outras selecções capitulam nos momentos chaves, porque apesar de terem jogadores impressionantes e capazes de fazer coisas extraordinárias, a este nível importa ter primeiro um conjunto extraordinariamente forte. Depois aparecem as individualidades. Nunca o contrário. Ou pelo menos de forma constante, consistente e que possa produzir resultados numa competição longa.
De HY a 09.07.2014 às 12:35
A propósito de defesa, e o Marcelo sempre a pelo menos 5 m atrás dos colegas a pôr toda a gente em jogo?...A jogar como se fosse um líbero de há 30 anos encostado à linha lateral. Há um golo em que se desloca perpendicularmente sempe nessa linha muito mais recuada enquanto o jogador que vai concluir se desloca paralelamente a ele, a quatro ou cinco metros de distância... Uma organização defensiva colectivamente inexistente, erros posicionais enormes...pior do que a defesa do tempo do Sá Pinto/Vercauteren... nem o Rojo de então cometeria erros tão graves...
E o ritmo e colectivismo (além de que não têm nenhum mago, mas todos os 11 estão num plano elevadíssimo...) dos alemães de facto é muito difícil de contrariar...
Tem razão quanto ao posicionamento de Marcelo, mas a essência do problema chama-se David Luiz , porque não pode ser ele a comandar uma defesa, daí a ausência de Thiago Silva. Não é por mero acaso que o Mourinho não o quis no Chelsea . Bom jogador, mas muito indisciplinado tacticamente e necessita sempre de ser comandado. No Benfica tinha o Luizão a fazer esse papel.
De HY a 09.07.2014 às 18:50
Claro, o DL como patrão de uma defesa... é o que se viu. Mas acho que a defesa brasileira nem sequer princípios de jogo tinha... Scolari dá muita motivação (pelo menos para atletas que normalmente jogam em nome de Cristo), exige e obtém muita devoção, mas a capacidade colectiva é pouca, sobretudo quando as coisas correm mal.
Esta equipa do Brasil, na minha opinião, salvo o factor casa, até nem jogou para passar a fase de grupos. Muitos talentos, mas com algumas posições chave não bem preenchidas, sem um único ponta de lança no plantel (Fred não conta) e a jogar no seu País perante milhões, não se deu a apresentar uma estratégia mais cautelosa e adequada a este adversário.
De certo modo, como Paulo Bento, pese as adversidades que surgiram no jogo, optou por não jogar com um meio de mais luta contra eles, e abdicar de um extremo, pelo menos no onze inicial.
De Carlos a 09.07.2014 às 15:33
Por acaso não percebi isso do Marcelo.
às tantas andava a tentar perceber o sistema de movimentações da Alemanha, que existe, para perceber o padrão e notou-se mais que o habitual que o David Luiz andava fora de posição, porque comecei a vê-lo com falta de tempo de entrada em quase todo o lado, inclusive quando na organização ofensiva do Brasil e via-se perfeitamente que os alemães jogam de forma a um elemento puxar um defensor brasileiro, para entrar um colega nessa posição e causar o desequilíbrio.
Na realidade, houve um colapso defensivo total e não apenas pelos defesas.