Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Bruno Azevedo de Carvalho foi eleito, democraticamente, presidente do Sporting Clube de Portugal. A sua eleição criou alguma apreensão. No entanto, nos seus primeiros tempos de mandato surpreendeu. Fez uma negociação da dívida que mereceu elogios. Aplicou uma política de redução de custos. Diminuiu as despesas correntes, reviu salários e estabeleceu tectos salariais. Sem lhe retirar mérito, que teve, beneficiou de circunstâncias, que de certo modo tiveram outros protagonistas.
A gestão de Bruno Azevedo de Carvalho parecia estar no caminho certo. Para mais, e fruto de um discurso inovador no que diz respeito à moralização do mundo do futebol, granjeou simpatias em sectores que extravasavam o clube. No campo desportivo herdou uma equipa destroçada, mas que começava a ser reconstruída pelo trabalho competente de Jesualdo Ferreira. Numa decisão louvável e adequada à realidade, contratou outro bom treinador, Leonardo Jardim, que traçou como estratégia, e de acordo com os recursos existentes, uma recuperação pragmática do prestígio perdido, não queimando etapas, nem dando passos em falso. O mesmo aconteceu com Marco Silva, cuja temporada terminou com a conquista de um título nacional, o que não acontecia há mas de uma dezena de anos. Até aqui, e tirando uma certa tendência para o narcisismo, continuava , na área desportiva, num caminho, que poderia continuar a dar frutos de uma forma consistente. E se é justo atribuir mérito à actuação desportiva do Presidente nos primeiros dois anos, também convém assinalar, que foi bafejado pelo acaso ou numa expressão mais popular, pela sorte. No momento propício caiu-lhe do céu Jorge Jesus, que tinha sido escorraçado do Benfica, e que lhe permitiu gerir com sucesso o lamentável processo do despedimento de Marco Silva.
Este Presidente teve tudo para que o seu mandato corresse bem. Mas temos que admitir que, até ao momento, não correu. Parecendo ser portador de dupla personalidade, as decisões sensatas depressa foram substituídas por atitudes e comportamentos desajustados da realidade. A sua gesta moralizadora deu lugar a uma saga persecutória, contra os que discordavam, e até contra os que não discordavam das suas ideias. Assumiu-se como dono único da verdade, transformou adversários em inimigos, e pasme-se, como não chegassem os alvos externos, inventou os internos: ex-presidentes , sócios contestatários, ou atletas, por exemplo. Enredou-se em processos judiciais, denunciou contratos, bem ou mal negociados, e nem sequer respeitou todos os que assinou. Como D. Quixote lutou contra moinhos de vento, sem que disso tenha tirado, até agora, qualquer vantagem para o Sporting.
Se dispôs de condições excepcionais para ser um Presidente com êxito, porque está a falhar Bruno Azevedo de Carvalho? Na minha opinião, falhou na aplicação dos princípios e na elaboração de um projecto sólido. Foi vivendo, cada vez mais, de fogachos. Como um Caterpillar usou a força em vez da sagacidade. Julgou, possivelmente, que bastaria falar mais grosso para tudo cair a seus pés. Erro estratégico. As grandes mudanças nunca foram acto de homens providenciais mas de colectivos, de congregação de esforços e de ideias. Ao apresentar-se como só contra o mundo, acabará, se persistir, por querer combater a sua própria sombra, o que significa o combate contra si próprio, com reflexos no clube que dirige, o que é o mais preocupante.
Não sendo “brunista” mas sportinguista, atrevo-me, humildemente, a deixar uma sugestão. Talvez fosse altura de parar para pensar. De fazer um balanço retrospectivo, de assumir eventuais erros , para poder corrigir o trajecto, delinear objectivos precisos, sem deixar de mudar o estilo, algumas vezes boçal, que não se adequa a uma instituição centenária e prestigiada, como é o Sporting Clube de Portugal. Mas será Bruno de Carvalho capaz de o fazer? Será capaz de domar a sua natureza e de dar espaço ao uso da racionalidade, sem possíveis tiques de esquizofrenia? Será que a aparente moderação que mostrou na última entrevista, prenuncia uma mudança ?
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.