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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O campeão nacional vive em perfeita sintonia com os conceitos do seu treinador. Assim depurou estrutura com a estratégia delineada para sustentar a organização, acentuando em cada elemento o prazer de resolver os problemas em conjunto, esvaziando a influência de decisões avulsas. Apesar da forte estrutura que, no fim de contas, constitui a rede do trapézio, o Sporting de Rúben Amorim vive muito também do apelo à criatividade e inteligência de um naipe cada vez melhor de jogadores. Mesmo em equipas com funções e funcionamento rígidos, a exaltação individual é irreprimível e a inspiração presença assídua em cada um deles – a felicidade plena é o único estado através do qual se dá resposta às exigências físicas da competição e à implacável repressão da táctica.
Tornou-se muito difícil ganhar ao Sporting (só dois golos sofridos) e as soluções ofensivas são tantas que os 19 golos em cinco jornadas da Liga espelham o fulgor dos mecanismos ofensivos. Não se trata apenas de ter Gyökeres em estado de graça e o génio de Pote e Francisco Trincão sempre despertos: é estimular a cumplicidade entre todos e que, mesmo considerando o muito que cada um oferece, elevem os níveis de exuberância e intimidação pelo modo como conjugam acções de aproximação à baliza.
No final do recém-jogo com o FC Porto, em Alvalade, Rúben Amorim fez um diagnóstico algo imperfeito do trajecto leonino e do ponto evolutivo em que se encontra. Disse o responsável verde e branco que, mesmo quando foi campeão, em 2020/21, sentia faltar-lhe algo para atingir o nível dos rivais e que, agora sim, estava convicto de que já os tinha igualado. É essa a imprecisão: o Sporting ultrapassou-os de modo tão claro; navega tão à frente, num esplendor nunca visto nos últimos 70 anos, que não se vislumbra quem o impeça de fazer história. O exército que durante décadas foi campeão nacional esporádico, transformou-se na potência vigente do futebol em Portugal. Só precisa agora de não se distrair e interpretar as exigências correspondentes ao estatuto conquistado.
Excerto da crónica de Rui Dias, em Record
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