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Bruno de Carvalho e a decadência de uma Nação.

 

A história política europeia do século XX, ensinou-nos que a atracção das massas em torno de um líder fundamenta-se pela presença de dois factores primordiais – a tão sedutora natureza contestatária implícita à acção do próprio líder, como a deliberação de discursos de charme ideológico, onde o líder se associa per si aos mentores dos maiores feitos da própria Nação, intimamente conotados com um saudoso heroísmo perdido no tempo. Isto prova-nos, de facto, que as massas mobilizam-se infelizmente, por conversa revolucionária pouco concreta no ultrapassar de crises, mas generosa com o mais simplório sentimento de orgulho ferido.

 

Na década de 70, um Portugal demasiado absorvido pelo imperialismo lidava com uma taxa de analfabetismo na ordem dos 25%, onde contudo, persistiam pensadores e idealistas que combatiam pela liberdade e auto-determinação intelectual. Hoje, em contraste com os 44 anos posteriores à Revolução de Abril, apenas 40% do eleitorado manifesta interesse em exercer o direito de voto, expondo deste modo a decadência social de um Povo que despreza o maior avanço cívico conquistado na sua história moderna. No Futebol português, porventura o refúgio dos restantes 60%, aceita-se o retrocesso intelectual como parte integrante da paixão que se sente pelo Clube. Dizem eles, os Adeptos, que sem paixão não existe Futebol, como quem aceita a irracionalidade como um mal necessário. Isto explica-nos a razão pela qual a mentalidade neomarxista do actual Presidente do Sporting é tão bem aceite pelos Adeptos. No fundo, o Mundo mudou desde a desintegração da URSS ou após a queda do Muro de Berlim. Mas não na mente dos Adeptos do Sporting.

 

Roquette e Marquês do Pombal, os piores de Portugal.

 

O Sporting é, entre os três Grandes e por diversas razões, o Clube mais instável na sua relação com o meio onde se integra. Uma das suas maiores vulnerabilidades prende-se efectivamente com a disjunção entre o seu ideal ecléctico civilizado e a paixão totalitarista do adepto cristalizado apenas pela doutrina do Futebol. Sejamos realistas – quando instados por Santana Lopes a pronunciarem-se pela continuidade das modalidades, o próprios sócios entregaram de bandeja o ecletismo ao vaso sanitário. Incrivelmente, ou não, anos mais tarde seriam os mesmos Sócios a culpar… Roquette (!) pela extinção das Modalidades. A mesma dificuldade em lidar com os factos assiste de igual modo, ao actual Presidente. Aparentemente, José Roquette é culpado de tudo o que este País tem de mal, como pela “destruição” do Sporting. Se o Leitor aceita essa tese de olhos fechados, então evite ler o resto do texto.

 

Bruno de Carvalho utiliza no seu discurso (de modo brilhante, pensará ele) uma personificação percursora de João Rocha, conotando-se por diversas vezes à visão do antigo Presidente, sem pudor nem preconceitos. Acredita que João Rocha estará a olhar por ele, numa estranha relação de Pai para Filho que Carvalho nunca teve, nem com Rocha nem com Aragão Pinto. Na verdade, e até hoje, Bruno de Carvalho apenas cometeu os mesmos erros do antigo Presidente. À conveniência de associar os títulos internacionais nas modalidades nesta actual Direcção, ainda longe de comparada sequer à Presidência de Sousa Cintra, Bruno de Carvalho goza do privilégio de ter Jesus oferecido de bandeja pelo Rival como pela solvabilidade oferecida pela Banca. Um contrato oferecido pela NOS onde cedeu estupidamente a soldo todas as principais receitas comerciais do Sporting a 12 anos para financiar o futebol, não disfarça sequer a sofrível dificuldade em angariar parceiros de renome para o Clube – Macron, MaloClinic, TelePizza, Bom Petisco e Espaço Casa, entre os de maior prestígio… Pior, a falta de vergonha em se associar a um monumento edificado por si em homenagem ao Clube, quando pouco ou nada provou, ainda, de sua exclusiva autoria, nos destinos do Sporting.

 

Bruno de Carvalho, ou a falta de ensino básico.

