"Fico sempre incomodado quando alguns benfiquistas me falam do desconforto que eu devia sentir com Bruno de Carvalho sem que nunca tenham demonstrado nenhum com essa figura eticamente tão edificante que é Luís Filipe Vieira. Fico atónito quando portistas me vêm falar de liberdade de imprensa e nunca os ouvi falar do que foi feito a Carlos Pinhão ou de intimidação quando viveram bem com o guarda Abel. Muito do que os incomoda no presidente do Sporting nunca os incomodou, em bem pior, nos seus próprios presidentes. Os três clubes têm longas histórias muito pouco bonitas e falta-me a paciência para algumas falsas virgens ofendidas.
Apoiei Bruno de Carvalho em três eleições e não me arrependo. Salvou o clube da falência certa, devolveu adeptos ao estádio e garra à equipa. A todos os níveis o Sporting está hoje melhor e só quem não conhece o clube não o reconhece. Mas o futebol não é uma ilha.
Por razões profissionais não pude ir à Assembleia Geral. Se o trabalho me tivesse dado essa possibilidade, teria votado segundo a minha consciência sem outra consideração para além da bondade dos documentos que estavam a ser apreciados. Já disse o que pensava da tentativa de transformar a votação de estatutos num plebiscito. Orgulho-me de pertencer ao mais democrático dos clubes portugueses e em democracia há eleições, não há plebiscitos. Em democracia votam-se alterações de estatutos sem chantagens.
Não gostei da tentativa de manipulação dos sócios mas conseguiria viver com isso. Só que aquilo que ouvi ontem é, para mim, que sou jornalista, intolerável. Uma coisa é criticar a comunicação social ou até, no limite, apelar a um boicote a um órgão de comunicação social, coisa que não gosto mas não seria nova. Outra, bem diferente, é apelar ao boicote a toda a comunicação social nacional e à total dependência dos sócios da informação oficial dominada pela direcção. O apelo feito por Bruno de Carvalho, para que os sportinguistas apenas se informem por um canal controlado pelo clube e boicotem toda a informação não devidamente controlada pelo presidente, é um ataque à democracia. Que teve reflexos imediatos relativizados por essa figura inenarrável que é Jaime Marta Soares (um homem que prova que Bruno de Carvalho até vive bem com os “interesses”, desde que o apoiem).
Perante as declarações que fez ontem, Bruno de Carvalho perdeu um apoiante de sempre. Para sempre. Não quero o regresso dos que arruinaram o clube. Mas espero, sem me impressionar com as maiorias esmagadoras destes momentos, que venha a surgir uma alternativa séria e sem qualquer relação com os vinte anos de roquettismo. Alguém que continue o trabalho de Bruno de Carvalho sem, em troca, exigir que o clube seja seu refém e que os sócios sejam seus seguidores cegos. Não posso dar o meu apoio a quem ataca tudo aquilo em que acredito. Não posso apoiar um presidente que teve tudo para dirigir o Clube mas parece nunca estar satisfeito com o poder que tem. Chega!
Quanto ao Sporting, que transcende este e qualquer outro presidente, que nasceu antes dele e sobreviverá a todos nós, tem o meu apoio incondicional. Em todos os jogos, em todos os momentos. Mas não quero ter à frente do meu clube um Pinto da Costa. Muito menos um Pinto da Costa sem títulos e que fala muito mais."
Texto de Daniel Oliveira, jornalista