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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Tenho mantido aqui um debate sobre os ídolos do futebol da actualidade, que geralmente são idolatrados, na minha opinião, de forma excessiva. Nunca gostei de idolatrias. Sei que Cristiano Ronaldo é adorado por muita gente em todo o mundo, pela sua acção na arte do pontapé da bola. Iniciou a sua formação no Sporting, mas fez quase toda a sua carreira no estrangeiro, salvo as participações na Selecção Nacional. Ganhou títulos, prémios, bateu recordes, mas o que também orientou a sua carreira foi o dinheiro, Tal como outros dos jogadores do futebol moderno. Ainda me lembro de em Espanha Figo ter sido acusado de “pesetero”. Não é culpa deles, mas da sociedade em que vivemos, o que não me constrange a usar o espírito crítico.
Fiz esta introdução, para fazer o contraponto com um atleta, de outra modalidade, que tem a característica de ser muito mais pobrezinha. Estou a referir-me ao grande Carlos Lopes, na minha perspectiva, um gigante que está ao mesmo nível dos astros do futebol. Vou aqui lembrar que do seu currículo internacional fazem parte, um título olímpico, um titulo mundial e um título europeu, entre muitos outros. Várias vezes esteve no pódio e fez subir a bandeira de Portugal até ao lugar mais elevado. Este atleta se eu fosse idólatra, seria seguramente meu ídolo. Por isso limito-me a reconhecer a sua grandeza, e prestar-lhe a minha gratidão.
Depois de terminar a sua carreira, tinha, em Lisboa, uma pequena loja de desporto, de cuja exploração penso que vivia. Em determinada altura chegou a deputado na Assembleia da República. Creio que mais tarde esteve ligado à estrutura do atletismo do Sporting, Clube que sempre serviu. Homem simples que nunca apresentou tiques de vedetismo, na sua vida como atleta, e muito menos como cidadão. Para mais, foi o último atleta europeu a ganhar aos africanos, que acabariam por se impor como dominantes nas provas de fundo. É com Rosa Mota o atleta que mais honrou o nome do país, na minha apreciação.
Escrevi este texto, porque li hoje um artigo do escritor Luís Osório, no qual diz que Carlos Lopes está muito doente e quase não sai de casa. De uma forma sentida, presta-lhe uma muito justa homenagem. Escrevi este texto com o mesmo intuito, e onde quero salientar a simplicidade do homem e do atleta que se treinava na Segunda Circular. Não sei qual a gravidade da sua doença, mas desejo-lhe rápidas melhoras e peço aos deuses do desporto, se existirem, que o ajudem neste momento difícil.
A avaliação de quem se salienta por obras valiosas, não deve restringir-se à sua técnica, mas também à sua dimensão humana.
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