 

Se Bruno de Carvalho pretende inscrever-se na história do Sporting como um novo “Rocha”, então talvez precise de estudar mesmo um pouco de História. A longa presidência de João Rocha associa o Sporting ao seu maior legado desportivo, irrepetível até hoje, tanto quanto ao seu primeiro grande buraco financeiro. Rocha foi colocado no Sporting por ingerência de um Comité criado em finais de 60 e composto por diversas personalidades influentes não apenas no Clube como no próprio regime político de então, tanto quanto na diáspora económica privada do País – o Conselho Leonino. Cedo João Rocha pretendeu virar costas a toda a estrutura para se tornar “o Boss” totalitário, como o próprio se descrevia. Um erro de estratégia, talvez por deslumbramento, que lhe custou uma guerra com o próprio órgão que o tinha eleito. Por consequência, cria-se a primeira guerra dentro do Clube, durante anos pouco visível fora de portas, mas que viria a culminar com a expulsão de Rocha do próprio Conselho Leonino, anos mais tarde. 

 

O sucesso do seu projecto “Clube completo” dependeria de uma Sociedade Comercial (idealizada pelo vice Roquette, pasme-se), algo que nunca avançou por consequência de uma série de cisões que o próprio Rocha impôs – o 25 de Abril de 74 teria sido menos influente no desenrolar desta questão, se Rocha não se mostrasse intransigente perante alguns Vices. A manutenção de todas as Modalidades afectas ao Clube naquele período, representavam um pesado encargo que obrigava a uma dissociação de investimento no Futebol – um dos motivos que dificultou, entre outras questões, a permanência de Yazalde em Alvalade. João Rocha é hoje visto como um exemplo, mas será justo questionar: o que deixou João Rocha para governar, quando abandonou a Presidência? A resposta é simples: deixou a porta aberta para os bolcheviques Gonçalves e Sintra.

 

A História mostra, ensina e explica. As Presidências a que temos assistido no Sporting, nomeadamente aquelas que têm gozado de maior empatia para com os Adeptos, manifestam-se viciadas em dinâmicas que serpenteiam sobre si próprias, sem destino de fuga possível. Demasiado circunscritas à acção do próprio mandato e do autoritarismo presidencialista, muito pouco sustentáveis não apenas para futuras Direcções como para o próprio futuro do Sporting, resultam no óbvio – cada vez que um Presidente cai, fica um irremediável vazio no Clube. Roquette foi o único Presidente a promover no Sporting uma separação de poderes e responsabilização de competências, talvez porque nunca tivesse precisado do futebol para ser alguém na vida. E ainda se atrevem a dizer que representa o pior de um País?

 

publicado às 10:01

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1 comentário

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De José Coelho a 21.02.2018 às 11:05

Sr. Drake Wilson, faltou referir no seu longo artigo, no que diz respeito ao Sr. João Rocha, que quando foi convidado para ser presidente do Sporting, também o tinha sido para a presidência de um clube do seu distrito de origem. Como se sabe JR era natural de Azeitão, mais propriamente Aldeia de Irmãos. Optou pelo SCP, do qual em tempos tinha sido sócio e, na minha opinião tornou-se, dos que me lembro, o melhor presidente do Clube. Para além do que fez nas modalidades amadoras, (por ex., só a ginástica tinha 4 mil atletas, que originava um rendimento avultado), muito contribuiu monetariamente para o clube e quando saiu o Sporting era um clube sem dívidas, antes pelo contrário.
O Sr. B. Carvalho nada tem a ver com J. Rocha. A não ser ter dado ao pavilhão desportivo o nome do antigo presidente. Basta ter em conta que com as VMOCs conseguiu adiar uma dívida de milhões que não se sabe como será paga quando chegar o prazo final; a SAD já tem Sobrinho com 30%, segundo os jornais, como acionista. Ficará por aqui? A Academia em Alcochete já não é do clube; do imobiliário que circunda, passe a expressão, o Estádio o que é que ainda pertence ao Clube? O negócio com a NOS, dizem que foi um "GRANDE NEGÓCIO", a 12 anos do qual o Clube já recebeu avultadas verbas; e quando já não houver verbas para receber?
Os presidentes são voláteis. O SCP é eterno!

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