Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
A escassos dias do início do Campeonato do Mundo de Futebol no Catar (a famosa grande potência futebolística do planeta…) acentua-se o sentimento geral de que – apreendido e explorado por uma extensa rede de corruptores – o popular e excitante jogo se afundou na mais vil das vergonhas, com a única finalidade de servir e promover um país onde, como é sabido, os direitos humanos fundamentais não são integralmente respeitados.
Os artistas da bola vão jogar em relvados de estádios bem espectaculares, cuja construção custou a vida de vários milhares de trabalhadores emigrantes barbaramente escravizados. Segundo denunciado pela imprensa internacional, mais de 6.500 homens recrutados na Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka morreram nas obras de construção dos estádios e outras infra-estruturas relacionadas com o Mundial, sem que as suas famílias recebessem qualquer tipo de indemnização, com o argumento de as fatalidades terem sido, oficial (e manhosamente) atribuídas a ”causas naturais"…
Como é por demais evidente, tão chocante tragédia humana deriva da vasta corrupção mundialmente organizada, que, envolvendo pessoalmente os então presidentes da FIFA e da UEFA, possibilitou a atribuição ao Catar do Campeonato Mundial de 2022. Segundo o “New York Times”, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos terá concluído, após anos de pesquisa, que – a exemplo da Rússia, em 2018, usando a sua poderosa empresa estatal Gazprom, cujo presidente era simultaneamente vice-presidente da FIFA – também o Catar subornara os principais dirigentes do organismo que assume a superintendência do futebol mundial a fim de garantir a vitória na votação para acolher o Campeonato de 2022.
As grandes suspeitas de corrupção remontam, porém, a 2015, quando sete dirigentes da FIFA foram detidos na sequência de uma investigação que foi então iniciada pelo FBI, que conduziu seguidamente à queda de todos os 22 mais altos cargos do organismo máximo do futebol mundial, acusados de ”lavagem de dinheiro, subornos e más práticas em geral” e que culminou posteriormente na demissão do seu presidente, o suíço Sepp Blatter, que apoiou empenhadamente a candidatura do Catar – mas que agora, passados doze anos, considera publicamente “um erro” a realização do Campeonato do Mundo naquele país…
Também apanhado pelo turbilhão, o presidente da UEFA, Michel Platini, antigo ídolo do futebol francês, foi posteriormente suspenso por suspeita de negócios obscuros com o seu amigo Blatter e de intervenção directa na compra do Paris Saint-Germain pelo Governo do Catar, considerada como uma justa compensação pelo seu papel activo na atribuição do Mundial de 2022.
É, pois, neste clima alta e grosseiramente degradante, manchado de trafulhice, tragédia e desumanidade, sem mesmo nada de comum com desporto, ofendendo irremediavelmente o futebol que é tão amado por multidões de todo o universo, que os jogadores dos países qualificados se irão confrontar dentro de dias nos estádios do Catar.
Quanto pesará a sua consciência?
Texto da autoria do nosso colaborador Leão da Guia
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.