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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
José de Alvalade às voltas no túmulo.
“Isto que se passa no Sporting, passa-se há quase 112 anos. Grupinhos e manipulação constante, quase desde que nascemos. Por debaixo de uma pequena pedrinha estão lá dezenas de lacraus, sempre foi assim.”
Por imperativo de um sentimento que nos unifica ao Clube idealizado pela dissidência de Holtreman Roquette e irmãos Gavazzo, todo o Sportinguista será umbilicalmente epígono, herdeiro e legatário de uma promissória nota de grandeza da qual, em momento algum, se poderá dissociar. Porventura nascido para além de um conflito de interesses entre a coexistência como agremiação cerimonial de alta sociedade ou instituição desportiva intencionalmente eclética, o Sporting não é nem nunca poderá ser tido como um Clube adiado e solitário, desalinhado com a sua própria razão de ser.
Quando se assume, ou se aceita, que o Sporting é embrionalmente desunido e fomentado em intrigas, pressupõe-se o Sporting como uma instituição ingovernável, assombrada, entregue a uma espécie de sociedade secreta obscura, exclusivamente intencionada em proveitos superficiais como pessoais. Aceitar, promover ou vincular tal tese, é assumir o Sporting como um Clube fragmentado, fútil, desprovido de lógica existencial – e por invariável consequência, condenado ao abismo. Infelizmente, vincular esta espécie de teoria do caos na cabeça dos nossos Adeptos, tem sido ao longo da nossa história um mal necessário, mas conveniente a diversas Direcções. O Mestrado (e não legado) de Jorge Gonçalves no Sporting serviu de exemplo.
A presidência de Jorge Gonçalves gerou em alguns adeptos do Sporting (essencialmente aqueles nascidos em redor da Geração da Revolução dos Cravos em diante), uma espécie de crença no contra-poder como fórmula de combate a fantasmas criados pelo próprio Gonçalves. Impôs um ingénuo raciocínio popular à manobragem e orientação de uma instituição apavorada em não vencer Títulos – são mesmo os Títulos no Futebol que invariavelmente trazem a união e a concórdia – permitindo que tal eco intriguista perdurasse para sempre. O mesmo eco intriguista do qual o actual Presidente Bruno de Carvalho se alimenta.
A vingança de Filipe Lá Féria?
“Ninguém tem noção do que é não conseguir sair de casa para ir ao café ou passear com a filha ao jardim. Vivo sequestrado há cinco anos. Já fui a peças de teatro em que mudaram os textos para me chamarem atrasado mental (…) Eu não tenho liberdade! A cada passo que dou sou censurado.”
Este natural e compreensível lamento de Bruno de Carvalho, fundamenta-se tão apenas no errado patamar pessoal com que o próprio geriu ingenuamente a sua imagem, não como Presidente do Sporting, mas como Personalidade Pública. Não se trata apenas de uma consequência em função da agitação que provocou no Status Quo do Futebol em Portugal. Bruno de Carvalho paga o preço de expor fotos de família em redes sociais. Paga o preço de um casamento à vista de todos na Capela dos Jerónimos. Paga o preço da sua recente amizade com Tallon. E paga essencialmente o preço de um homem que se julga divindade, sustentado numa estrutura emocional imatura – Bruno de Carvalho fez da sua presidência um autêntico Reality Show, e o preço a pagar é este. Como qualquer Zé-Maria, não estava realmente preparado para as coisas simples e óbvias da vida.
Mais cedo ou mais tarde, tantos desacertos tornar-se-iam visíveis aos olhos do Clube. O improcedente comportamento de Bruno de Carvalho, demonstrado tanto pelo abandono da Assembleia Geral como na consequente conferência de imprensa de 2ª feira, prova o quão facilmente este pessoal e exíguo mote presidencialista se incompatibiliza com as reais necessidades de uma liderança forte. Bruno de Carvalho, ao demonstrar esta sua vulnerabilidade perante uma minoria de associados – tal como ao escudar-se na inabilidade de Marta Soares –, comprova que o Sporting afinal não está, em estrutura, verdadeiramente sólido. Pedir legitimação por sufrágios superiores a 75% não é apenas ser irresponsável – é demonstrar toda a fragilidade emocional e estrutural num conjunto de palavras mal ponderadas. Cabe a um Presidente esta espécie de arrufo de Diva? Numa fase crítica do Campeonato Nacional? Ninguém poupa o Sporting disto?
Bruno de Carvalho não retira dividendos alguns em promolgar deliberações semelhantes à Lei Patriótica de Bush – numa clara afronta aos direitos instituidos pela livre-expressão do Cidadão –, tal como qualquer crítica proveniente de espaços públicos não poderão afectar medidas de governação presidencial dentro de um Clube. Prevendo que qualquer oposição valorize a sua existência como voz activa e defensora do Sporting – ao invés de se colidir contra o Pavilhão João Rocha com um Boeing 747 – Bruno de Carvalho poderia optar por reunir em privado com tais entidades, ouvir o que estes têm a dizer, demonstrando deste modo toda a clareza e dimensão que se pretende. Existem diversas situações que, por si só, podem impôr uma saída de Bruno de Carvalho do Sporting – talvez a constestação dos associados seja uma gota no meio de um oceano.
Se Bruno de Carvalho decidir abdicar...
Existe uma situação muito séria a decorrer no Sporting, para a qual gostaria de alertar os leitores, e sobre a qual apreciaria explicações de Bruno de Carvalho e Carlos Vieira – a orientação do cash-flow gerado pela SAD está a ser aplicado inversamente ao deliberado pelo enquadramento basilar do plano de renegociação de dívida. Quem está a colocar dinheiro no Sporting, sob que formato financeiro e com que contra-partidas? Foram celebrados acordos comerciais que ultrapassam, em vencimento cronológico, qualquer mandato presidencial a quatro anos – que margem de actuação terá quem suceder a esta Direcção? Se esses acordos longitudinais permitem formalizar uma estimativa de verba a receber em Cash-Advance a curto prazo, qual o projecto desta Direcção para os próximos anos?
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